Natural do Porto 28 de Dezembro de 1937
Nasceu no seio de uma tradicional família da burguesia do Porto. Cresceu com ele a paixão pelo futebol, o jeito é que não transbordava, por isso não passou dos juniores do F. C. Infesta. Estudou num colégio de jesuítas, em Famalicão, mas o seu jeito rebelde de ser e de viver não se deu bem, sobretudo, com a disciplina que os padres impunham aos seus alunos. Talvez por isso não tenha seguido o caminho da licenciatura como seu irmão, actualmente, o maior especialista nacional em medicina legal. Empresário haveria, pois, de tornar-se, gerindo, para além da parte da fortuna familiar que lhe coubera, uma firma de comércio de fogões e electrodomésticos.
A experiência no boxe e as «traições» de Américo de Sá
Entraria nas lides directivas, muito jovem, vai para 35 anos, como chefe da secção de hóquei em patins, num tempo em que o presidente do F. C. Porto, era o Cesário Bonito, seu ídolo como dirigente «pelas atitudes corajosas e grande amor ao F. C. Porto e ao Norte que sempre tomou e em que se assumiu como paladino contra a macrocefalia deste país». Do hóquei em patins transitaria para o hóquei em campo e o boxe, na presidência de Nascimento Cordeiro, ainda como chefe de secção. Não muito depois, Afonso Pinto de Magalhães, fascinado com o empolgamento com que servia o clube, promoveu-o a director. À direcção do futebol chegaria em meados dos anos 70, pela mão de Américo de Sá, que, não muito depois, se tornaria seu inimigo fidagal.
No final da temporada de 1979//80, perdido o Campeonato para o Sporting e a Taça para o Benfica, Sá suspendeu José Maria Pedroto, António Morais, Hernâni Gonçalves e João Mota, por eles terem contestado o afastamento de Pinto da Costa da chefia do Departamento de Futebol, em processo sinuoso, arquitectado no silêncio dos bastidores.
Ao tomar conhecimento da sua suspensão, Pedroto lançou chispas ao seu melhor jeito de polémico: «Mais uma vez fica provado que Américo de Sá queria entrar na Assembleia da República, como deputado do CDS, com a cabeça de Pinto da Costa debaixo do braço, mas, em vez disso, leva na testa o grande letreiro de traidor.» Escorraçados os técnicos solidários com o director que deixara pelo caminho, contratado para treinador o austríaco Hermann Stessl, catorze jogadores recusaram-se a trabalhar com o novo treinador. No dia da apresentação, em vez de seguirem para as Antas, rumaram para Santa Cruz do Bispo, treinando-se em autogestão! Compraram uma balança para avaliação de pesos, foram inspeccionados, sujeitaram-se a regime alimentar específico e emitiram mais um comunicado de solidariedade para com Pinto da Costa, que consideraram servir o clube «com honra, devoção, coerência, honestidade de processos e grandeza de carácter». Assinado estava o manifesto por Teixeira, Oliveira, Lima Pereira, Frasco, Simões, Gomes, Freitas, Jaime, Quinito, Octávio, Romeu, Albertino, Costa, Sousa e Tibi, que, a talho de foice, denunciaram manobras de chantagem e terrorismo para os demover, a ponto de apresentarem ameaças de rapto dos próprios filhos enquanto, no jornal do clube, Pinto da Costa era acusado (injustamente se provaria...) de estar a pagar aos futebolistas para que eles se mantivessem em greve.
Na primeira semana de Agosto de 1980 apagou-se, enfim, a revolta e os dissidentes voltaram às Antas, submetendo-se, Jorge Nuno, à reserva territorial. Porque, como ele próprio gostava de dizer, largos dias têm 100 anos...
Com Américo de Sá e com Hermann Stessl, o F. C. Porto voltou às ruas da amargura. Por isso, foi sem surpresa que, em 17 de Abril de 1982, Pinto da Costa foi eleito presidente do F. C. Porto, tomando, obviamente, como primeira medida, desbravar o caminho para o regresso de Pedroto às Antas. Retornou com aura sebastiânica, mas, no primeiro ano da nova era, os portistas ainda não cantaram vitória, perdendo a Taça de Portugal de forma dramática Para as Antas marcara a FPF a final, muito antes de se saber se o F. C. Porto seria ou não finalista. Sendo-o, houve quem se enrodilhasse em manobras de bastidores no sentido de transferir o jogo para... Lisboa, mas no primeiro dia de Junho de 1983, em Assembleia Geral explosiva, os seus sócios aprovaram por aclamação que o clube não comparecia à final da Taça de Portugal desde que a mesma não fosse disputada no Estádio das Antas. «Vamos ver se a Direcção da FPF tem coragem de mandar o F. C. Porto para a II Divisão», bradou Pinto da Costa, num sinal inequívoco do que haveria de ser a sua política de defesa intransigente do clube, acrescentando: «Lisboa não pode continuar a colonizar o resto do País. O desejo deles é que o F. C. Porto desça de divisão.» Fez-se o jogo no Porto e o Benfica ganhou, graças a um histórico golo de Carlos Manuel.
O espírito de guerreiro e a vertigem da velocidade
Pedroto, já minado pela doença que o mataria, após a injusta derrota com a Juventus, na final da Taça das Taças, em Maio de 1984, indicara a Pinto da Costa, Artur Jorge para seu sucessor. Satisfez-se a promessa e, com ele, o F. C. Porto partiu à conquista da Europa, à conquista do Mundo, mas sempre guiado por esse farol fantástico em que se tornou o seu presidente, que, galhardo, guerrilheiro, conseguiu, em 14 anos de magistério, tornar-se o mais ganhador de todos os dirigentes do futebol nacional. Para isso, dorme pouco, nunca mais do que seis horas por dia, vive a correr, como um maratonista de sucesso. Por causa disso, em Dezembro de 1981, depois de mais uma vitória do F. C. Porto na Supertaça, no regresso de Lisboa, venceu a morte por... verdadeiro milagre, quando, na auto-estrada, perto de Coimbra, o seu Fiat Croma Turbo ficou praticamente desfeito, após embate numa carrinha, traído por um banco de nevoeiro. Aventureiro, não se atemorizou. Antes pelo contrário. E, por isso, se diz, também, que, nos últimos três meses, o seu BMW ficou, por duas vezes, sem... embraiagem, por velocidade excessiva, em auto-estrada!
«Lisboa a arder» e a hipoteca da retrete!
Mas, mais do que a vertigem da velocidade, o que Pinto da Costa tem de mais acirrado, de mais acerado, é esse verdadeiro espírito de dragão que transplantou no clube, como uma imagem de estoicismo, de luta sempre para além das próprias forças, como se o sucesso medrasse disso e de sistemáticas estratégias de hostilização, como se só assim ganhar desse prazer. Nasce disso o ódio com que muita gente o olha, mas é disso que brota, também, o fervor com que os seus adeptos o idolatram e o consideram a mola real do êxito de um clube que, durante décadas, de tão provinciano, começava a perder, logo que cruzava a ponte de D. Luís ou de D. Maria a caminho de Lisboa...
Por assim ser, quando, por exemplo, em véspera da partida com o Benfica, decisiva para a conquista do título de 1994/95, Dias Loureiro, ministro das Polícias de Cavaco, desenterrou os incidentes das Antas naquela tarde mágica de César Brito, em que se afamou um guarda chamado Abel, acusando Pinto da Costa de ter um corpo de segurança particular, o presidente do F. C. Porto mobilizou os seus prosélitos para uma manifestação onde se bradaria a frase «Nós só queremos Lisboa a arder», mas, fogo metafórico, diria Pinto da Costa, que sabendo bem que a grandeza do seu clube, apesar de tudo, não cabe já nas fronteiras do Porto ou do Norte. «Há, em Lisboa, muitas coisas bonitas, a delegação do F. C. Porto, os Jerónimos, muitos portistas. Mas em Lisboa persistem mentalidades que pensam que Portugal é a capital e o resto é paisagem e é essa mentalidade que, no sentido figurado, gostaríamos de ver arder...»
De Eduardo Catroga diria, também, o que Mafona não diria do presunto, quando o ministro das Finanças do Cavaquistão, poucas horas antes de o F. C. Porto bater o Werder Bremen por 5-0, apurando-se para as meias-finais da Liga dos Campeões, mandou hipotecar o Estádio das Antas, por dívidas ao Fisco, arrolando no lote dos bens hipotecáveis a retrete do árbitro!!!
As rezas e a jura na campa de Rui Filipe
Pinto da Costa adora chocolates.Parece que, às vezes, no convívio com os amigos, canta o fado. Por causa do F. C. Porto arrefeceu paixão que lhe vinha dos tempos de jovem: deslocar-se a leilões de arte, a exposições de pintura. De qualquer modo, coleccionador continua. Em tempos, Zandinga, que trabalhara nas Antas como parapsicólogo de José Maria Pedroto, ventilou a ideia de que os êxitos do F. C. Porto de Artur Jorge e de Pinto da Costa se deviam (entre outras coisas mais e certamente muito mais importantes) a banhos do presidente e do treinador, altas horas da madrugada, em noites de Lua cheia, na praia de Miramar, à beira da capelinha da Senhora do Mar, utilizada como lugar de peregrinação espirita e práticas mais ou menos bizarras com o Além! Foi coisa que nunca se provou e de que ninguém ousa sequer falar. O que se sabe bem é que Pinto da Costa, para além de devoção forte por Nossa Senhora de Fátima, de tal forma que, amiúde, passa, a correr como vive, afinal, pelo santuário para rezar aos pés da Virgem. Nunca disfarçou a sua costela mística, de tal forma que, em 1995, após a conquista de mais um título, ganhando em Alvalade, com duas lágrimas que eram camarinhas do seu coração, confidenciou: «Jurei na campa de Rui Filipe que haveria de ser outra vez campeão. É bom que as pessoas não se esqueçam de que foi ele quem marcou o primeiro golo do F. C. Porto neste Campeonato.»