Não esquecer que eu estudei música

Aqui em Portugal é difícil ser-se avaliado pelos trabalhos artísticos gerais, o Variações tem canções que são claramente parte do "cancionário nacional":
É p´ra Amanhã
Estou Além
O Corpo é que Paga
Canção do Engate
Tem dois albuns, Anjo da Guarda e Dar & Receber, que têm boas canções para lá dos ditos êxitos reconhecidos. Mas nós não temos bem aquel alma "anglo saxónica" de avaliar o trabalho todo, pegamos só nos singles porque é o que se ouve..
A minha opinião, o éxito póstumo não só vem do habitual "artista morto vende bem" mas sobretudo de um reconhecimento do artista como alguém adaptado à época em termos globais, enquanto o nosso país ainda tentava forçar a barra dos cantautores "Abrileiros" e do Avante e ajudou outros a darem um passo para a frente e se ultrapassar essa era estéril.
O facto de ele ser menos relevante no seu tempo é um pouco daí, o país era algo retrógrado, aparecer agora um maluco que mistura new wave, synthpop, e pop rock com fado e folk português? Que ultrage? Anda cá Vitorino. E é paneleiro? Anda cá Igreja Católica censurar este gajo.
Era um artista que era ouvido, sobretudo pelo pessoal mais jovem que já consumia o que vinha do UK e USA, mas era pouco "recomendado" nas Tv's e tal, pela mesma razão que sketchs do Herman foram "boicotados", estava fora do conveniente e cuidado com os costumes.
Ou pela comunada. Um exemplo o Variações não podia actuar abaixo do Tejo, tentou e foi cuspido e apedrejado.
O António era sobretudo um poeta popular muito bom, ele não percebia nada de música em termos teóricos, no sentido de a compor.
Fazia umas maquetes cruas a cantar enquanto batia em mesas ou com uma caixa de ritmos que comprou. O êxito e qualidade dos trabalhos do Variações vem da combinação dessa veia poética dele e do que ele imaginava combinado com músicos muito bons. O Anjo da Guarda é todo ele tocado, produzido e composto pelos GNR e o Dar & Receber pelos Herois do Mar.
Resumindo tem mais importância póstuma de que teve no período em termos de exposição e mediatismo , mas tem muita importância na transição da música cá do burgo de canções estéreis e bafientas de intervenção, para uma cena pop rock que foi o auge criativo da música nacional.
Os programas do Julio Isidro ajudaram muito a conhecer bandas lá de fora. Programa muito útil no que respeita a cultura musical.