Sou lisboeta de gema e tenho 45 anos.
Provavelmente o impulsionador do meu amor portista terá sido o meu pai, peso embora seja uma personagem da minha vida que não trouxe nada de bom.
Mas, tendo o fogacho inicial provavelmente partido dele, o amor pelo nosso clube veio do deslumbramento do que os meus olhos percepcionaram.
Sendo lisboeta e gostando muito da minha cidade nunca nutri apreço e gosto pelo estarolas da cidade, uns fanfarrões e megalómanos, outros numa bolha elitista e mesquinha de quem vislumbra desdém no mérito alheio.
O FCP pelo contrário representava características e valores pelos quais me identifico e pelo que me tento guiar na vida, a resiliência, o agigantar perante as dificuldades, a alma e o espírito de sacrifício, a fome e sede de ganhar, a azia de perder, em uma palavra a PAIXÃO.
Sem ter nascido na Ribeira, na Foz, na Afurada, sinto que o meu coração morava aí junto de vós e no meio de multidões pelos anos 90 adiante vibrei, sofri gritei e emocionei-me com o meu FCP.
João Pinto na minha infância e Jorge Costa são a personificação viva desse sentimento, desses valores. A braçadeira no Bicho não era um ornamento nem simbolizava status, simbolizava responsabilidade, simbolizava uma horda de portistas no estádio e mais uns milhões colados à TV a seguir todas as incidências do jogo. Quem jogava ao seu lado tinha o peso e a obrigação de seguir as suas pisadas, de por a cabeça no cepo, de derramar até À última gota de suor para honrar a camisola que envergavam.
Sinto que o clube não foi justo com ele, primeiro naquele episódio miserável preconizado pelo azedo e triste palmelão culminando no êxodo forçado para Inglaterra, mais tarde pela sua saída abrupta do clube após ter conquistado tudo o que havia a conquistar, por último anos e anos de ausência do clube, ele que era já por aquela altura uma lenda viva do clube.
Posto isto, foi com tremenda alegria que vi o seu regresso ao clube, sinto que sofria no isolamento pela caricatura do seu FCP que o actual FCP se tinha tornado e que como dirigente tinha inúmeras páginas de glórias e conquistas para escrever.
É isto que me deixa com uma tristeza imensa enquanto escrevo estas linhas, saber que a obra que com brilho nos olhos estava a construir, mais do que inacabada não estará lá para os banhos de champagne, para ser levado aos ombros, e para numa figura paternal e experiente guiar os nossos jogadores e ensiná-los o que pesa e significa esta camisola.
Sei que vamos ganhar, sei que onde estiver, a sua voz o seu legado estará nos jogadores que caminharão com o manto sagrado em 2025-2026.
Uma palavra de apreço para AVB, 1 ano e meio terríveis de guerras internas, de desilusões de perda e morte, ano e meio que envelhecem por dentro uma década. Sei e sinto que a sua presidência que tem sido marcada por uma aura negativa,terá um ponto de inflexão. Quem trabalha com paixão, profissionalismo afinco competência e amor ao clube, merece colher mais à frente o que plantou.
Como escreveu o saudoso Zé Pedro, "Quando as trevas se abrirem, o céu azul ficará"
Depois de um ano tão cinzento, bem precisamos!