Confesso que não conheço o caso de Pichardo, não acompanhei, não sei o suficiente, por isso não vou comentar para já o caso.
Mas para mim não deixa de ser um facto que a lei da nacionalidade é uma autêntica treta, e estas alterações feitas nos últimos tempos nem se fala, até se atribui nacionalidades a pessoas que não sabem falar uma palavra de português e há quem ache isso normal. Eu tenho nacionalidade francesa, mas não a obtive por ter nascido lá, lá não há o jus soli como cá, tive que fazer exames e uma das provas era saber falar francês outra era de história da França.
Por exemplo o Héctor Herrera naturalizou-se por conveniência, para facilitar a sua transferência para Atlético Madrid, assim reduzindo o número de jogadores extra-comunitários e a verdade é que Herrera em 6 anos que esteve em Portugal, não fala uma palavra de português.
Acompanho a ideia da importância da língua. Será importante que cada indivíduo procure activamente a possibilidade de comunicar com os elementos da comunidade em que se encontra inserido, surgindo a língua como um elemento importante.
Ressalvo porém que a nacionalidade formal é uma construção política/legal que certifica a pertença a um país e não a uma nação, sendo possível e razoável argumentar que país e nação não coincidem, havendo nações que transpõem fronteiras e fronteiras que juntam nações diferentes. Devemos ainda notar que um único país pode integrar inúmeras línguas e dialectos, não havendo uma ligação necessária entre país e unidade linguística. Mesmo o conceito de nação terá como fundamento primeiro uma vontade de vivência comum, que pode ir além da língua, religião, práticas individuais, ... Não me parece impossível um entendimento profundo entre um falante de castelhano e um falante de português. Pensemos ainda nas pessoas que não falam ou não ouvem. Que não ouvem e não vêem (e que por isso encontram obsctáculos concretos na interacção com os restantes membros e vice-versa). Na Língua Gestual Portuguesa e no braille, expressões que desconhecidas à esmagadora maioria da comunidade. A língua é importante, mas não constitui (ou não deveria constituir) um factor de exclusão.
Suponho que o caso de Pichardo possa ser considerando no plano político; afinal, tratou-se de uma deserção.
A lei do país possibilita casos excepcionais como o do saltador:
"6 - O Governo pode conceder a naturalização, com dispensa dos requisitos previstos nas alíneas b) e c) do n.º 1, aos indivíduos que, não sendo apátridas, tenham tido a nacionalidade portuguesa, aos que forem havidos como descendentes de portugueses, aos membros de comunidades de ascendência portuguesa e
aos estrangeiros que tenham prestado ou sejam chamados a prestar serviços relevantes ao Estado Português ou à comunidade nacional."
Sendo que no ponto 1 consta o seguinte:
"1 - O Governo concede a nacionalidade portuguesa, por naturalização, aos estrangeiros que satisfaçam cumulativamente os seguintes requisitos:
a) Serem maiores ou emancipados à face da lei portuguesa;
b) Residirem legalmente no território português há pelo menos cinco anos;
c)
Conhecerem suficientemente a língua portuguesa;
d) Não tenham sido condenados, com trânsito em julgado da sentença, com pena de prisão igual ou superior a 3 anos;"
Certamente poder-se-á detalhar a lei, se houver motivo para tal, e, sobretudo, promover o ensino de elementos culturais relevantes à vivência em comunidade.