A Liga Europa chega e sobra para o que acabaste de dizer que é preciso no futebol. Que o digam o Kairat, Alashkert, Baku ou Jablonek que ainda este ano tiveram hipótese de estar presentes nas competições.
O que dizes é bonito mas para mim não faz sentido. Pelo menos na minha definição do que é ou deveria ser o futebol europeu. Já tinhas até ao 5o classificado do campeonato português a hipótese de participar numa Competição Europeia. Ondes é que tu traças a linha? É que pegando no teu argumento, podia e devia haver competições europeias inclusivas até ao 18o classificado de cada país. Não há nenhuma razão para não haver. Tirando a razão de que... não faz sentido. O futebol europeu é ou deveria ser um prémio por uma época conseguida no futebol doméstico na minha opinião. Devia ser mais exclusivo do que inclusivo. São visões. Um dia destes o Bodo Glimt ainda vai poder dizer que tem tantos títulos europeus como nós.
Tudo isso é discutível. De facto, abrir o futebol europeu a mais clubes é uma possibilidade real, como de resto aconteceu com a criação desta prova. Não faz sentido porquê?... O futebol é o que existe, e é o de todos os clubes, do Real Madrid ao Palmelense. Não é relevante saber onde se traça uma linha de acesso a quadros competitivos europeus, pois a preocupação deve focar-se, antes de mais, em modos de promover a viabilidade do desporto e de, passo necessário, apoiar os mais pequenos através de mecanismos que lhes permitam maior competitividade, mais receitas, etc. etc. etc.
A hierarquia mantém-se inalterada, não tem que ver com a existência de mais ou menos competição europeia. Quem é campeão participa na Liga dos Campeões, quem termina numa posição mais modesta compete numa prova de menor expressão. O que nos deve interessar é compreender se a existência de provas continentais secundárias, ou a inclusão de equipas de menor dimensão em disputas internacionais, é ou não positiva para o desenvolvimento do futebol europeu e dos clubes que constituem a sua maior parte. Se os clubes que participam em modelos como o da Liga Conferência extraem benefícios daí. Se essa participação é de alguma forma positiva para o desenvolvimento dos competidores e dos próprios futebóis nacionais.
Que importa se um clube de menor reputação consegue alcançar mais troféus internacionais de menor prestígio que nós? A vaidade e o egoísmo não são necessariamente bons critérios de promoção do futebol. Seguramente, um clube acumulador de Ligas Conferência trocaria as suas conquistas por uma Liga dos Campeões. A hierarquia continua lá. Importa aferir se o alargamento das competições, ou o acrescento de degraus, contribui para flexibilizar a hierarquia ou, no mínimo, dar maior viabilidade desportiva e financeira aos clubes.
Aliás a realidade não é essa. Antes a seguinte: um magnata compra um clube dos maiores campeonatos, novamente obedecendo a critérios de dimensão económica dos mercados, injecta quantidades obscenas de dinheiro, e coloca-se em posição de conquistar mais Ligas dos Campeões, e não Conferência, do que aquelas que o Porto tem no seu palmarés. E assim compra honra, prestígio, acesso às competições, elevada capacidade futebolística... e nós, adeptos de futebol, tecemos loas à qualidade do City ou do Liverpool, inebriamo-nos pelo prestígio alcançado, e menosprezamos o futebol que o Flora ou o Omonia conseguem apresentar. É isto o futebol europeu? Enfim, os campeões de Gibraltar ou de Malta também tiveram mérito desportivo, os segundos classificados idem... não será estapafúrdio contemplá-los com um espaço competitivo que lhes possibilite jogos europeus, receitas, algum reconhecimento...
Um futebol europeu ainda mais exclusive do que o actual? Em que metade das vagas da Liga dos Campeões é dada a clubes dos cinco maiores campeonatos? Não creio que o caminho deva ser esse. Isso não é futebol europeu, mas sim o futebol dos mais ricos, de ingleses, espanhóis, alemães, franceses e italianos. A menos que se queira a tal superliga ou se esteja nas tintas para o resto dos clubes, desde que se tenha sucesso desportivo e financeiro.
Cenário actual: 96 equipas participam nas fases de grupos das competições europeias. Dessas 96, olhando para a época presente, 34 são espanholas, italianas, francesas, inglesas e alemãs. Mais de um terço. Cinco membros da UEFA de um total de 55. A Islândia não teve qualquer equipa nos grupos. O mesmo serve para a Bósnia. Para a Letónia, Irlanda, Kosovo, Montenegro, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Macedónia, Bielorrússia, Geórgia... As três provas existentes não representam uma qualquer espectacular inclusão desportiva. A linha traçada, de 96 vagas, não permite sequer a participação de vários campeões nacionais numa fase de grupos europeia.