Também foi com o meu pai que comecei a ir ao estádio das Antas.
Em dia de jogo, o meu pai ia de manhã para as Antas, de carro, e estacionava quase à porta do estádio.
Voltava para casa de autocarro. Também era de autocarro que íamos para o jogo à tarde - o autocarro 78, daqueles de dois andares. No fim do jogo, o carro estava à porta.
Só anos depois é que percebi que fazia isso porque no fim do jogo eu ia estar muito cansado e ele queria que eu tivesse o carro à porta.
Para entrar no estádio, ele pegava-me ao colo e passava-me por cima dos torniquetes, como fazia toda a gente.
Tenho uma ideia muito vaga do golo do Ademir, no ano (1978) em que quebrámos 19 anos de jejum, mas lembro-me bem do FC Porto - Barreirense do ano seguinte (1979), o jogo do bicampeonato. Lembro-me de estar lá, mas não vi um minuto do jogo, era tão pequeno que não via nada.
" - Ó pai, foi golo?"
Também me lembro do último jogo que vi com o meu pai. Final da Taça de Portugal de 1983.
Foi já no tempo do Pinto da Costa. Grande polémica porque a Final desse ano ia ser no Estádio das Antas. Mas a Final acabou por ser FC Porto - Benfica. O Benfica recusou-se a jogar no Porto, Pinto da Costa recusou outra localização. O jogo só se realizou em Agosto e acabou por ser nas Antas. Infelizmente, perdemos com um golo do Carlos Manuel.
O meu pai disse-me que não íamos, porque os bilhetes eram muito caros - os mais baratos custavam 750 escudos no pião, mesmo ao nível do relvado. Eram muito caros - 750 escudos eram quase 4 euros!
Devo tê-lo chateado muito, porque acabámos por ir. Mas como perdemos ele ficou furioso e disse que nunca mais ia ao futebol. E nunca mais foi.
Passei a ir sozinho, já tinha 13 anos, e entretanto entrei nos Dragões Azuis.
Lembro -me de uma última vez que me levou às Antas. Um dia da semana pela manhã em Abril de 1986. A minha avó estava a morrer lá em casa e, para eu não passar por aquilo, foi-me lá deixar, com dinheiro para almoçar no complexo das piscinas do Estádio das Antas. Antes, vi o treino da equipa, estive com o Futre e com o Madjer. O Artur Jorge foi o último a sair, já só estava eu, passou por mim e, distinto e distante, disse-me bom dia. À tarde, vagueei por todo o complexo sem nada a acontecer. Nada nem ninguém durante horas.
O meu pai foi buscar-me ao fim da tarde
- Ó pai, a vovó?
- Está a descansar, Mike.
Só mais tarde soube que ela já tinha morrido quando o meu pai me foi levar às Antas.
Durante largos anos, foi o dia mais triste da minha vida.