Convém que as pessoas tenham noção que o facto de poder ter sido criado em laboratório não é sinónimo de ter sido criado com o intuito de ser usado como arma biológica.
O laboratório de Wuhan estudava vários tipos de coronavírus encontrados em morcegos e é perfeitamente normal que tenham criado vírus recombinante, como se faz com tantos outros microorganismos para se estudar determinadas regiões do genoma, o funcionamento de determinadas proteínas, a criação de vacinas, etc. Existe a possibilidade do vírus ter escapado do laboratório por falha humana. Claro que é algo que tem que ser apurado e é necessário que se criem taskforces com especialistas em vários campos como a virologia, epidemiologia, biologia molecular, biologia evolutiva, sistemática filogenética, etc., para compreender a origem do vírus na sua totalidade. Já a questão da arma biológica é uma possibilidade muito mais remota e sem grande sentido, porque como já vi escrito por especialistas, se de facto o vírus fosse criado com esse objectivo, quem o fez tomou péssimas decisões. Apesar de tudo, o principal estudo publicado até ao momento aponta para uma origem natural do vírus, mas já vi artigos científicos bastante pertinentes sobre algumas questões que o estudo deixou em aberto e que de facto abrem a possibilidade para o facto de poder ter sido criado em laboratório e ter saído cá para fora por erro humano.
Relativamente às estatísticas da China, trata-se de uma questão complexa e podemos entrar num contrassenso. Se por um lado podemos colocar em causa os números e falar num encobrimento do panorama real por parte do regime chinês, por outro e usando a mesma lógica, é indiscutível que as medidas de lockdown foram muito mais agressivas que em qualquer outro país. Fecharam a cidade de Whuan, impuseram quarentenas e isolamento à força, separaram os infectados dos próprios familiares, retiraram os animais de estimação às pessoas infectadas para evitar que saíssem à rua, vigiavam toda a gente, enfim... um sem número de medidas completamente impensáveis num país europeu e muito menos nos EUA. Na minha opinião, considero que há um misto das duas, o governo tentou encobrir muito do que se passava, mas também não acho que os números sejam assim tão escandalosos pelo simples facto da severidade de medidas que adoptaram e de já terem experiência em lidar com surtos deste tipo.
Compreender o contexto ajuda e aqui EUA e China estão em pólos opostos, por contextos sociais e históricos completamente diferentes, a valorização das liberdades individuais é completamente antagónica.
No que toca ao encobrimento de acontecimentos deste tipo, certamente que é bastante comum em regimes ditatoriais, como aconteceu na antiga União Soviética aquando do desastre de Chernobyl, mas não é exclusivo de ditaduras. Temos exemplos recentes, por exemplo, o que se passou em Fukushima, o Japão também tentou encobrir a gravidade dos acontecimentos com políticas erróneas ou a explosão da Deep Water Horizon 2010 que os EUA tentaram "suavizar" ao máximo o que se tinha passado e encobrir o real impacto do desastre no Golfo do México.