Tentativa de desabafo que provavelmente vai ficar mais longo que curto.
Quando Vítor Bruno assumiu o comando técnico do Porto em junho de 2024, compreendi a decisão. Apesar do treinador pouco ter provado para merecer tal promoção, a decisão fez sentido no contexto da altura:
1. VB conhecia o plantel quase melhor que ninguém.
2. VB estava no clube e foi parte integrante de uma equipa técnica com baixos mas também com vários altos nos últimos anos.
3. SC tinha-se incompatibilizado completamente com a nova direção ao ser mais que treinador e a assumir o apoio público à outra candidatura.
4. A nova direção não sabia completamente em que estado iria encontrar o clube (de relembrar que a pasta foi assumida por AVB apenas em 28/5/2024 e VB assinou no início de junho).
5. VB terá aceitado um salário anual de 1M vs. os 7M anuais que SC auferia, em contrato de 4 anos recentemente renovado. Numa situação financeira de fazer corar muitos gestores, acredito que este também tenha sido um motivo preponderante.
Dito isto, apesar de ter a certeza de que VB não era a 1a opção de ninguém, terá sido entendido por quem tem mais informação de que era a opção possível.
A performance de VB teve pontos de destaque, como a reviravolta da Supertaça e o bom início de campeonato, mas também pontos inaceitáveis. Recordo-me:
1. Entrada em campo e performance patética contra o Bodo/Glimt (apesar de terem surpreendido na competição);
2. Goleada e amasso sofrido contra o Benfica na Luz;
3. Derrota na taça contra o modesto Moreirense;
4. Um janeiro catastrófico: eliminação da Taça da Liga, falha em assumir a liderança isolada contra o Nacional, e derrota vergonhosa contra o Gil Vicente.
Muitos defenderam a saída do VB depois da humilhação com o Benfica, mas honestamente eu achei que o gatilho para o qual não havia volta a dar foi mesmo ter perdido o balneário com sucessivos casos de lavagem de roupa suja em público. A partir daí não poderia haver outra opção.
A chegada do Martín Anselmi revelou-se uma surpresa para quase todos e, salvo pontuais arautos da desgraça, todos deram o benefício da dúvida:
1. Treinador sem vícios do Tugão;
2. Jovem promissor com CV respeitável a ser construído;
3. Ótimo comunicador que aparentava ser carismático.
Todos aceitamos que as condições da sua chegada foram dificílimas, desde a nuvem negra que tem pairado sobre o Porto, como as saídas milionárias de Galeno e Nico González, provavelmente os dois jogadores em destaque até ao momento no campeonato. Confiamos também porque terá sido uma escolha do presidente.
Martín Anselmi trouxe uma forma de ver o jogo diferente e, acima de tudo, uma oportunidade para os adeptos tentarem ver o clube sem uma sombra tão pesada do passado. Findos cinco meses da sua chegada (o que é francamente curto, mas infelizmente demasiado evidente), o treinador deixa um trabalho muito questionável:
1. Uma equipa a jogar bastante pior do que a que encontrou (compreendo a ausência de jogadores de qualidade, mas não pode justificar tudo);
2. Um esquema tático para o qual não tem nem talento nem mão-de-obra;
3. Processos básicos de jogo completamente inexistentes - a nossa construção de jogo e a transição defensiva são patéticas;
4. Colocou vários jogadores a jogar pior do que quando chegou (todos com exceção do Mora e a espaços do Fábio Vieira - apesar de este último ter sido vergonhoso no Mundial).
5. Excluindo puros erros individuais dos jogadores, MA falhou em momentos chaves e acentuou a delapidação do ADN Porto:
- Derrota pesada com o Benfica no Dragão;
- Sumbissão perante um Estrela da Amadora em modo survival;
- Postura de solteiros contra casados num amigável frente ao Riga;
- Fraca exibição, mas acima de tudo postura, contra o Inter Miami;
- Performance defensiva digna de Inatel contra um Al Ahly, que só não resultou em números mais pesados porque o Marcano estava tão afinado como os jogadores da turma egipta estavam desafinados.
6. Acima de tudo, o treinador não consegue mostrar qualquer melhoria desde que chegou. E isto é na minha opinião o mais preocupante.
Qualquer desculpa ao nível da qualidade do plantel revelar-se-á escassa na ausência de outro ponto que permita olhar de forma positiva para o trabalho do treinador. Podemos aceitar que as condições são difíceis mas o básico não está assegurado. MA aparenta ser teimoso num modelo de jogo que não traz nem resultados nem performance. É verdade que o 3-5-2 ou 3-4-3 tem sido usado com sucesso em Itália, tivemos experiências interessantes com o Leverkusen ou com o Crystal Palace, mas neste momento no nosso Porto, não vejo mesmo ponta por onde se possa pegar. A formação não joga assim (nunca jogou), os nossos jogadores não têm perfil para tal, e não há o mínimo suminho que dê alguma esperança. Não conseguimos dizer que estamos a sair do fundo do poço se não temos a certeza de já ter chegado lá. Na hercúlea tentativa de nos agarrarmos a alguma coisa, chegamos mesmo ao final de junho sem nada a que nos agarrar.
Aqui também acresce o posicionamento lunático de nos colocarmos como candidatos a alguma coisa (seja vencer o grupo, ao título, etc). Nada cola. Há um desfasamento completo com a realidade, com a performance da equipa e com o que os adeptos sentem. Falar em "dar murros na mesa" por falar não vale nada quando quem o diz não dá motivos para acreditar.
Na minha opinião, o treinador está desgastado, não apresenta resultados e não tem condições para se manter no lugar. E ou muito me engano, não serão só reforços que melhorarão a situação. Compreendo a decisão do presidente de tentar um treinador de projeto que aparenta ser audaz como Bielsa, De Zerbi, ou como foi Sampaoli, mas ideias há muitas e os parcos resultados estão à vista. Gostava mesmo que resultasse mas os dados levam-me a crer que não resultou.
AVB tem possivelmente a sua maior decisão de momento, correndo o risco de claudicar metade do seu 1o mandato com uma aposta que aparenta ser injustificável. Se mantiver MA e resultar, será visto como visionário, mas custa mesmo a acreditar que o treinador argentino consiga dar a volta. Há algumas opções interessantes no mercado e, se temos de procurar reforços a sério, também para ir buscar um treinador de provas dadas não precisamos de só olhar para quem está livre. O maior reforço da nova época poderá mesmo ter de ser o treinador.
Independentemente da sua decisão, até porque tem mais informação para decidir que qualquer de nós, deverá ter o nosso apoio. Isto implica falar e criticar quando temos de o fazer, mas também apoiar sempre o FC Porto (que é maior que qualquer pessoa ou facção). Se a carteira permitir é ver jogos, lugar anual, tudo. Temos de naturalmente resolver os problemas dentro de casa, mas reconhecer quem são os nossos inimigos e quem gosta de nos ver em baixo e focar toda a nossa atenção e dedicação para isso. Não esquecer que em 2028 há novas eleições e cá estaremos nós para exercer o nosso direito como apaixonadamente o fizemos há pouco mais de um ano.