Artur de Sousa (Pinga)

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hast

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Data de nascimento: Funchal, 30 de Setembro de 1909
Faleceu no Porto a 12 de Julho de 1963
Naturalidade: Funchal
Filiação: Manuel de Sousa e Virgília de Sousa
Clubes representados: Marítimo e FC Porto
Internacionalizações: 23
estreia: 0-1 Espanha -Campo do Ameal (Porto) - 30 Novembro 1930
Última participação na selecção: 1942-01-01
posição: Interior esquerdo, ponta-de-lança
Golos: 8
Palmarés: Campeão da Liga 3 x
Campeão Nacional 2
Campeão de Portugal 1
Campeão do Porto 13
Campeão do Funchal 3
Particularidades: 25 jogos pela A.F.Porto
3 jogos pela A.F.Funchal
Jogos: 400
Golos: 394
Treinador: Tirsense, Sanjoanense, Gouveia, (equipa técnica dos juvenis
do FC Porto)

«Talvez o maior talento de jogador do nosso futebol, um jogador fulgurantíssimo, verdadeiramente genial», escrevia Cândido de Oliveira no jornal «A Bola», em Abril de 1945.

Pinga, vindo da Madeira, interior esquerdo do FC Porto de 1930/31 a Julho de 1946, tinha reunidas em si todas as características dos maiores jogadores de futebol: atacava e defendia, fantástico domínio de bola, exímio na finta, remate fortíssimo.
Pinga encantava portistas, pasmou os adversários durante 16 anos.

Quando em Julho de 46, teve a sua festa de despedida, o Estádio do Lima foi um mar de lágrimas com um delirante estrugido de palmas num jogo do FC Porto com uma selecção dos melhores de Portugal: Azevedo, Cardoso e Feliciano; Amaro, Francisco Ferreira e Serafim; Espírito Santo, Alberto Gomes, Peyroteo, José Pedro e João Cruz.
Sporting, Benfica, Belenenses e Académica estavam ali com os melhores na homenagem a Pinga, todos eles também envolvidos numa emoção colectiva.

Pinga internacional aos 21 anos, num jogo com a Espanha, logo aí os espanhóis se desfizeram em elogios pela sua brilhante actuação.

Em 31/32 o Porto é campeão de Portugal. Nas meias-finais, num FC Porto 3-0 Benfica, o cronista da «Stadium» escreveu: «Agrada registar, como exemplo e motivo de louvor, a forma de Pinga actuar. É o homem que nunca pára. Que está na defesa e sempre no ataque. Que dribla, intercepta e passa... nunca cometendo violências. Pinga representa o jogador completo: à mestria da técnica, alia a maneira mais elegante de jogar.»

O árbitro espanhol, Ramon Melcon, ao dirigir a finalíssima Porto 2-1 Belenenses, em 1932, ficou maravilhado cm a actuação de Pinga.

Os «três diabos do meio-dia»

Foi no Natal de 1933. O FC Porto vencera a selecção de Budapeste por 7-4. Oito dias depois, um deslumbramento: 3-0 à equipa-maravilha da Europa, o First de Viena, num jogo realizado à hora do almoço.

Pinga, o maestro, Valdemar Mota e Acácio Mesquita desorientaram e humilharam a melhor equipa europeia que usou de excessiva dureza ao ver-se derrotada.
Pinga, Valdemar e Acácio, foi tal o entendimento e a exibição, que ficaram para sempre os «três diabos do meio-dia».

Se pudéssemos juntar no tempo oAzevedo, o Ricardo Carvalho, o Eusébio, o Peyroteo, o Hernâni, o Futre... íamos formando a equipa-maravilha de Portugal, não os «três do meio-dia», mas os «onze diabos de todas as horas».
 

ssm

Bancada central
6 Maio 2007
2,088
0
Está tudo muito certo, mas misturar mouralhada -eusebios, peyroteos e companhia - é que me parece de mau gosto.
Não sabia que o Pinga era madeirense.lol
 
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hast

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Quando Miguel Siska assumiu o comando da equipa técnica do F. C. Porto, em finais dos anos 20, não escondeu as ambições: queria, como treinador, ganhar pelo menos tudo aquilo que ganhara como jogador. Viera da Hungria para o Porto. Com um contrato secreto. Em Budapeste era mecânico dentista, no Porto fizeram dele... mecânico de uma empresa de vinho do Porto. Só para português ver.
Foi Siska quem moveu esforços no sentido de trazer Josef Szabo do Funchal para a cidade e para o clube a que já se devotara. Com Szabo veio um jogador que espalhara o perfume do seu futebol pela Madeira. Tinha como apodo... Pinga. Que era coisa que já lhe vinha do pai. Chegou, abrupta e timidamente, ao Porto a dois dias do Natal de 1930. Não demoraria muito a revelar os seus atributos: fazia o que queria da bola, como verdadeiro virtuose do esférico, hábil em fintas e malandrices para ilaquear defesas, chutador portentíssimo. Era um diamante ainda por lapidar. Szabo falou do seu génio com tal paixão que os dirigentes do F. C. Porto até ousaram entrar por caminhos espúrios para garantir mais cedo a sua ligação ao clube. Para má sorte do Marítimo.
A propósito disso haveria de escrever-se numa das primeiras edições de 1930 da revista Stadium: «Sousa deixou de jogar no Marítimo para ficar no Porto. E vale dizer aqui que foi necessário fazerem-se umas falsificaçõezinhas, umas tratantadazitas para ele começar desde logo a exercer a sua acção de esplêndido jogador. Uma troca de retratos... umas malandrices na Associação... E aquela carta lavrada no livro da Associação em que, constatando-se que Pinga estava preso pelo Funchal, lhe era vedado jogar no Porto mas, por interferência de alguém que apareceu um dia, depois foi dada como não existindo pelos mesmos directores que, transigindo, lapisaram-na e Pinga já jogou? Oh! A Associação de Futebol do Porto é fértil em mistérios»...
Pinga passou a receber 500 escudos por mês, pagos, secretamente, por baixo da mesa. Para manter as aparências deveria fingir que trabalhava na fábrica de Sebastião Ferreira Mendes, que não muito depois chegaria a presidente do F. C. Porto. Foi esse dinheiro grande que venceu o único empeço que trazia no peito: as saudades da mãe, que ficara no Funchal. E, fulgurantemente, tornou-se a estrela da companhia, ofuscando mesmo Valdemar Mota — que algum tempo antes contracenara com Beatriz Costa num dos primeiros filmes produzidos em Portugal e que era mais que um ex-líbris do F. C. Porto por ter sido o seu único jogador a disputar os Jogos Olímpicos de Amesterdão. Sem espanto, estreou-se na Selecção Nacional, no Ameal, em 1930. Contra a Espanha. Com uma derrota (0-1). Mas os espanhóis ficaram embasbacados com aquele português tão novinho e com tanto talento. Da Selecção só sairia em 1942. Contra a Suíça. Já como capitão de equipa. E no Porto foi ganhando tudo o que havia para ganhar na região e algo mais no País...
Em 1946, regressou Szabo ao F. C. Porto. Aceitou receber 1500 escudos por mês para recolocar o clube no trilho da vitória. Na esperança de que fosse o milagreiro que sebastianicamente se esperava. Pinga era já estrela em ocaso... Em Outubro de 1945 tivera de sujeitar-se a uma então complicadíssima operação ao menisco, sendo dos primeiros (senão o primeiro...) futebolistas portugueses a fazê-la, colocando, a caminho da banca do cirurgião, a possibilidade de não mais voltar a jogar futebol. E já com saudades do futuro lamentou que o futebol estivesse a perder o encanto do malabarismo que fora sempre o seu trunfo principal, considerando que havia internacionais que mal sabiam dar um pontapé numa bola. Mas o mito criara-se e desenvolvera-se. Nostalgicamente, portistas que ainda rezavam pelo seu regresso defendiam que o futuro estádio do F. C. Porto deveria chamar-se Artur de Sousa (Pinga).
Com 36 anos, ainda voltaria a jogar. Não por muito tempo. Pouco depois era o adeus, em definitivo, de um dos três Diabos do meio-dia, apodo que ficara do tempo em que o F. C. Porto, jogando contra o First de Viena, então considerada a equipa-maravilha da Europa, à hora do almoço, por conveniências (?!) de organização, Pinga, Valdemar e Acácio Mesquita maravilharam o público, destroçando o adversário austríaco, ganhando-lhe. Diabólicos aqueles três internacionais do F. C. Porto. A bola brincava entre os três de campo a campo. Por isso Rodrigues Teles lhes chamou assim — os três Diabos do meio-dia. Sobre isso e sobre a maravilhosa tríade diria Pinga, na véspera da sua despedida como jogador de futebol: «Nós os três... Aquilo é que era jogar... Que desculpem a vaidade, mas parece--me que nunca mais se arranjam três rapazes da bola tão intimamente ligados a acertar na borracha. Se até nós, às vezes, nem sabíamos como aquilo era...»

Saudades
PingaEm 1933, perdido o título de campeões de Portugal, os dirigentes do F. C. Porto decidiram remoçar a equipa, pescando no Boavista. Para isso ofereceram 800 escudos por mês a Carlos Pereira, Castro e Vasco. Pinga sentiu-se injustiçado. Mas o seu orgulho próprio fê-lo sofrer em silêncio. Se ao menos lhe pagassem 1000 escudos por mês! Mas o que mais o revoltou foi nem sequer terem tido uma palavra para com ele. Ressentido, fez as malas, comprou bilhete para Lisboa, para regressar, secretamente, à Madeira — ou, se calhar, tentar aventura no Brasil. Ninguém soube bem porquê, dirigentes do F. C. Porto aperceberam-se da debandada.
De escantilhão, correram para a estação de São Bento. Pinga disse-lhes que eram as saudades da mãe e da ilha apertando de novo... Eles retorquiram que passariam a pagar-lhe 800 escudos por mês. Pinga rasgou o bilhete. Os outros sorriram... E para evitar outros eventuais transtornos o ordenado foi-lhe sendo aumentado todos os anos. Substancialmente.

Com Pinga de vergonha

Em 1937, Pinga era, naturalmente, o jogador mais bem pago do F. C. Porto. Ganhava 1500 escudos por mês. No Sporting, Peyroteo cobrava pela metade. Os ordenados de todos os jogadores portistas rondavam, anualmente, os 166 contos. Nesse ano o F. C. Porto voltou a ganhar o Campeonato de Portugal, num jogo em Coimbra, que foi como que uma vingança pela fuga de... Szabo, então treinador leonino. No ano seguinte, depois de vencerem o Benfica, na Constituição, por 4-2, os portistas perderam, nas Amoreiras, com os benfiquistas de Ribeiro dos Reis por... 0-7. A Direcção do F. C. Porto, sentindo-se humilhada, decidiu fazer de três jogadores bodes expiatórios. Um deles era Pinga, acusado precisamente de não ter suado a camisola que vestia. Ele que era incapaz de fazê-lo, ele que jogava sempre com o coração acima do génio!
Na cidade gerou-se uma onda tal de solidariedade que... Carlos Costa, presidente portista, teve de dar o dito por não dito, amansando, assim, o seu instinto quixotesco de justiça. Afinal aquilo não fora mais que o último reflexo do F. C. Porto a resvalar para o abismo, com um défice que já ultrapassava os 200 contos, telefones cortados, balneários sem água. Para Pinga foram dias terríveis. Escondeu-se na sua casa da Boa Hora, evitando até aqueles banhos de multidão que ele adorava, sobretudo entre as meninas da terra, que o consideravam o mais simpático e galante jogador do Mundo. É que Pinga tinha tanto de génio como de sentimental — e uma beliscadura na sua honra era, para si, pior que uma punhalada nas costas. E ele sabia que aquela suspensão era ainda mais do que isso. Mas passou depressa e o presidente acabou mesmo por se imolar no fogo que ateara. E Pinga continuou a ser Pinga...

As lágrimas em Pinga

A 7 de Julho de 1946 a festa de despedida de Pinga. Chorou-se de emoção quando ele, lágrimas nos olhos, verdadeiramente sucumbido em presença da manifestação que lhe fora prestada, abandonou o Estádio do Lima. Ninguém resistiu. Estrugiram as palmas. Pinga sem conseguir falar para agradecer, sem forças para se retirar do campo — e o público de pé, galvanizado, acenando-lhe com lenços, gritando o seu nome, embora muitas das gargantas estivessem abafadas por soluços. Nunca o Porto vivera momentos assim — e nunca mais viveria... A saudade tudo abafava. E quando Pinga deixou o relvado o jogo entre o F. C. Porto e a Selecção Nacional perdeu todo o sentido...
Logo após a despedida, Pinga tornou-se treinador do Tirsense — não foi preciso esperar muito para viver um momento de glória como os que vivera como jogador, ao eliminar o Sporting dos violinos da Taça de Portugal. Foi tal o choque entre os lisboetas que protestaram o jogo com o peregrino argumento de que o campo era a... descer!!!
Por essa altura ainda Cândido de Oliveira tinha dúvidas sobre quem fora o maior jogador português de todos os tempos: se Pinga, se Artur José Pereira, o ás dos anos 20. De Pinga escreveu num estudo publicado em A BOLA em Abril de 1945: «Artur de Sousa foi um jogador fulgurantíssimo — verdadeiramente genial. Talvez o maior talento de jogador do nosso futebol. Tudo nele era prodigioso: a concepção, como a execução; a imaginação viva e riquíssima marcada na escolha do lance ou do toque subtil, ou a finta intencional e preconcebida, ou no pormenor em que revelava a sua grande inteligência prática, o profundo e exacto conhecimento do jogo e dos jogadores e até sentido artístico — de verdadeiro artista do futebol.»
O fascínio manteve-se pelo tempo. Por isso, quando foi convidado para treinador do F. C. Porto, Cândido fez questão de ter como seu adjunto Pinga. Pinga regressou para não mais deixar o clube que lhe conquistara o coração. Quando Cândido partiu tomou conta das classes mais jovens. Foi fazendo obra. Ensinando o seu génio. Mas estava já minado pela doença. Morreria em 1963, vítima de cirrose — porque o vinho, se pode ser o néctar dos deuses também pode ser a perdição dos génios. Como Pinga.
 
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hast

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O extraordinário pé esquerdo de Artur de Sousa era letal. Com ele desfeiteava guarda-redes, estonteava adversários, libertava companheiros de equipa e alegrava o público que corria aos estádios para o ver. Nascido na Madeira, que não tem sido grande fornecedora de jogadores para a Selecção Nacional, foi no Marítimo que se tornou famoso e foi com ainda como jogador dos madeirenses que conquistou a sua primeira «internacionalização». Estávamos em 1930, e Pinga manter-se-ia como um dos favoritos dos seleccionadores durante doze anos.
A sua transferência para o FC Porto foi eivada de problemas. De um lado e do outro choveram acusações, as mais graves vindas dos dirigentes do Marítimo que acusaram os seus homólogos do FC Porto de falsificação de documentos. A sua ambientação à cidade do Porto também levou o seu tempo e foi tudo menos fácil. Mas o seu estilo de jogo era apaixonante e cativava os adeptos. Pinga tornou-se, rapidamente, numa das mais queridas personagens do FC Porto, num dos jogadores que mais profundamente entrou no coração dos adeptos «azuis e brancos». Os golos ajudavam: nos primeiros 50 jogos pelo FC Porto para a então denominada I Liga fez 50 golos.
Durante alguns anos, Pinga foi considerado pela crítica como o melhor futebolista português. Não admira, por isso, a importância que tinha na Selecção Nacional, nesse tempo já capaz de bater algumas selecções de categoria, como a Bélgica, a Jugoslávia ou a Hungria, mas ainda muito marcada pela incapacidade de bater a vizinha Espanha, o «fantasma negro» da equipa das quinas. Artur de Sousa esteve naquela jornada inglória que marcou a estreia de Portugal em jogos para o Campeonato do Mundo (uma dolorosa goleada em Madrid, por 0-9, em 1934, na fase preliminar), mas também foi o herói do empate (3-3) obtido um ano depois, em Lisboa, marcando dois golos. Só com a chegada de Travaços, uns anos depois da sua despedida, frente à Suíça, Portugal voltou a ter um interior-esquerdo da sua craveira.
Aos 36 anos, Pinga foi pioneiro nas operações ao menisco em Portugal. Ao contrário do que hoje acontece, a intervenção era complicada e a recuperação lenta e cheia de sacrifícios. Ao fim de um ano de tormento, Artur de Sousa, o Pinga, abandonava os relvados e o FC Porto sentia-se órfão de um dos maiores talentos que vestiram a sua camisola. Seria ainda treinador, conduziria o Tirsense a uma estrondosa vitória sobre o Sporting dos «Cinco Violinos», para a Taça de Portugal, e viria a morrer minado pela depressão e pelo álcool.
 
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hast

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O centenário de um craque imortalizado
Artur de Sousa \"Pinga\" completaria hoje o centésimo aniversário e o F. C. Porto assinala a efeméride recordando aquele que muitos evocam como \"o melhor jogador\" da história do futebol português, perdido nos efémeros tempos da Rádio
Qual Peyroteo, qual Hernâni? E nem Eusébio, nem Futre, nem Figo, nem Cristiano Ronaldo... Artur de Sousa \"Pinga\", craque do F. C. Porto nos anos 1930 e 1940, foi o maior de todos. Mas, por mais que se busque no Youtube, não há maneira de se encontrar um videozinho que seja para comprovar a convicção dos adeptos mais velhos, que o viram jogar na Constituição ou no Ameal e que se deliciaram com o maior talento dos primórdios do futebol português, perdido nos efémeros tempos da Rádio. Mas a injustiça do que será a extemporaneidade de um futebolista genial só enriquece ainda mais o imaginário e o enredo épico de Pinga. Se fosse vivo, um dos maiores símbolos da antologia portista celebraria, hoje, o centésimo aniversário. O F. C. Porto assinala a efeméride, com um rebusco ao baú das memórias.
Artur de Sousa \"Pinga\" não morreu em 12 de Julho de 1963, ainda antes de completar 53 anos. Só foi vencido pelo álcool e pela cirrose, segundo contam os registos da época, mas a obra do futebolista, tão vasta e valiosa, imortaliza-o entre os melhores de todos os tempos. O melhor de todos, sem rival à altura, juram os mais velhos. \"Foi um jogador fulgurantíssimo - verdadeiramente genial. Talvez o maior talento de jogador do nosso futebol. Tudo nele era prodigioso: a concepção, como a execução; a imaginação viva e riquíssima marcada na escolha do lance ou do toque subtil, ou a finta intencional e preconcebida, ou no pormenor em que revelava a sua grande inteligência prática, o profundo e exacto conhecimento do jogo e dos jogadores e até sentido artístico - de verdadeiro artista do futebol\", escreveu Cândido de Oliveira, em Abril de 1945.
O elogio, nas colunas do jornal \"A Bola\", soava já a homenagem jubilar à carreira de Pinga. Um ano depois, a 7 de Junho de 1946, nos relvado do Estádio do Lima, o craque de 37 anos teve o jogo de despedida. Saiu a chorar, sob os aplausos do público e aos ombros dos colegas do F.C. Porto e dos da selecção nacional que lhe prestaram o tributo.
Para trás, tinham ficado 400 jogos e 394 golos, um turbilhão de fogo nascido na natureza vulcânica da Madeira (30 de Setembro de 1909), revelado no Marítimo e explodido no F. C. Porto, onde chegou a 23 de Dezembro de 1930, aos 21 anos, atraído por um principesco salário de 800 escudos. Pinga singrou e depressa passou a ser o ídolo da Constituição, entre pares como Costuras, Correia Dias, Valdemar Mota ou Acácio Mesquita. E foi muito à custa das geniais jogadas e dos golos do avançado madeirense que o F. C. Porto venceu o primeiro campeonato português como o conhecemos nos moldes actuais, em 1934/35. Ganhou mais dois títulos, em 1939 e 1940, e representou a selecção em 23 ocasiões (oito golos).
Após pendurar as chuteiras, foi treinador da Sanjoanense, do Gouveia e do Tirsense. Fora dos relvados, sucumbiu novo, aos 53 anos, vítima de um quotidiano de tontura, afinal a mesma vertigem que fez dele um craque imortal.
«JN»
 
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hast

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30/09/2009
Pinga nasceu há um século

Artur de Sousa nasceu há 100 anos na Madeira. O futebol e a memória portista perpetuam-no como Pinga, craque de excepção, referência dos anos 30 e 40 e encantador das plateias da Constituição e do Lima. O www.fcporto.pt recorda a história da lenda madeirense, recuperando um texto da edição de Fevereiro de 2008 da revista Dragões. Inesquecível.

Pinga – Um dos «três diabos do meio-dia»

Nasceu a 30 de Setembro de 1909. Madeirense. Aos 18 anos era titular do Marítimo, revelando-se um esquerdino de excepcional talento. Ainda não tinha 21 quando, a 23 de Junho de 1930, seleccionado para representar o Funchal frente ao Porto (cidade), se exibiu no desaparecido Estádio do Lima. O Porto venceu o Funchal por 3-1, mas quem encantou a plateia foi um tal Artur de Sousa, de alcunha «Pinga».

Olheiro atento, o FC Porto tentou desde logo contratá-lo. «Pinga» deu nega. Alegando saudades da sua ilha e a oposição da mãe, regressou à Madeira. Uma estadia curta porquanto um desentendimento com dirigentes do seu clube levou-o a «exilar-se» durante cinco meses no União Micaelense cujas cores passou a defender.

Não tardou, porém, que «Pinga» fosse, pelo seu engenho e arte, obrigado a voltar ao Porto. Já não para um entretido jogo intercidades, mas para envergar pela primeira vez a camisola das quinas e logo num dos «derbies» internacionais mais apetecidos – um Portugal/Espanha. O oitavo da série que marcava também a estreia na selecção dos portistas Castro e Álvaro Pereira, apadrinhados pelos seus colegas de emblema Avelino Martins e Valdemar Mota.

Amputada de jogadores sob a jurisdição de uma amuada Associação de Futebol de Lisboa, que os impediu de aceitarem qualquer possível convocatória (Carlos Alves, do Carcavelinhos, foi o único que furou o «bloqueio») a selecção nacional de Portugal, a actuar na então sala de visitas do Porto – o Campo do Ameal – viria a perder por 1-0.

Para que conste e se registe, anote o leitor a data do encontro – 30 de Novembro de 1930 – e o nome dos eleitos pela dupla técnica da Federação Portuguesa de Futebol, Laurindo Grijó e Augusto Pedrosa: Artur Augusto (V. Setúbal); Carlos Alves (Carcavelinhos), Avelino Martins (FC Porto), Raul Alexandre (V. Setúbal), Álvaro Pina (Barreirense), Álvaro Pereira (FC Porto), Valdemar Mota (FC Porto), João dos Santos (V. Setúbal), «Pinga» (Marítimo), Armando Martins (V. Setúbal) e Francisco Castro (FC Porto). Arbitrou um belga de nome Baert e o golo teve o selo de Peña, companheiro de luta de Blasco; Ciriaco, Quincoces, Prats, Guzman, Lafuentes, Regueira, Goiburu, Chirri e Corostiza.

Adiante. Voltemos ao «Pinga» e ao Futebol Clube do Porto. Eram, por esta altura, presidente do nosso clube Dumont Villares e treinador Joseph Szalo.

Eduardo Dumont Villares, o Presidente, primo do pioneiro da aviação brasileira Santos Dumont e um dos primeiros 100 sócios da «refundação» do clube em 1906, havia sido um eclético desportista (campeão na natação, no ténis e no futebol integrando o onze que, no Campo da Rainha, defrontou o Real Fortuna de Vigo naquele que foi o primeiro jogo internacional entre clubes efectuado no nosso país) e o primeiro Presidente da Assembleia Geral do Clube.

Joseph Szabo, o treinador, era húngaro, havia encantado os adeptos aquando da digressão do Szombately pelo nosso país e fora descoberto, também na Madeira, onde jogava e treinava o Nacional da Madeira.

Conhecedores profundos do que era «fantasia» e «ouro de lei», presidente e treinador que sempre tiveram, desde o «intercidades», «Pinga» debaixo de olho, entenderam que esta sua nova vinda ao Porto era o momento certo para o tudo ou nada. A hora exacta para um ataque decisivo.

O parto foi difícil, mas desta vez com êxito. Estava escrito que as cores da sua camisola de glória seriam o azul e branco do FC Porto.

«Pinga» assinou a 23 de Dezembro de 1930 e a 25, dia de Natal, estreava-se no Campo da Constituição, frente ao Salgueiros, contribuindo para uma copiosa vitória (9-2 para uns, 10-2 para outros), bem mais fácil do que aquela que, três dias depois seria conseguida, no mesmo palco, frente ao Eirinãs FC de Pontevedra (3-2). Estava dado o pontapé de saída para uma carreira de sucesso que o haveria de guindar a um plano ímpar no futebol nacional.

Durante 16 anos esteve «Pinga» ao serviço do FC Porto e 12 ao da selecção nacional. Pelo seu clube participou em 400 jogos e marcou 394 golos. Por Portugal foi 23 vezes internacional (Espanha 11, Suíça 4, Alemanha e Hungria 2, Itália, Bélgica, Áustria e Jugoslávia 1) e marcou 8 golos (3 à Espanha, 1 à Jugoslávia, Suiça, Alemanha, Bélgica e Hungria). No seu último jogo pela selecção, a 1 de Janeiro de 1942, no Estádio José Manuel Soares, em Lisboa, defrontou e venceu a Suiça. O seleccionador de então, Cândido de Oliveira, entregou-lhe a braçadeira de capitão e, curiosamente, não teve a companhia de nenhum dos seus padrinhos do baptismo internacional doze anos antes – era ele o único sobrevivente de uma selecção que tinha agora como guarda-redes António Martins (Benfica); na defesa Gaspar Pinto (Benfica) e Álvaro Cardoso (Sporting); no trio do meio campo Mariano Amaro (Belenenses), Carlos Pereira (FC Porto) e Francisco Ferreira (Benfica); dispondo na frente de ataque da companhia de Adolfo Mourão, Fernando Peyroteo, João Cruz (Sporting) e Alberto Gomes (Académica).

«Pinga» foi, pelo FC Porto, duas vezes campeão nacional, três campeão da Liga e por uma vez campeão de Portugal. Por vinte e cinco vezes representou a Associação de Futebol do Porto, por outras tantas representara a Associação de Futebol da Madeira, e por três vezes foi campeão do Funchal pelo Marítimo.

A 7 de Julho de 1946 despediu-se, como jogador, dos campos de futebol. O Estádio do Lima encheu-se para presenciar um festival que contou com um desfile em que tomaram parte mais de 500 atletas de dezenas de colectividades, com um jogo em que o FC Porto venceu um «Misto Nacional» (de cuja composição não encontramos registo) por 5-4 e teve como ponto alto o momento em que o Governador Civil do Porto condecorou «Pinga» com a Medalha de Ouro da Federação Portuguesa de Futebol.

Quando, depois de ter treinado a Sanjoanense, o Tirsense e o Gouveia, trabalhava nos infantis do FC Porto e iria passar a coadjuvar mestre Artur Baeta na equipa júnior, a morte levou-o.

Eram 13 horas e 40 minutos do dia 12 de Julho de 1963. Internado três dias antes, sucumbiu às malfeitas que, já há anos, o atormentavam – cirrose e úlcera gástrica. Era o desaparecimento de uma gloria do futebol nacional, da «1ª legenda do futebol portista» (como pode ler-se nos «100 anos de História» de Álvaro Magalhães e Manuel Dias), daquele «interior-esquerdo-patrão-da-equipa» que constituiu, com Valdemar Mota e Acacio Mesquita, o famoso trio atacante azul e branco popularizado ad eternum como «OS TRÊS DIABOS DO MEIO DIA».

Luis César

in «fcporto.pt»
 

Drakonyaz

Tribuna
18 Julho 2006
2,557
2
Câmara de Lobos, 1975
Porto oferece bota de Pinga

\"...O Marítimo solicitou as botas de Pinga, que se encontram no museu do FC Porto, mas foi Manuel António a resolver o impasse criado por esse pedido conforme revelou o próprio Carlos Pereira. \"Tínhamos já solicitado, mas Manuel António teve a feliz ideia de sugerir que uma bota do Pinga ficava no museu do Porto e outra cá\". O Porto concordou e Carlos Pereira agradeceu. \"É uma belíssima prenda do Porto de um jogador que foi uma lenda. É uma honra ter um objecto que contribuiu para o sucesso do atleta madeirense mais emblemático de todos até aparecer Cristiano Ronaldo...\"


Edmar Fernandes, in Diário de Noticias da Madeira, 09-11-2009
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
16
Obrigado hast pela bonita homenagem aquele que foi um dos grandes idolos do meu pai e que eu aprendi com ele a respeitar!Pinga tal como Acácio Mesquita, Valdemar da Mota, Soares dos Reis, Costuras, Siska e tantos outros, fazem parte do nosso Olimpo. Quando o nosso clube foi campeão do Mundo pela segunda vez depois de ter sido campeão europeu, o meu pensamento foi de imediato para estes herois míticos que contra tudo e contra todos souberam honrar como ninguém a linda camisola do nosso Porto e que com o seus esforço a levaram aos mais altos e inimagináveis voos!bem hajam!!!
 

João Lucho 2

Tribuna Presidencial
8 Maio 2008
8,021
2
O facto de termos o melhor português de todos os tempos não deve ser espalhado por isso não façam muito barulho, é que noticias destas pode enfurecer muita gente lol É um orgulho poder dizer \"Pinga jogou no F.C.Porto\".
 

madjer87

Tribuna Presidencial
18 Julho 2006
11,817
4
54
Porto
O Idolo do meu já falecido Avô.

Deliciava-me quando ele me contava as coisas sobre o Pinga.Parecia que estava a ve-lo jogar.

Pinga é uma Lenda.Uma lenda do nosso Magico FC Porto.Meu avô dizia que o Pinga era o melhor de todos daquela época.Era Fabuloso.

Pinga,Hernani,Cubillas,Oliveira,Madjer ,Baia, Lucho....a história não terminará..

Obrigado Pinga
Obrigado Avô
 

Drakonyaz

Tribuna
18 Julho 2006
2,557
2
Câmara de Lobos, 1975
> adriano cabral Comentou:

> Não sei se me escapou alguma coisa na leitura dos posts, mas não sei pq se chamava Pinga.


.............................................................................................................................................

Apelido herdado de seu pai.
 
R

r.a.martins

Guest
Lembro-me também do meu avô me falar do Pinga.
E do modo totalmente convencido como o meu Avô dizia que, para ele, o Pinga era melhor que o Eusébio.
Nunca mais esqueço a descrição da parte do meu Avô dos cantos do Pinga: \"ele tinha uma maneira de bater a bola que ela, ao chegar à baliza, fazia um efeito tal que se encaminhava para as redes... e era canto directo\".

Pinga, terá sido talvez o primeiro grande ídolo da massa adepta azul e branca!
 
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jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
16
Há dois jogadores injustiçados no nosso futebol. O Pinga, uma verdadeira lenda que o meu pai me ajudou a venerar. E um jogador que o nosso clube homenageia sempre que vai ao Restelo e que jogou no Belenenses, o Pepe que morreu aos 23 anos vítima de envenenamento. O resto é folclore dos orcs e da lagartagem.
 
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L

luis casals

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> Pinto Comentou:

> Bonita homenagem Hast, a um jogador impar!
x2
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
16
Não sei porquê mas sempre que o nosso clube alcança um grande feito lembro-me do Pinga e do Siska. Eles mais de que quaiquer outros deveriam estar muito orgulhosos dos nosso feitos. Para eles o OLIMPO!
 
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Reações: Albicastrense
J

jorgcastro

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Mas quando entra o Pinga a bola é certa!
Fica o rival assim de boca aberta!
Uma arrancada zás...