Um artigo num site francês está a ser amplamente difundido nas redes sociais. "Os portugueses são tão disciplinados que a repressão é inútil", pode ler-se
"Há um mistério português que vamos tentar resolver juntos", assim começa o artigo publicado no site da rádio France Inter, acompanhado áudio da reportagem do jornalista Anthony Bellanger. As dúvidas francesas estão expressas na diferença abismal dos números de infetados e mortes por covid-19 quando a comparação é, especialmente, entre Portugal e Espanha.
"O mistério é este: enquanto a Espanha está severamente confinada e o governo espanhol acaba de decretar a suspensão de toda a atividade económica não-essencial... os portugueses estão em isolamento social, os locais públicos estão fechados, mas sem sanções, sem certificados para poder viagem. Quando questionado, o primeiro-ministro português António Costa respondeu: "Os portugueses são tão disciplinados que a repressão é inútil", pode ler-se.
Tendo por ponto de partida os números, entretanto atualizados para cima, de 119 mortes por covid-19 em solo português, o artigo compara com as quase sete mil vítimas em Espanha. "Portugal tem apenas 119, ou seja, 11 vezes menos do que o número de vítimas em proporção às respetivas populações", conclui.
O que o jornalista pretende é encontrar explicações para esta diferença. E avança com as que considera decisivas.
"A primeira explicação é geográfica: Portugal é o único país do continente europeu a ter apenas um vizinho, neste caso a Espanha. É, portanto, o único país europeu para o qual o encerramento precoce das suas fronteiras tem sido eficaz", refere.
"A segunda explicação é que o país vive muito do turismo. No entanto, a covid-19 opera fora da época turística. Assim, Portugal não teve de lidar com uma enorme vaga de turistas, apenas gerir aquele pequeno grupo de visitantes que se sentem um pouco sós em pleno inverno", acrescenta.
"A terceira explicação é que a sua localização geográfica, no extremo oeste da Europa, permitiu a Lisboa ver o futuro. Ou seja, a epidemia - e a sua face crescente - começou mais tarde do que em Espanha, França ou Itália", conclui o jornalista.
Em jeito de balanço, o jornalista acha que Portugal percebeu atempadamente o que estava a suceder. "Os portugueses aprenderam com as lições de outros países, Portugal isolou-se ao mesmo tempo que nós [França], a 13 de março, quando muitos casos no seu território ainda podiam ser contados com os dedos das duas mãos. Mas acima de tudo, António Costa tem razão: os portugueses têm sido autodisciplinados. Ao ver as notícias da Itália, França e especialmente da Espanha, a partir do final de fevereiro, muitos portugueses mudaram-se para as suas casas de campo, isolando-se, deixaram de ir a bares e restaurantes e tiraram os seus filhos da escola", pode ler-se numa referência ao encerramento das escolas em meados deste mês. "O mesmo aconteceu com algumas empresas, especialmente nos centros das grandes cidades".
O artigo refere ainda a estabilidade política e social em Portugal, por oposição com o que sucede em Espanha. "Isto também permite que Lisboa seja generosa: a 28 de março, Lisboa decidiu regularizar todos os migrantes que tivessem apresentado um pedido de residência e renovaram automaticamente as autorizações de residência que expiravam. Generosidade, mas também uma medida de saúde pública: ao regularizar todos, o governo dá acesso ao sistema de saúde gratuito e universal a toda a população residente em Portugal: todos protegem todos da covid-19", refere a encerrar o artigo.