Creio que há mais nesta selecção do que aquilo que os olhos conseguem ver. Algo de imaterial, intangível e raro, muito raro, numa selecção portuguesa. Um sopro de grandeza que não cabe em gestos técnicos nem em estratagemas tácticos. Outras equipas têm melhores executantes, melhores estrategas
na verdade, não podemos levar a peito algumas das críticas, há selecções que praticam melhor futebol. Mas nenhuma crítica deve envergonhar-nos, nenhuma objecção deve fazer-nos questionar o mérito deste grupo. Será difícil explicar, mas talvez se consiga perceber um vislumbre dessa potência de alma na luva branca do Éder e no gesticular furioso de Ronaldo junto ao banco. Talvez até nas palavras que Fernando Santos dedicou ao povo grego. Ou na passagem citada da bíblia.
Éder entrou em campo e fez tudo bem. Não cometeu um único erro, ganhou todas as bolas, cada corpo-a-corpo, para no fim marcar um golo fantástico, o mais importante da história do futebol português. Puxa da luva nos festejos, e, já campeão, agradece a alguém que o ajudou a ultrapassar a adversidade. Aqui a malta diz que o rapaz é um pino, um pés de chumbo, rimos um bocado, mas imagino que não seja nada fácil para o jogador. Não deve ter sido fácil ouvir os portugueses assobiá-lo nos jogos de preparação, não deve ter sido nada fácil sentir que muitos julgam que ele está a mais, que o lugar dele não é aquele, está mal ali, que não é suficientemente bom. Terá passado por algo semelhante em Inglaterra. Pode ter fraquejado, mas não vacilou. Não foi abaixo, não perdeu a autoestima é fácil duvidar de nós quando mais ninguém acredita , não perdeu a confiança nas suas capacidades, e acreditou que podia marcar àquela distância da baliza, com um adversário em cima, na final do campeonato da europa.
Não sou especial apreciador das peripécias de Ronaldo. Por vezes alguma fanfarronice, talvez pudesse resguardar-se mais, falar menos em algumas situações
Simpatias à parte, não tenho a menor dúvida: Ronaldo é um modelo a seguir. Pelo profissionalismo, pela ambição que revela em qualquer circunstância, pela vontade de ser sempre o melhor. Ronaldo transforma, pelo trabalho, ambições extraordinárias em objectivos alcançáveis. Quando se fala dos nossos traços culturais, da identidade portuguesa, não raramente somos caracterizados como um povo triste, lamurioso, com uma certa melancolia por um passado de glória, entretanto entregue ao seu fado
e Ronaldo fez o seu próprio destino. Tem todo o mérito em tudo o que alcançou na sua carreira.
Fernando Santos aparenta ser um homem bom. A gratidão que guarda para com o povo grego impressiona, aquelas declarações ficaram-lhe muito bem. É uma figura que, a meu ver, transmite qualquer coisa boa. Um homem de palavra. Montou uma equipa que ninguém conseguiu derrotar, não teve qualquer problema em procurar soluções, trocou muitos jogadores, utilizou quase todos os convocados, não se amedrontou na final - a sua última intervenção no campeonato europeu foi lançar um avançado. Merece todos os louvores.
É uma selecção incrível, temos jogadores com percursos marcantes, Quaresma e Nani tornam-se campeões da europa já nas fases descendentes das suas carreiras carreiras que poderiam ter sido muito melhores , um foi dispensado pelo nosso clube, outro pelo Manchester. Temos um campeão europeu que chegou a jogar na terceira divisão inglesa. Um grupo fantástico. Com exemplos que podem inspirar qualquer um de nós. Prefiro estes. Esta será sempre a minha selecção.
... vi o Porto vencer a liga dos campeões e Portugal tornar-se campeão europeu. Uau. É extraordinário.