Quero deixar claro que só estou a escrever isto pois a discussão surgiu a partir de algo que referi há uns dias. Quem quiser perceber, perceberá que este tipo de análise não serve para desvalorizar jogadores, muito menos o Samu, mas sim para estabelecer um critério de referência na avaliação dos números dele e de qualquer outro jogador. Do mesmo modo que, se estivesse à procura de um substituto para o Samu e encontrasse um jogador com vinte golos de penálti e dez golos contra equipas de divisões inferiores, mas apenas cinco golos contra adversários do nível do seu campeonato, também não atribuiria grande significado aos trinta e cinco golos no conjunto. Não porque o jogador não tenha o seu mérito, mas porque esse número não traduz a sua capacidade real perante oposição de nível superior.
Quando se pretende analisar com seriedade a performance ofensiva de um jogador, faz então sentido distinguir diferentes tipos de golos, porque nem todos representam o mesmo grau de dificuldade, o mesmo contexto competitivo ou a mesma capacidade individual. Separar penáltis e golos marcados contra equipas de divisões inferiores não é retirar valor ao jogador; é apenas reconhecer que esses lances pertencem a categorias próprias e que podem distorcer uma leitura justa daquilo que o jogador realmente produz em condições normais de competição.
Primeiro, um penálti é uma situação muito particular. A taxa de concretização é elevada, o lance começa parado e a maioria das variáveis que tornam a finalização difícil desaparece: não há pressão defensiva directa, não há necessidade de criar espaço ou ultrapassar adversários, não há necessidade de receber, enquadrar e rematar em movimento. Há, sim, pressão mental — que pode ser maior ou menor conforme o momento do jogo — mas a natureza do lance é distinta. Por isso, misturar penáltis com golos em jogadas corridas cria um conjunto heterogéneo e pouco útil quando o objectivo é perceber a eficácia real do jogador em situações de jogo.
Segundo, golos marcados contra equipas de divisões inferiores levantam outro problema claro. A diferença de qualidade colectiva e individual, de organização defensiva, de ritmo e até de capacidade física é evidente. Quando um jogador de uma equipa grande marca vários golos num jogo da Taça contra uma equipa muito abaixo, é verdade que os golos contam, mas dificilmente representam o mesmo grau de exigência que um golo marcado contra equipas do seu campeonato. Esses golos são legítimos, mas não ajudam a perceber o rendimento do jogador em condições equivalentes às que encontra todas as semanas.
Terceiro, é verdade que se quiséssemos perfeição absoluta, poderíamos ir muito mais longe: um golo marcado quando o jogo está 5–0 não tem o mesmo peso emocional nem a mesma pressão do que um golo marcado quando está 0–0; um golo marcado quando a equipa está com menos um tem uma dificuldade muito diferente de um golo marcado com vantagem numérica; há golos em jogada corrida que são de baliza aberta e outros que são extraordinários. Tudo isto tem fundamento. Mas se tentássemos controlar todas estas variáveis, a análise tornar-se-ia tão complexa que deixaria de ser útil. Há sempre um equilíbrio entre rigor e operacionalidade.
Por isso, separar penáltis e golos contra equipas de divisões inferiores é uma forma equilibrada de manter a análise honesta sem a transformar num exercício impossível. Se não concordam está tudo bem, mas estas duas categorias destacam-se das restantes de forma tão clara que é razoável considerá-las à parte, evitando que inflacionem artificialmente a perceção de eficácia de um jogador.
Quarto, esta distinção não é uma ideia construída ao acaso. Organismos importantes do futebol já reconhecem há muitos anos que o contexto competitivo altera o valor analítico de um golo. O melhor exemplo é o prémio da Bota de Ouro, onde os golos marcados nas principais ligas europeias valem mais pontos do que os golos marcados em ligas periféricas. Isto parte exactamente da mesma lógica: todos os golos contam, mas nem todos têm o mesmo peso competitivo. Esta ideia, aceite formalmente, demonstra como faz sentido atribuir categorias diferentes a golos obtidos em contextos de dificuldade distinta, para evitar análises ilusórias.
Em conclusão, separar penáltis e golos contra equipas muito inferiores não pretende diminuir o jogador, mas sim compreender melhor a sua competência em situações que representam o nível de exigência normal da época. É uma forma de análise transparente, coerente e realista. Mantém-se a contagem total, mas acrescenta-se uma leitura contextualizada que permite perceber o que o jogador vale em jogo corrido contra adversários do seu verdadeiro nível competitivo.
Quando se pretende analisar com seriedade a performance ofensiva de um jogador, faz então sentido distinguir diferentes tipos de golos, porque nem todos representam o mesmo grau de dificuldade, o mesmo contexto competitivo ou a mesma capacidade individual. Separar penáltis e golos marcados contra equipas de divisões inferiores não é retirar valor ao jogador; é apenas reconhecer que esses lances pertencem a categorias próprias e que podem distorcer uma leitura justa daquilo que o jogador realmente produz em condições normais de competição.
Primeiro, um penálti é uma situação muito particular. A taxa de concretização é elevada, o lance começa parado e a maioria das variáveis que tornam a finalização difícil desaparece: não há pressão defensiva directa, não há necessidade de criar espaço ou ultrapassar adversários, não há necessidade de receber, enquadrar e rematar em movimento. Há, sim, pressão mental — que pode ser maior ou menor conforme o momento do jogo — mas a natureza do lance é distinta. Por isso, misturar penáltis com golos em jogadas corridas cria um conjunto heterogéneo e pouco útil quando o objectivo é perceber a eficácia real do jogador em situações de jogo.
Segundo, golos marcados contra equipas de divisões inferiores levantam outro problema claro. A diferença de qualidade colectiva e individual, de organização defensiva, de ritmo e até de capacidade física é evidente. Quando um jogador de uma equipa grande marca vários golos num jogo da Taça contra uma equipa muito abaixo, é verdade que os golos contam, mas dificilmente representam o mesmo grau de exigência que um golo marcado contra equipas do seu campeonato. Esses golos são legítimos, mas não ajudam a perceber o rendimento do jogador em condições equivalentes às que encontra todas as semanas.
Terceiro, é verdade que se quiséssemos perfeição absoluta, poderíamos ir muito mais longe: um golo marcado quando o jogo está 5–0 não tem o mesmo peso emocional nem a mesma pressão do que um golo marcado quando está 0–0; um golo marcado quando a equipa está com menos um tem uma dificuldade muito diferente de um golo marcado com vantagem numérica; há golos em jogada corrida que são de baliza aberta e outros que são extraordinários. Tudo isto tem fundamento. Mas se tentássemos controlar todas estas variáveis, a análise tornar-se-ia tão complexa que deixaria de ser útil. Há sempre um equilíbrio entre rigor e operacionalidade.
Por isso, separar penáltis e golos contra equipas de divisões inferiores é uma forma equilibrada de manter a análise honesta sem a transformar num exercício impossível. Se não concordam está tudo bem, mas estas duas categorias destacam-se das restantes de forma tão clara que é razoável considerá-las à parte, evitando que inflacionem artificialmente a perceção de eficácia de um jogador.
Quarto, esta distinção não é uma ideia construída ao acaso. Organismos importantes do futebol já reconhecem há muitos anos que o contexto competitivo altera o valor analítico de um golo. O melhor exemplo é o prémio da Bota de Ouro, onde os golos marcados nas principais ligas europeias valem mais pontos do que os golos marcados em ligas periféricas. Isto parte exactamente da mesma lógica: todos os golos contam, mas nem todos têm o mesmo peso competitivo. Esta ideia, aceite formalmente, demonstra como faz sentido atribuir categorias diferentes a golos obtidos em contextos de dificuldade distinta, para evitar análises ilusórias.
Em conclusão, separar penáltis e golos contra equipas muito inferiores não pretende diminuir o jogador, mas sim compreender melhor a sua competência em situações que representam o nível de exigência normal da época. É uma forma de análise transparente, coerente e realista. Mantém-se a contagem total, mas acrescenta-se uma leitura contextualizada que permite perceber o que o jogador vale em jogo corrido contra adversários do seu verdadeiro nível competitivo.

