Harvey specter disse:
Apenas para quem gosta de futebol
Tem um esquema tático favorito?
Estou a jogar em 3x4x3. O que me entusiasma agora é a dinâmica do 3x4x3. É como se fosse um brinquedo novo que quero desmontar e montar várias vezes, para ver funcionar. Quero ver isto aplicado à equipa porque sei que vai dar resultado. Na formação trabalhei em 4x3x3, em losango. Importante é a capacidade que se tem de pegar num ponto de partida, que é o sistema, e dar-lhe a dinâmica.
Qual é a sua ideia de jogo? Há um modelo Vítor Pereira?
Sim, claramente. Tem tudo a ver com a minha personalidade. Gosto de dominar, gosto de controlar tudo. Gosto de jogo dominante, a marcar os ritmos. Posso acelerar e desacelerar, mas eu é que marco os ritmos. Claro que para isso tenho de ter a bola. Gosto que minha equipa seja rápida em determinados momentos, noutros acelere, e estas mudanças de ritmo e de direção estar cá, de repente estar ali, chamar aqui e já ir pelo meio, atrair de um lado para ir dentro, ou ir dentro para entrar por fora
[entusiasma-se no discurso enquanto faz movimentos com os braços e bate com as mãos uma na outra, tornando-se difícil de acompanhar]Mas para operacionalizar isto é preciso experimentar.
- Não é fácil fazê-lo em competição
- Eu tive a felicidade de estar cinco anos na formação do FC Porto. Foi um laboratório: virava o futebol de pernas para o ar. Eu consigo pegar numa equipa como esta do TSV Munique e mudar completamente o registo. E quem olha percebe que esta é uma equipa minha. Pela experiência adquirida, consigo mudar rapidamente. Isto não se faz tendo referência de outro treinador. As minhas ideias vão evoluindo, vão mudando. No FC Porto explorava pouco os momentos de transição rápida porque dominávamos instalados no meio campo adversário. Agora tenho de dar mais atenção a esse aspeto.
- Mas é possível fazê-lo em qualquer equipa?
- Deixe-me contar uma história. Lembro-me que cheguei à Arábia, vindo da Liga dos Campeões, e de repente estava nas montanhas, fechado no meu quarto, com uma luz avermelhada, quase não dava para ler. Não se via ninguém, porque era a altura do ramadão. Começo a trabalhar com aqueles jogadores e digo
«ai meu Deus! vim de um nível elevado para um baixo, mas tenho ideias, sou teimoso e chato». Então começámos a trabalhar e os adjuntos diziam que não ia conseguir. Teimoso, não cedi, porque não me ia dar gozo jogar de outra forma. Quero ganhar, mas com uma marca de qualidade. Estou sempre à procura do pormenor, nunca estou satisfeito, quero sempre mais e mais e mais. Quando cheguei à Arábia insisti em jogar tendo bola. Passado dois meses, recebemos uma equipa da Coreia na Liga dos Campeões asiáticos e jogámos sempre assim, durante 90 minutos. Se isso se consegue na Arábia, tem de conseguir-se aqui. Num campeonato que nada tem a ver com isso, num campeonato físico, com o alemão, quero competir com outro tipo de jogo.
O MEIO TOQUE DE MOUTINHO
O Barcelona e o seu tiki-taka foram construídos com jogadores menos físicos e ganhava aos mais fortes
Contra uma equipa física e agressiva o que determina o sucesso? A diferença é que um jogador de nível alto controla a bola num toque. Eu por exemplo costumava dizer que o Moutinho jogava a meio toque, era só um toquezinho e já tinha linha de passe. Se o tinha a jogar como joker, tinha linhas de passe permanentes. Um jogador de nível mais baixo precisa de três toques, porque a bola chega a morder, têm de meter um pé, outro e outro, e ao perder frações de segundos o jogador físico já me bateu. Se quando ele chega a bola já não está lá, não a tira. Para mim, a técnica, a capacidade de decisão e a personalidade são o mais importante. Um bom sinal para mim é que as três equipas que estão à frente na segunda divisão alemã são as que jogam futebol.
Que texto interessante. Treinador muito amado pelos adeptos do FC Porto. Quando saiu do Porto... e com o passar do tempo. Antes disso era visto como um pedreiro. Quem sabe por muitos dos experts que agora pedem a cabeça do actual. Que pediam do anterior. Do anterior a esse.
Sobre o texto em si, é muito bonito, infelizmente não tive oportunidade de o acompanhar na Arábia. Na Turquia já vi mais qualquer coisinha e fiquei surpreendido por ter perdido para o Besiktas e feito zero na Europa.
As coisas realmente não devem ser black and white, caso contrário um grande treinador teria sucesso com aqueles jogadores e plantel superior ao Besiktas.
Olha, posso garantir-te que o Nuno seria alvo de gozo caso tivesse perdido na Turquia. O Nuno é gozado pelo trabalho no Valencia, quando se qualificou para a Champions League. Desde a sua saída o Valencia caiu cada vez mais e anda a lutar pela manutenção.
KB24 disse:
A nao ser na defesa onde me parece que temos jogadores que satisfariam plenamente o JJ (Felipe e Marcano tem demonstrado ser boa dupla, bons pelo ar, um mais durinho e laterais com qualidade mais que suficiente para o JJ trabalhar as dinamicas ofensivas que ele gosta) nao estou a ver como é que com este plantel ganhariamos tudo a nivel interno.
No meio campo Danilo encaixa perfeitamente, mas é muito improvavel que fique ca para o ano... De resto nao temos médios "à JJ". Ironicamente, talvez o Herrera. Mas é demasiado imperfeito no passe. Qualquer lapso iria deixar a equipa em maus lençois se os jogadores estiverem todos (tirando o trinco e os centrais) em posiçao ofensiva.
Nas alas tirando o Corona (e mesmo ele nao sei..) nenhum é talhado para o estilo dele.
No ataque somente André Silva (se é que fica no clube) encaixa razoavelmente no estilo dele, jogando a segundo avançado. Novamente ironicamente, quem sabe Depoitre nao encaixa-se tambem. Alto e forte como JJ gosta para a posiçao 9.
Ah e Casillas nao sei se fica mas é sabido que é um GR que nao é do agrado do JJ (e duvido que o José Sa seja tambem..).
Resumindo teriamos como opçoes certamente ao seu gosto:
Maxi/Layun
Felipe/Marcano/Boly (sim é capaz de ser um central que lhe agrade, alto e forte)
Alex Telles
Danilo (isto se ficar o que é improvavel)
Herrera (assim assim, e tambem é um dos que deveria sair se é que alguem lhe pega)
Corona (poderia trabalha-lo, pelo menos é o que de mais proximo temos dentro do estilo de jogadores que ele gosta para jogar nas alas)
André Silva
Depoitre (eventualmente).
Ou seja seria necessario um investimento enorme. E o nosso clube nao tem guito para isso!! Alem de que o proprio seria um investimento enorme.
Nao acredito (ou melhor, nao quero acreditar) na hipotese JJ. Seria a estocada final no nosso clube.
Neste momento a sensaçao que fica é que vamos morrendo devagarinho. Mas com JJ seria uma morte em modo acelerado.
Nem precisas de projetar o futuro. Basta olhares para o presente.
O Jesus estava numa situação muito mais favorável. Estava num clube com uma direção mais competente. Um clube que ficou à frente do Porto em 2 dos 3 últimos campeonatos. Até uma Taça de Portugal (e Supertaça) ganharam. O Porto está a seco há 4 anos.
Um clube com um plantel SUPERIOR (dito aqui neste fórum pela vasta maioria dos participantes e entre os comentadores desportivos). Um clube com dinâmica positiva (ver os números ascendentes de espetadores, lucros etc). Jesus assume o controlo e traz os seus jogadores fetiche todos.
Ou seja, estava numa situação muito melhor. Comprovadamente melhor - é que nem sequer se aceita quem ache que um clube que tem Adrian Lopez na B, depois a titular; que tem Brahimi encostado o mês inteiro; que vai buscar um tronco Belga que nem na europa podia jogar... estava em melhores condições.
Como está na realidade?
- a 4 pontos do Nuno "não tem dedo no treino"
- eliminado pelo Legia
- eliminado pelo Setubal
- eliminado pelo Chaves
Ainda assim, o que se lê?
"O JJ limpava tudo aqui."
Isto são meros atos de fé que aqui se fazem.
Agora é o Nuno. Antes foi o selecionador Espanhol. Antes foi o treinador do Shakthar. Antes foi o treinador que perdeu 1 jogo em 2 anos.
Ser adepto é fácil. Fácil demais. Somos super hiper mega experts em treino e treinadores. É só chegar aqui, descarregar a frustração e depressão, fazer atos de fé "JJ limpava tudo aqui" and it's done.
A parte mais paradoxal disto tudo é que muita gente ainda não está ciente da realidade. O Porto anda a jogar com jogadores do Leganés a titular. O Porto se ficasse em 2º... seria um grande upgrade em relacção ao ano anterior. É esta a realidade do Porto.
Se acham que com os condicionamentos externos e internos, outro treinador teria "muito mais" sucesso, tudo certo. É só ir mudando de treinador a cada meio ano, assim que estiver a 4 pontos de atraso, é ir mudando. É uma estratégia inovadora esta de boa parte dos adeptos do Porto.
O Nuno é dos menos culpados da época do Porto. Em condições normais entre 'gestão decente' + arbitragens não tão escandalosas o Porto estaria em primeiro e pelo menos na Taça. Mas que fazer? Os craques falham golos feitos em Paços; o Oliver falha golos frente ao keeper em 2 jogos; o apitador não assinala um par de penaltis e fica feita a caminha ao mister. E depois ainda temos o cavalo de troia Herrera.
Tendo em consideração todas as condicionantes, o Porto deveria estar a uns 8/10 pontos do líder. Estarem a 4 pontos acaba por ser um pequeno milagre (basta pensar naquele jogo recente com o Chaves e golo roubado). Foi empurrado lá para baixo de forma óbvia. Chega a metade do campeonato com 7 golos sofridos e 31 marcados - menos 6 golos marcados que o Benfica.
Que o Nuno possa ser limitado e a equipa tenha tido qualidade de jogo fraca em alguns jogos não ganhos, sem duvida. É mais do que óbvio que há ampla margem para desilusão com o rendimento em alguns jogos ou em partes importantes de jogos (por exemplo 2ª parte em Paços, em Belém, Setubal). Mas se alguém imagina que uma equipa joga sempre bem, está muito enganado. Em anos passados, o Porto quando jogava mal, ganharia grande parte deles na mesma porque tinha gente com qualidade extra. Este ano simplesmente não tem - tens um ex-B, um Leganés, um Corona, um Brahimi, um Oliver... tudo jogadores por provar e nenhum deles com rendimento regular e constante com qualquer outro treinador. Querias mudar o rumo de um jogo e tinhas... puto de 18 anos, Belga e Varela.
Um dos grandes trunfos do rival é que o Porto vive em auto-flagelação. E nem é preciso muito. São os próprios adeptos a descredibilizar e a promover a desconfiança. A exponenciar uma histeria incompreensível à volta de alguém com pouca experiência, com menos recursos que outros e bastante prejudicado que vai-se aguentando numa luta desigual.