Apesar de presença assídua neste espaço adoptei sempre uma postura mais passiva para me inteirar da opinião de outros portistas como eu, que sentem o clube como eu e que vivem o clube como eu.
Hoje é um dia que não posso deixar de participar ativamente aqui.
Hoje é um dia que não posso deixar de comentar convosco o que vi.
Hoje foi o dia mais negro dos largos anos da história do nosso (ainda nosso!) clube.
Passaram já 2h desde que regressei desta AG e ainda não tenho total capacidade para me tranquilizar e processar tudo aquilo que assisti. Desde a péssima logística à falta de comunicação com os sócios, percebia-se desde o primeiro minuto que era uma AG condenada a fracassar na forma e no conteúdo porque não haveriam condições dignas de se realizar tal encontro. Eram milhares os portistas que como eu se acumulavam naquela fila e assistiram a chegada de vários notáveis mas queria partilhar a história de um em particular.
Por questões de anonimato não partilho o nome mas o senhor que se encontrava a minha frente na fila diz-me que “hoje vim aqui ao Porto fazer um exame médico (…) agendei para hoje porque vivo longe, não é fácil chegar aqui mas sabia que hoje não podia deixar de marcar presença aqui e aproveitei”. Com o passar do tempo e as infelizes notícias que nos iam chegando, com os ânimos a exaltarem-se, partilha novamente comigo “eu não tenho saúde para aguentar tanto tempo mas eu preciso de ficar até ao fim (…) eu vou pedir a palavra e vou expor a vergonha que isto é, vou assumir sem medo que temos de impugnar!”.
Com as declarações do Nuno Lobo e algumas agitações consequentes (para além de alguma confusão no check-in, francamente mal preparado para o volume de pessoas que se adivinhava) perdi-lhe o rasto... Qual não é o meu espanto quando, em plena AG com os ânimos exaltados depois do tagarela ter avançado para falar no púlpito, ouço a voz dele a pedir para fazer uma intervenção. É a voz deste senhor que se ouve como ruído de fundo nos vídeos das agressões ao tagarela a dizer repetidamente “estas violências não são o Porto.”
Este sócio, numero perto do 9000, que hoje fez um exame médico que lhe comprovou um dos piores diagnósticos que um doente pode receber, abdicou da família numa das piores noites da sua vida para manifestar o seu amor pelo clube mas foi impedido de completar a sua intervenção porque dezenas incitaram uma cena de pancadaria que puseram um ponto final neste embuste de AG.
Isto não é o Porto.
Mas é por sócios como este que em Abril vamos ter de voltar a ser Porto.
Um abraço solidário a todos os presentes, com especial atenção a este sócio que merecia um clube a altura da sua dignidade e força de espírito.