A verdade absoluta é que esta geração de Portistas não sabe o que é ser um underdog, pois foi mesmo isso o que sempre fomos ao longo das décadas de 50, 60 e 70. Ganhávamos de vez em quando. Havia um "1" clube em Portugal. Havia o Benfica. E depois havia outro clube de lisboa com quem o clube poderoso mantinha rivalidade e alternava títulos, que era o Sporting.
O 25 de Abril revolucionou o país e também o futebol. Clubes amparados pelo estado durante anos , perderam esse conforto descarado e nunca mais foram ninguém. Neste caso o Sporting, o irmão fanhoso do clube do regime. E mesmo o clube expoente máximo do imperialismo centralista abalou por todos os lados com a data. Já outros clubes, até então ostracizados e amarrados a um cheiro a bafio que sustentava tudo o que fosse anexado à capital, aproveitaram o momento para finalmente se soltarem dessas amarras e crescerem, tal era a sede e a fome de sucesso, alimentada por um ódio e de um sentimento de injustiça perante décadas a fio de favorecimento vomitoso aos clubes da "capital do império".
Facilmente o Porto se emancipou e cresceu, enquanto os clubes do regime foram definhando. Mas o Benfica apesar de ter passado pelas suas décadas de deserto, nunca deixou de ser quem é, O clube do regime, o clube do amparo, do 4º poder, nem o nacional-benfiquismo deixou de existir. A desigualdade de tratamento nunca deixou de existir. O favorecimento nunca deixou de existir. Acontece que desde que o clube do regime começou a perder fulgor, passadas 3 décadas e pouco, finalmente começou a restruturar-se e a crescer de novo e a ocupar o seu lugar do passado.
Não vamos fazer confusões, o Benfica é maior que nós. Tem uma força bruta, tem os adeptos, tem a imprensa, tem as influências, tem a primazia de ser o clube da capital, e por tudo isso todos os favorecimentos e ajudas associados, e nós lutamos com armas desiguais. para lhes fazermos frente sempre tivemos que correr o dobro, não há hipótese.
Esta recuperação paulatina de hegemonia que o Benfica tem reclamado nos últimos anos não é contra natura, bem pelo contrário, é a ordem natural do funcionamento das coisas neste país ultra centralista. Nós sempre fomos o underdog que uma vez liderados por uma personalidade superiora como Pinto da Costa, soubemos durante 3 décadas fazer frente e suplantar o poderio do rival da capital. Isso sim, é contra natura. Mas nós fizémo-lo durante 30 anos. É algo inacreditável o que a liderança de Pinto da Costa conseguiu fazer, sabendo que nunca jogámos com as mesmas armas que eles, mesmo sabendo que nunca tivemos a força dos adeptos, da imprensa ou dos poderes do nosso lado.
Esta geração de Portistas não viveu esse tempo, nasceu nos anos dourados do Porto, de quando finalmente começou a ganhar com regularidade, e não consegue aceitar ver o Porto perder uma hegemonia que conseguiu conquistar durante um bom período da sua história mais recente. Mas a verdade é que o Benfica começar a ganhar cada vez com mais regularidade é de facto a ordem natural dos que têm mais meios ao seu dispor. E este país que ainda tresanda a centralismo por todos os lados jamais permitirá -nem nunca perdoou- o sucesso ao Porto.
Somos um clube que cresceu muito nesta liderança de Pinto da Costa. Já não somos tão frágeis como o éramos noutras eras. Temos que aproveitar o legado e as condições fabulosas que esta Presidência nos deixou. Temos condições para nos mantermos competitivos e vencedores no futuro pós Pinto da Costa. Mas temos também que talvez pôr em hipótese que historicamente não somos a força número 1 do futebol nacional por tudo aquilo atrás mencionado. O nosso caminho é mantermos a nossa autenticidade, o nosso carácter, a nossa fome de vencer, a nossa forma de ser e estar. E estou certo que ao mantermos a nossa identidade nunca nos teremos de preocupar.