Não sei se já falaram aqui, mas a entrevista do Coroado ao Observador tem umas tiradas interessantes:
1. Após o Benfica v Torreense 1991/92, com arbitragem polémica:
"No final do jogo, o Gaspar Ramos convidou-me para ir à sala de imprensa e aceitei. Cheguei lá e não havia nem um jornalista, só sócios do Benfica. Saí logo, claro."
2. E há sempre aquele
Benfica-Sporting de 1995.
Que processo, esse. Bem kafkiano.
O vermelho ao Caniggia, porquê?
A ideia é dar um amarelo ao Caniggia e outro ao Sá Pinto, por troca de empurrões na sequência de uma falta perto da área do Benfica. Só que o Caniggia insulta-me. Chama-me filho da puta e manda-me para a puta que te pariu. Dei-lhe o amarelo. Depois ouvi isso e dei-lhe vermelho direto. O que as pessoas pensaram foi que eu me tinha enganado. Que eu julgava que ele já tinha amarelo e que portanto foi segundo amarelo. Nada disso. Foi amarelo, o primeiro dele naquele jogo, e depois o vermelho direto, porque não aceito insultos de ninguém. Seja em português ou em castelhano.
E depois?
Na cabina do árbitro, o Gaspar Ramos [dirigente do Benfica] estava muito nervoso e incontrolável. Pedi-lhe então que se retirasse. É verdade que aquela casa [Estádio da Luz] era dele, e ele até era delegado ao jogo, pelo que podia estar ali mas não naquele estado, mas aquele espaço era meu.
A verdade é que a FPF instaurou-lhe um processo?
Já lhe disse que foi kafkiano, não já?
Então?
Mal entrei na sala para depor, o relator do processo [Sampaio Nora, do Conselho de Justiça da FPF, pertencente à lista de Vale e Azevedo para as presidenciais do Benfica uns anos depois] disse-me para estar tranquilo porque não gostava de mim.
Entrada a pés juntos?
É como lhe digo: já se passaram tantos anos que ainda nem sei se hei-de rir ou de chorar. Foi um processo kafkiano.
E os jogadores, colaboraram?
Os do Benfica defenderam a sua dama. Do Sporting, só houve um que me defendeu e disse o que tinha ouvido. Foi o Sá Pinto. Os outros encolheram-se. Como o Marco Aurélio, aquele central. [Jorge Coroado começa a falar com sotaque brasileiro]. Eu até ajudava você, Coroado, mas não sei o dia de amanhã, né? Em resumo: eles tinham medo de dizer o quer que fosse porque isso hipotecava o futuro deles.
Conclusão: a FPF anulou esse jogo e promoveu um outro, de repetição, no Restelo, que a FIFA desvalorizou. Nas contas finais desse campeonato 1994-95, o jogo que conta é o meu.
http://observador.pt/especiais/jorge-coroado-benfica-sporting-porto/
Uma adenda do Record:
"Numa decisão raramente vista, o Conselho de Justiça da Federação decidiu repetir a partida. Águias e leões enfrentaram-se novamente a 14 de junho, no Restelo. Dessa vez a vitória sorriu ao Benfica por 2-0, com um bis do brasileiro Edilson, naquela que foi a última partida de águia ao peito.
Sobre o jogo, Record escreveu: Foi uma vitória de pirro, mas foi. O Benfica, por artes mágicas do CJ, aproveitou a oportunidade para transformar a derrota na Luz (1-2) num triunfo claro (2-0) sobre o eterno rival de Alvalade e conseguiu dar uma pequena alegria aos seus desmoralizados adeptos que, como era de esperar, viraram as costas ao dérbi. Como os do Sporting fizeram o mesmo, o Restelo apresentava um aspecto desolador, quase vazio. Uma tristeza!
No entanto, a partida de repetição nem para a história ficou, pois dias mais tarde a FIFA decidiu contrariar a decisão da FPF e o jogo foi anulando, voltando tudo à estaca zero e ficando o Sporting com os três pontos. Terá sido mesmo o(s) dérbi(s) mais invulgar(es) da história."