Um pouco mais recomposto, ainda que totalmente destroçado, não posso deixar de vir aqui fazer a minha pequena homenagem ao Bicho.
Sou um portista de 2000. Eu e todos os portistas desta geração, crescemos num auge do nosso clube. Infelizmente, os nossos olhos perderam muito Porto, seja por ainda não sermos nascido, ou porque ainda éramos demasiado novos para termos recordações de certos momentos. Perdemos também várias referências que fizeram do nosso enorme clube um colosso assente em valores únicos e inconfundíveis, que em mais parte nenhuma do mundo se podem encontrar. Se há coisa que adoraria ter vivenciado, era o processo no qual o FC Porto se tornou aquilo que todos conhecemos. E que foi construído, moldado, valorizado por tantas pessoas e personalidades vincadas, únicas, inconfundíveis.
Com muita pena e mágoa, não tenho memórias de ver o Bicho a jogar. Mas tenho a certeza que sei tão bem como quem desfrutou de o ver, do que ele significa e da importância que teve para o FC Porto. Porque tive o meu avô, que foi o pai que nunca tive, a falar-me dele, como um ídolo. Como alguém que era a personificação perfeita do que é o FC Porto: alguém que mete a cabeça onde ninguém mete o pé; alguém que defende os seus acerrimamente; alguém que punha em sentido todo e qualquer adversário; alguém que nunca desiste em nenhuma circunstância; alguém que se agiganta quanto maiores são os obstáculos; alguém que não torce a espinha, que não papa grupos, que tem no coração o seu próprio azul, independente; alguém que é um líder nato, capaz de mover tudo e todos a ir à luta com ele; alguém que é duro e viril, mas que tem um coração de ouro.
Uma das minhas frases preferidas é "um dragão nunca desaparece". O Jorge Costa não é exceção, mas é alguém a quem esta frase assenta de maneira especial. O Bicho é (PRESENTE, SEMPRE) o FC Porto. Ele representa tudo aquilo que somos, tudo aquilo em que nos revemos, tudo aquilo que amamos no nosso clube. E é por isso que enquanto existir FC Porto, o Bicho estará sempre vivo e junto de nós. Vive em cada um de nós. Ainda que nos parta a todos o coração ver as nossas referências a partir fisicamente, isso traz-nos uma grande responsabilidade. Numa época em que cada vez menos existe autenticidade, valores e humildade como tinha o nosso capitão, somos nós, adeptos, que NUNCA podemos deixar cair o legado que estas pessoas nos deixaram. Somos nós que temos de o passar a todos os que vestem esta camisola. É hora de juntar os cacos dos nossos corações destroçados pelo ano que estamos a ter, unirmo-nos, e juntar todas as forças para que o Futebol Clube do Porto continue a ser o clube do Bicho, do Bibota, do Pinto da Costa, do Pôncio Monteiro, do Alfredo Quintana, do Pedroto, do Rui Filipe, do Pavão, e de tantas outras lendas. Lendas que temos a responsabilidade de orgulhar, porque podem não estar fisicamente e junto de nós, mas estão espiritualmente, a ver-nos, a vibrar com cada conquista, e a chorar cada percalço, como qualquer um de nós.
Uma das minhas grandes mágoas a partir de hoje é não podermos ter cá o Bicho connosco fisicamente a contribuir para fazer o nosso clube renascer das cinzas. Como tão bem estava a fazer, ganhando cada vez mais protagonismo na sua função de Diretor do Futebol. Esteve nas dores de crescimento, mas não estará quando estivermos novamente onde merecemos. E ele merecia TANTO estar. Nós vamos voltar, disso não tenho qualquer dúvida. E o Bicho é e sempre será parte disso.
Um obrigado nunca será suficiente, capitão. A partir de agora, tudo vai ser por ti. E2ERNO.