Se o objectivo fosse apenas controlar o contágio, teríia sido imposta uma quarentena parcial, por cidades ou regiões. Mas se o país está todo de quarentena, suponho que o objectivo seja mesmo evitar ao máximo o contágio. E se a quarentena for cumprida de forma rigorosa, como as autoridades suportamente pretendem, isso significa que em Junho vamos ter quê, 1% dos portugueses infectados? 2%? Esses números não garantem nenhum tipo de imunidade de grupo. Portanto, depois desta quarentena, a esmagadora maioria dos portugueses vai continuar a ser potencialmente infectável.
Ou seja, a nossa única esperança é que essa segunda ronda de contágios só chegue no próximo inverno, para o SNS poder respirar um pouco.
Se optássemos por manter uma quarentena absoluta durante dois meses, ia ser óptimo porque erradicávamos o vírus do país (claro que depois teríamos de fechar as fronteiras à circulação de pessoas, o que é simplesmente ridículo) e "íamos salvar muitas vidas", como dizem alguns. Pena é que depois teríamos uma economia completamente destruída, com uma queda de 20% no PIB, o sistema de pensões em colapso, bancos, empresas e famílias na bancarrota, e metade dos portugueses a fazer fila para a sopa dos pobres. Ei, mas pelo menos o covid-19 não se ficava a rir!
O que a mim me parece é que estamos a pegar fogo à aldeia só porque um leão entrou numa palhota e comeu duas crianças. Esta estupidez vai-nos sair muito caro. Anda tudo distraído com o vírus (o leão) mas ninguém repara que a aldeia (a economia global) está toda a arder. Daqui a dois ou três meses tudo isto se vai tornar mais claro, e então até os ceguinhos vão perceber.