2. Desde a criação das primeiras competições nacionais os principais emblemas da capital e do Porto destacaram-se na conquista dos troféus, alternando os seus vencedores.
Foi, contudo, o FCP a alcançar a primeira vitória no campeonato nacional, em 1935/36.
A partir dessa data começou a manifestar-se a inclinação do poder e influências da competição para os clubes da capital do país, então capital do império colonial português, de forte pendor centralista, acentuado pelo cunho autoritário do estado novo, regime fascista/ nacionalista nascido em 28 de maio de 1926.
As estruturas, orgãos e instituições do desporto eram sediadas na capital, cujos dirigentes teriam que ser oriundos dos clubes desportivos locais.
A Bem da Nação, os recursos principais eram-lhes destinados e o tratamento de favor e exceção, por inerência, naturalmente concedidos: Portugal era Lisboa e o resto era paisagem.
De facto aos restantes competidores, colocados em situação de flagrante e crónica desigualdade restava-lhes pouco mais que o papel de animadores de uma competição, que teria, à partida, definido o seu vencedor: por direito natural um clube da capital do império.
Tinham os melhores jogadores, as melhores condições físicas e técnicas. As regras do jogo, dentro do campo, eram cumpridas por todos os clubes por igual, salvo pelos de Lisboa, que gozavam de um regime de exceção.
Aos outros cabia-lhes a honra de competir, como dignos vencidos e contribuir para a glória dos esplêndidos vencedores.
Para registo das façanhas dos clubes de Lisboa trabalhavam os escribas/ cronistas do império, dedicados especialistas do desporto, que debitavam prosas encomiásticas, de elogios desmesurados sobre as conquistas épicas dos representantes da capital do império, elevando-os à condição de heróis, quase semi-deuses, assim plasmados nos anais da História.
Lavradas ao estilo das epopeias líricas camonianas ou das façanhas clássicas dos heróis Homéricos.
Que viriam posteriormente a adquirir ainda as roupagens da pura e dura propaganda de pendor fascista, que se desenvolveria paralelamente na Espanha de Franco, na Itália de Mussolini e na Alemanha de Hitler, através de ideólogos dedicados, órgãos, meios e técnicas criados expressamente para a disseminação da doutrina e educação/manipulação das massas.
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