Amigo, diz-me o que achaste da cidade (Lobito) e das "gentes".
Um povo quente, extremamente acolhedor. Tudo é motivo para rir, para festa
As pessoas já mais velhas, normalmente as senhoras que vendem na rua a fruta e os legumes, são fontes de conhecimento. Gosto de as ouvir falar, também as pico, e há "duas correntes filosóficas": a de que Angola lutou e conseguiu fugir ao jugo Português (embora seja comentado de forma muito discreta e com meias palavras, também porque adivinham a minha nacionalidade) e a de que quando estava como colónia portuguesa as coisas estavam melhores a nível de infraestruturas.
Grandes casas, lindíssimas, a cair sem manutenção. Na ideia que mais vale ser meu e estar mal vs. arrendar a outro que trate, a primeira parece-me ganhar por longa margem. Uma zona rica em recursos, e nem falo do tradicional diamante e petróleo noutras zonas, mas a qualidade do peixe (a garoupa é algo de fantástico), a qualidade dos legumes, da fruta da época, a fartura que há, é incrível. Permite-me um nível de vida que em Portugal não estou disposto (sou muito poupadinho) e permito-me a almoçar/jantar fora quando quero (tive semanas que era todos os dias) sem ferir o meu orçamento de nenhuma forma. Isto tudo, mesmo vendo os preços a aumentar com regularidade (Dezembro para Fevereiro em supermercado reparei num aumento +-15%).
Transversal ao País, e não só à Restinga onde estou a morar, é o número de miúdos na rua. Imensos, desavergonhados, por vezes maldosos, mas também sempre prontos para tagarelar. Desde os abandonados pelos pais (um dos parentes morre, o outro junta-se com alguém que não os quer e são abandonados), os que os pais os colocam na rua para pedir (infelizmente, a minha perceção da cultura é que pedir é fácil para eles e pedem todos os dias, sempre que te vêm, o que já levou a eu me chatear algumas vezes e infelizmente ser grosseiro em uma ou outra). Povo que se gosta de arranjar, muito; sou o maior maltrapilho do escritório porque vou de polo e calça de ganga (nas minhas viagens a Portugal, há sempre pedidos de polos da Lacoste, Ralph Lauren, roupa de marca que eu não uso e lhes recuso, até porque querem que eu lhes ofereça isso).
São uns lampejos de um País incrível e rico, mal explorado, sem sector secundário criado e primário profissional. País que provoca descargas emocionais diversas, tanto de prazer por usufruir de uma fartura e oferta a preços que em Portugal não encontro (nunca mais compro manga em Portugal...), tanto por pensar nos miúdos e nos motivos pelos quais estão na rua. Feliz por ver algumas iniciativas cá, e sou mais um dos que acha que este país poderá, a curto prazo, ser a joia de África. No que toca á clínica que ocasionalmente frequento então, sem espinhas; entro, consulta, exame (radiografia e ecografia), análise dos exames e medicação em menos de hora e meia com a clínica com gente.