Rejeito por completo. Aliás, não sei se rejeite ou se aceite... sequer compreendo as alusões que o colega faz. Nada comentei sobre... sobre qualquer uma das coisas que o colega escreveu. Se pretende trocar ideias, deve fazê-lo recorrendo a coisas com algum sentido e não de forma esdrúxula. Gays, conservadores, colónias... não faço a mais pequena ideia do que o colega pretende expressar ou contrapor. Não discorri um único pensamento quanto ... a essa amálgama. Terei todo o gosto. Dificilmente conseguirei escrever algo razoável face a um conjunto de coisas desconexas, pois não sei a que responder. Por consideração, faço um esforço.
Estou-me nas tintas que a pessoa seja branca, amarela, vermelha... progressista, conservadora, autoritária, cosmopolita... homem, mulher... cada um deve ser como bem entende, desde que isso não violente a dignidade de ninguém. Para que isto seja possível, devemos admitir o maior grau de liberdade possível ao ser humano, o que inclui, naturalmente, liberdade quanto à vivência do género. Não é possível clamar por liberdade e não querer promovê-la em relação a todos. Dificilmente se consegue defender a liberdade sem que se defenda uma igualdade formal e material extensível a todos os cidadãos. O desejo de liberdade implica o respeito... mais do que isso, a aceitação do Outro.
Talvez se refira à forma como condeno aquilo que vejo como parvoíce, inutilidade ou tolice. Não tenho a mais pequena dúvida de que nós, seres humanos, de esquerda, de direita e do meio, perdemos demasiado tempo e despendemos demasiada energia com questiúnculas e coisas menores. Atente-se a este exemplo e muitas outras discussões tidas neste e noutros fóruns. Que temos dificuldade em distinguir o essencial do acessório, o premente do habitual, o estrutural do circunstancial. Que vários aspectos da tecnologia e das redes sociais vieram agravar o problema. Que muitas das discussões que acalentamos são mais ou menos patetas e inférteis, que muitas vezes discutimos ao lado do que importa, focamos o ruído e não o fenómeno. Poderá de facto ser um pensamento radical no desencanto, embora compreenda que coisas diferentes interessam a pessoas diferentes. Não sou pelo relativismo absoluto. Em todo o caso, não é um radicalismo político nem ideológico, é de espírito.
Quanto à ideia de uma fractura vinda da esquerda... sabe que não estou particularmente interessado em medir quantas porções de fractura vem da esquerda e da direita... mas parece-me muito questionável. Dos Estados Unidos ao Brasil, do leste da Europa à Península Ibérica... enfrentamos uma reemergência da direita autoritária sobretudo, que trouxe com ela as suas novas/velhas agendas divisivas. Não equiparo movimentos sociais animados por tendências de esquerda (ou de direita, ou... ) com poder fáctico de partidos e governos de direita "musculada" (ou de esquerda musculada, estivessem eles em ascensão). Julga mesmo que a grande ameaça à coesão das nossas comunidades, no momento em que vivemos, vem de fenómenos conotados com a esquerda? ... em que planeta tem vivido? De que tipo de ideologia económica provêm as desigualdades globais que continuam a atirar milhões de pessoas para a raiva e a alienação? Digo que não faço grande gosto em determinar de onde vem o extremismo porque este encontra-se um pouco por todo o lado, umas vezes chega-nos com maior intensidade das direitas, outras das esquerdas... e por vezes toma-nos de assalto vindo de algum sítio que não a tensão partidária/política. Acha que os grandes problemas das sociedades humanas são provocados pelo actual comunismo ou socialismo global? Escrevo isto sem simpatia por esses modelos económicos ou desejo de experimentá-los. Quer-se dizer... Uma globalização desregrada, de exportação da produção para países mais ou menos miseráveis, a integração irrestrita dos mercados, a liberdade total da actividade económica (mesmo que os parceiros sejam a Rússia de Putin ou a China de Xi)... são facetas perversas de que ideologia económica? Associadas a que tipo de pensamento político? Que género de forças partidárias defenderam com maior vigor, ao longo das últimas décadas, linhas neoliberais ou de um liberalismo com poucos ou nenhuns travões?... As tensões sociais que observamos na sociedade portuguesa têm que ver com debates acerca de questões identitárias? ... dificilmente.
Não temos de ficar por aqui, procure-se por informação concreta. Atente-se à composição do parlamento europeu, veja-se as dinâmicas de crescimento nos últimos anos de partidos extremistas europeus e outros fenómenos populistas fora do velho continente. Convém não pegar nos fenómenos políticos identitários mais fracturantes, predominantemente norte-americanos, e pressupor que existem em todo o lado, com semelhante lastro social. E mesmo por aquelas bandas quem levou a melhor foi o homem dos comentários misóginos, dos piscares de olho a grupos supremacistas, da xenofobia aberta, da agressividade contínua... o presidente mais poderoso do mundo. Sucedeu a um moderado, foi sucedido por outro moderado. Admirava Putin e Putin admira quem usa da mesma agressividade e intolerância. A realidade é a que é.