O JOGO ouviu um especialista: "Casillas? Difícil de imaginar recuperação curta"
Uma coisa é certa: Casillas não joga mais esta época
Guarda-redes sofreu um enfarte agudo do miocárdio durante a sessão de treino de quarta-feira. O JOGO ouviu Ovídio Costa, cardiologista e ex-diretor do Centro de Medicina Desportiva do Porto.
1 O que pode provocar um enfarte do miocárdio como aconteceu com Casillas?
- Depende muito da doença que está por trás. Na maioria dos casos, a doença evolui silenciosamente. Há muita gente que sabe que tem obstruções nas coronárias só quando tem um enfarte. Isto pode acontecer por antecedentes genéticos - que se conheça não é o caso do Casillas -, pelo facto de uma pessoa fumar ou não, ter taxas de colesterol alto e até pelo exercício físico intenso, que aumenta a probabilidade de enfarte na ordem das duas vezes e meia a três vezes. Uma situação de stress também pode funcionar como um gatilho.
2 Como é o processo de recuperação após um cateterismo?
-Partindo do princípio que a lesão foi resolvida pelo cateterismo (limpeza da artéria) e que a lesão muscular é mínima, pode haver uma recuperação rápida. Mas não é muito fácil num atleta de alta competição. Quando se faz uma angioplastia, em que se mete um stent, o indivíduo fica com medicamentos para impedir que a obstrução tratada venha a reobstruir passado semanas ou meses. É de boa prática que essa medicação se faça durante meses largos. Quando um indivíduo está com esta medicação e, no exercício da profissão, existe a probabilidade alta de traumatismo, há riscos de fazer hematomas enormes ou, no caso de um traumatismo craniano, ocorrer uma hemorragia cerebral. Nos desportos em que há colisão, temos essa dificuldade acrescida. Mas, por motivos vários, é muito difícil imaginar que a recuperação se possa fazer num período curto.
3 Tendo em conta os riscos, aconselharia uma retoma breve?
-Não é muito fácil que alguém o aconselhe a uma retoma rápida. Mesmo que corra bem, Casillas ficará com medicamos antiagregantes plaquetários que depois são contraindicação para uma prática desportiva onde os traumatismos são frequentes. Como toda a gente sabe, no futebol é frequente haver um traumatismo de uma cabeça, pontapé ou queda. Voltar depressa não faz sentido, porque os riscos após ele ter traumatismos, mesmo relativamente pequenos, é muito grande e poderia complicar a recuperação. Depois, há a questão psicológica. Ele pode pensar que vai ultrapassar isto ou pode pensar que, atendendo à idade, não vale a pena jogar mais dois ou três anos. Depois, há a pressão da família, que pode apelar a mudar de vida.
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