Eu vejo sempre a falarem disto ... e sinceramente não percebo ... O que precisámos é de bons jogadores ...
Um Moutinho, Fernando, Paulo Asunção, Lucho, Vitinha não tinho sucesso neste esquema do Anselmi?
Dalot, Alex Telles, Ricardo Pereira, Alex Sandro, Danilo, Pepe. Militão, Felipe, Mbemba não se adaptariam a este modelo do Anselmi?
Um Diaz, Corona, Evanilson, Taremi, Falcão, Hulk, Jackson nao se adaptariam a este modelo do Anselmi?
Contratar bons jogadores dão para qualquer esquema ... e além do mais eu continuo a achar que isto do esquema é simplesmente algo que tem mais a ver com momentos do jogo do que ser uma táctica rígida ...
A mim parece-me que ele quer ter flexibilidade para jogar em 3-4-3 ou 4-3-3 em diversos momentos do jogo ...
O único jogador exigente desta tática é o tal líbero ... central que sabe sair a jogar bem, ou medio que sabe desempenhar bem a posição de central ...
Nós precisámos de jogadores para todas as posições e para qual esquema tático ...
Esse tipo de argumento — “basta termos bons jogadores que o modelo funciona” — é um clássico de quem olha para o futebol como se fosse o FIFA.
Mistura nomes, ignora contexto, apaga comportamento coletivo e esquece por completo o que faz uma equipa funcionar: o treino. A ideia. A execução.
Sim, claro que um Moutinho, um Fernando, um Lucho, um Vitinha ou um Hulk têm qualidade para jogar em qualquer lado.
Mas a questão não é se esses jogadores se “adaptariam” ao modelo de Anselmi.
A questão é: o modelo está a ser bem implementado para que esses jogadores pudessem sequer mostrar o que valem?
Basta ver o exemplo do Samu.
Porque o que se vê não é um modelo fluido ou bem executado.
É uma equipa desorganizada na transição, partida entre setores, sem critério na ocupação dos espaços, sem reação coordenada à perda da bola.
E aí, desculpa, não há Corona, Falcão ou Alex Sandro que te salvem.
Porque mesmo os grandes jogadores precisam de uma estrutura funcional.
Precisas de padrões. De comportamentos coordenados. De princípios.
E é isso que não existe hoje.
Todas as equipas do mundo mudam de estrutura com bola e sem bola.
Mas uma coisa é ter essa variação dentro de um modelo bem trabalhado, outra é ter confusão tática disfarçada de flexibilidade.
Porque se tu não consegues treinar com clareza quem salta à pressão, quem fecha dentro, quem abre linha, quem dá cobertura — não tens flexibilidade. Tens anarquia.
E esse tal “líbero exigente” não é só um pormenor.
O conceito do líbero — como terceiro central com liberdade para sair a jogar, subir no campo e participar na construção como um médio recuado — exige pelo menos três condições para funcionar:
Bloco adversário que não pressione em cima com agressividade.
Tempo e espaço para receber e decidir.
Centrais rápidos e inteligentes a cobrir o espaço deixado nas costas.
Agora pergunta: isto existe no futebol português?
Muitas poucas vezes.
Aqui, quase todas as equipas jogam com linhas baixas, muita densidade interior, marcação homem a homem no meio, e contra-ataque venenoso pelas alas.
Isto significa que, se perdes a bola com o líbero fora de posição, ficas imediatamente exposto.
E se os teus centrais não são rápidos ou não estão bem coordenados, vais sofrer em todos os jogos.
E é isso que já se está a ver:
O Porto com Anselmi joga com linha alta, líbero projetado, médios desconectados — e a cada perda de bola, leva com transições em superioridade numérica adversária.
Não é por acaso que as coisas dentro de campo acontecem.
E depois há a exigência individual da função:
Não tens no plantel um jogador com capacidade para ser líbero.
Não tens um central que saiba sair em condução, tenha timing de passe, visão de jogo, capacidade defensiva para cobrir a profundidade e ainda liderança para gerir a linha.
Então o que sobra?
Um buraco no meio. E golos sofridos sempre da mesma maneira.
É tentador acreditar que tudo muda se o treinador tiver “o líbero certo”.
Mas isso é simplificar demasiado um problema.
Mesmo nas equipas anteriores do Anselmi — seja no Independiente del Valle, seja no Cruz Azul — onde teve tempo, margem e até mais controlo sobre o plantel, os mesmos problemas estavam lá como o
@Tiago Silva mencionou e bem:
– equipa exposta em transição,
– centrais deixados sozinhos em campo aberto,
– meio-campo desprotegido,
– e acima de tudo, golos sofridos sempre pelos mesmos corredores: entre lateral e central.
Ou seja, mesmo com o sistema montado à sua medida, o modelo mostrou-se defensivamente frágil.
Quando tens um líbero que sobe, os centrais que abrem, alas projetados e médios que não são posicionais, a tua equipa fica esticada e vulnerável.
E se não tiveres uma estrutura coletiva perfeita — vais sofrer. Sempre.
E a verdade é que, até hoje, Anselmi nunca conseguiu resolver isso.
As suas equipas anteriores até têm momentos de grande qualidade com bola, boas saídas organizadas, o que poderia dar para crescer, construir, tentar estabilizar defensivamente com o tempo e a evolução, no entanto, também ofensivamente infelizmente aqui não acontece o que de bom ele apresentava na América do Sul. Ou seja, temos o pior das duas versões.
E aqui, no Tugão, onde se joga para ganhar todos os jogos e onde qualquer equipa pequena te mata numa perda de bola, isso é suicídio tático.