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André Villas-Boas: “É tempo de mudança”

Finalmente assumido como candidato à presidência do FC Porto, André Villas-Boas fez ontem uma primeira apresentação da sua candidatura. Ainda sem revelar os nomes que integram a sua lista (na próxima semana revelará o nome do presidente da Mesa da Assembleia Geral e o do presidente do Conselho Fiscal), André Villas-Boas fez essencialmente um discurso virado para dentro, apontado aquilo que considera estar mal na gestão do FC Porto.

“Um momento de grande significado para mim”
“Obrigado! Obrigado, grande receção! Caras e caros sócios, adeptos e simpatizantes do FC Porto aqui presentes e a seguirem-nos em direto. Caras amigas e amigos, sou candidato à presidência do FC Porto. Um momento de grande significado para mim, um momento pleno de portismo, sede e vontade de vencer, um passo para o qual me preparei para poder ir de encontro às vossas exigências. Um passo de grande responsabilidade tomado em consciência com um único propósito, o de servir o FC Porto”.

Sou candidato porque quero um FC Porto mais forte
“Sou candidato porque quero um FC Porto mais forte, um FC Porto competitivo, um FC Porto vencedor, dos sócios e para os sócios. O nosso compromisso é com a vitória e este clube vence desde 1893. O vídeo que acabámos de ver mexe com os nossos sentimentos, toca-nos no coração e traz de volta muitas memórias de tanta gente aqui presente, as primeiras de infância. O primeiro olhar, um amor desconhecido, a camisola de dragão ao peito, o azul e branco, o FC Porto. Quando entramos no campo das emoções, somos imediatamente capturados pela sua intensidade, memórias únicas que jamais esquecemos. As Antas, os torniquetes, as arquibancadas, a festa nos Aliados, o nosso FC Porto”.

“Estaremos para sempre gratos a Pinto da Costa. Mas é tempo de mudança”
“Entre famílias de todos aqui presentes, esta é uma história de amor. Ser do FC Porto é uma elevação que nos distingue. Tudo isto é a razão da minha candidatura. Gostava de começar com uma intervenção de José Maria Pedroto para vos explicar o porquê desta candidatura. Não ter receio em reconstruir ou deixar que outros assumam esse papel. A história não é benevolente com quem não conhece a sua evolução. Esta frase parece mais atual do que nunca. Sim, estamos e estaremos para sempre gratos a Jorge Nuno Pinto da Costa. Será para todos nós, adeptos e simpatizantes, o presidente dos presidentes do FC Porto. Mas é tempo de mudança. É tempo do FC Porto se lançar para um nova fase da sua vida e é tempo de construirmos um futuro ainda mais ganhador, assente nos mais elevados princípios de inovação, ética e transparência”.

“FC Porto vive agarrado por gratidão a uma gestão sem rumo e sem nexo”
“Porquê esta candidatura e porquê agora? Porque neste momento já não somos capazes de construir valor, crescer enquanto clube e organização, propagar a nossa cultura, construir equipas vencedoras e cimentar o associativismo que tanto nos orgulha. De repente, parecemos capturados por um conjunto de interesses alheios ao FC Porto, que ferem os valores fundamentais da nossa instituição. Nos últimos 10 anos, o FC Porto conseguiu encaixar mais de 700 M€ em vendas e, em 2015, fez o maior contrato de transmissões televisivas. Qual é a realidade atual? Um passivo de 500 M€ e uma dívida de 310 M€. A nossa capacidade competitiva ameaçada, as contas em total descontrolo. Nos últimos 20 anos, o FC Porto gerou mais 2,9 mil milhões de euros em receitas, e hoje temos um clube incapaz de acautelar a sua responsabilidade. Vive agarrado por gratidão a uma gestão sem rumo e sem nexo”.

“Está ou não está a ser vendida uma das empresas do grupo do FC Porto a um fundo americano?”
“A falta de transparência instalou-se com preocupantes conflitos de interesses, que parecem prevaricar contra os estatutos do clube. Não temos uma academia de formação nem um centro de alto rendimento, uma promessa eleitoral de 2016 é, hoje, em 2024, uma promessa eleitoral ainda. A comunicação com os sócios é inexistente e foge frequentemente À verdade, entre promessas, premissas e prazos por cumprir. A 3 meses das eleições, estão a ser tomadas decisões estruturantes que podem hipotecar o futuro do FC Porto nos próximos 15 anos. E isso é inaceitável. Está ou não está a ser vendida uma das empresas do grupo do FC Porto a um fundo americano? Se sim, por que somos os últimos a saber?”

“Cortar com o ‘status quo’ existente, onde impera o medo e onde ninguém se pode exprimir livremente”
“A tudo isto acresce a deficiente gestão dos ativos da equipa de futebol. Na teoria é muito fácil falar, na prática é tudo muito diferente. São inúmeros os jogadores a saírem a custo zero, as contratações falhadas por falta de análise, rigor e planeamento. Ou será que servem interesses de outros, alheios ao FC Porto? Estamos a chegar cada vez mais tarde aos talentos, onde antes éramos uma referência mundial. Estamos a ser ultrapassados pelos nossos rivais mais diretos. Formar ou encontrar um jogador à FC Porto é uma responsabilidade. Exige-se critério, rigor e planeamento, e uma comunicação assente na transparência e na inovação. Quanto mais a tivermos, mais dignificamos a mística portista e aqueles que representaram ou representam o FC Porto. Vivemos num mundo em transformação. Está na hora de mudar. Sou o sócio 7617 do FC Porto, nem com mais nem menos direitos do que os outros. Tenho as minhas raízes familiares ligadas ao FC Porto. Sendo o FC Porto o clube do meu coração, é minha obrigação estar disponível para este momento de transformação. Vivi o clube por dentro como adepto, sócio, observador e treinador da equipa principal. Estou plenamente consciente das responsabilidades, que exigem trabalho, rigor, profissionalismo, dedicação, e colocar o FC Porto à frente do interesse pessoal. As exigências de todos os portistas vão causar em mim uma grande responsabilidade e eu quero estar à altura. Apresento esta candidatura para devolver o FC Porto aos sócios, para que o clube seja novamente uma fonte de alegria e vitórias, uma inspiração para os nossos jovens. Com coragem de querer cortar com o status quo existente, onde impera o medo e onde ninguém se pode exprimir livremente sem ser ameaçado ou censurado”.

“2024 tem de ficar marcado pela conquista do título de campeão e não pela eleição do seu próximo presidente”
“Apresento esta candidatura com um programa arrojado e transformador, com uma equipa que vai devolver a dignidade ao nosso clube. Esta candidatura não é apenas minha, é a de uma equipa que tenho o privilégio de liderar. O nosso objetivo é manter o FC Porto como referência do futebol mundial a todos os níveis. Ao longo das próximas semanas, iremos apresentar em detalhe os órgãos sociais que compõem a lista da candidatura, bem como as administrações. Na próxima semana, os presidentes da lista, que estão aqui presentes. Vamos fazê-lo com respeito e elevação pela época desportiva do FC Porto. 2024 tem de ficar marcado pela conquista do título de campeão nacional e não pela eleição do seu próximo presidente”.

“Olhamos com grande apreensão para a academia da Maia”
“Infelizmente, relativamente a esta situação, estamos reféns da atual direção, que a 3 meses das eleições quer tomar decisões estruturantes para o futuro do clube, e a academia é uma decisão estruturante. Temos de respeitar os contratos, mas olhamos com grande apreensão para a academia da Maia. É essencial implementar medidas de gestão para restaurar equilíbrio financeiro do clube. Para isso, é preciso uma análise detalhada para compreender o atual descalabro financeiro. Um modelo mais rigoroso é fundamental. A racionalização de custos e reestruturação da dívida. Uma administração executiva com profissionais credíveis e respeitados. A transparência e a boa governância como uma obrigação do FC Porto. Adotar um portal de transparência assente num modelo de gestão aberto, com informação fidedigna para os sócios de toda a informação do FC Porto. Não temos medo nem vergonha em dizer com quem trabalhamos. Todos os custos com vendas e compras de jogadores ou negócios do FC Porto serão declarados nesse portal”.

“No que respeita à remuneração fixa da administração, cortaremos em mais de 50% os encargos atuais”
“No que respeita à remuneração fixa da administração, cortaremos em mais de 50% os encargos atuais com a mesma. Cortaremos a fixa em mais de 50% da atual e a variável terá um tecto máximo de 60% da fixa e um pagamento condicionado apenas a ponderadores positivos, financeiros e desportivos. Finalmente, sabemos que no FC Porto existem colaboradores altamente competentetes, e todos os colaboradores devem ser envolvidos num sistema de remuneração variável. Assim, asseguramos alinhamento entre todos os pilares do clube, das equipas de gestão às que trabalham connosco. A estrutura do FC Porto deve ser um baluarte unido e formado para a vitória. Na vertente social, o FC Porto deve ter um papel mais ativo, vinculativo e de âmbito social alargado, na relação com as gentes, a cidade, a região, o país e com os seus emigrantes e instituições. Por essas razões, um dos motivos de maior orgulho desta candidatura é fundar e ver nascer a Fundação FC Porto. O FC Porto deve honrar esse compromisso quando se faz apresentar junto das instituições. Um FC Porto distante das iniciativas da Liga Portugal, da FPF, da UEFA, da FIFA, é prejudicial. É fundamental que o FC Porto se afirme a nível do seu palmarés e da sua história. Por que não um FC Porto fundador da Associação Europeia de Clubes Associados ou como motor de defesa do associativismo? Não estamos aqui para vender o clube, mas sim para cimentar o associativismo do FC Porto. É fundamental para o FC Porto ser o motor e o orgulho do seu associativismo. Isto é uma vantagem competitiva. Temos cultura, tradição, valores, e é isso que devemos cimentar”.

“As casas do FC Porto não servem só para bater palmas nas galas e nos jantares”
“Finalmente, deixo algumas das medidas que temos previstas para criar um FC Porto mais próximo dos seus associados: o sócio no centro da comunicação. Dignificar as distinções e a entrada das rosetas, elevando o estatuto e compromisso que os sócios demonstram. Proteger e beneficiar os sócios detentores de lugares anuais, no Dragão e Dragão Arena. Reformular os critérios de atribuição de sócio do ano. Modernizar os processos de bilhética do Estádio do Dragão e da Dragão Arena. Reformatar o departamento de gestão das casas do FC Porto. As casas do FC Porto não servem só para bater palmas nas galas e nos jantares. Alocar bilhetes para as casas que se encontrem num raio de 50 km de estádios e pavilhões onde o FC Porto joga. Estabelecer índices de proporcionalidade para dar acesso a bilhetes às casas, permitindo que os seus associados possam planear as suas viagens com o tempo devido e sabendo sempre que podem contar com o seu bilhete. Celebrar o dia de formação das casas, indo ao encontro das mesmas e valorizando o trabalho que fazem pelo FC Porto. Por fim, ser dada a oportunidade aos sócios de entregarem troféus conquistados pelas suas equipas ao museu do FC Porto”.

“Não tenham medo da promoção deste ato democrático, juntem-se com coragem a este movimento”
“Caras amigas e amigos. Aqui chegados, gostava de deixar um enorme e agradecido reconhecimento à minha família, aos meus filhos, à minha esposa Joana, aos meus pais, aos meus amigos, pelo apoio que sempre me deram na minha carreira profissional e nesta candidatura. Obrigado de coração. Caras sócias e sócios, adeptos e simpatizantes: com este pontapé de saída, demos início a esta candidatura, uma candidatura pela positiva, junto dos sócios, das casas. Não tenham medo da promoção deste ato democrático, juntem-se com coragem a este movimento”.

“É fundamental que todos os sócios se desloquem a votar, sem medo de represálias”
“Esta mudança só pode acontecer com o vosso querer e a vossa ação, assim como com o vosso voto. Em abril é fundamental que todos os sócios se desloquem a votar, sem medo de represálias, com coragem e determinação. É fundamental para o FC Porto que vocês, sócios, marquem um novo momento nas vossas vidas. É por esse FC Porto que me candidato, um FC Porto vivo, indomável, imortal. Viva o FC Porto, viva o FC Porto, viva o FC Porto”.

“Ainda estamos à espera de saber as consequências da AG de 13 de novembro.”
“Lamentavelmente ainda estamos à espera de saber as consequências da Assembleia Geral de 13 de novembro. Foi uma AG que ficou marcada pelo que todos sabemos. Muitas das Casas não querem perder a pouca alocação de bilhetes que já têm. E naturalmente que casas associadas a outras candidaturas podem ficar ainda mais estranguladas relativamente aos seus bilhetes, por apoiar outra candidatura. O FC Porto deve respeitar as eleições de forma democrática, mas também a atual direcção e os órgãos sociais do FC Porto. Tivemos aqui algumas casas presentes, são muito importantes para nós, para fomentar o associativismo do FC Porto. É importante que se possam exprimir à vontade, escolher os seus candidatos e permitir que os candidatos se desloquem às casas sem medo de represálias”.

“Muito ansiosos para perceber finalmente o que se passa no negócio com a Legends e com a Sixth Street”
“Nesta fase estamos muito ansiosos para perceber finalmente o que se passa no negócio com a Legends e com a Sixth Street, que pode recolocar o FC Porto a ter capitais próprios em positivos, ou muito perto de serem positivos como disse o presidente que o iria fazer até 31 do 12. Estamos à espera dessas decisões que são estruturantes para depois adaptarmos a nossa estratégia para a vertente financeira. É lamentável que essas decisões estejam a ser tomadas a 3 meses das eleições, porque podem hipotecar uma futura gestão do clube. Decisões desta envergadura só acontecem quando se vende parte do clube ou uma das participadas do clube, ou quando se fazem movimentos contabilísticos relativamente aos ativos do clube, como é o Estádio do Dragão. O motor do FC Porto é a sua gestão desportiva e é essa que lamentavelmente desapareceu. Num modelo de gestão rigoroso, que funcione, o FC Porto pode voltar a encontrar essa força. A nossa força é o desporto, é ganhar troféus, formar jogadores, encontrar melhores jogadores, competir para ganhar, porque isso no fundo é a sustentabilidade do clube. Será isso o nosso motor. Queremos uma gestão desportiva rigorosa e adequada à modernidade, completa com pessoas que com a mística do FC Porto, mas também com pessoas competentes e experientes, com nome no mercado que vão reforçar o FC Porto”.

“Gratos a Pinto da Costa mas FC Porto precisa de mudança”
“O FC Porto precisa de mudança. Tenho vindo a preparar-me nesse sentido, ser um motor de transformação do FC Porto. O clube necessita de se encontrar com as suas bases, os seus valores, com os princípios fundamentais da sua instituição, precisa de se encontrar com todos os associados. Demonstrar uma nova dinâmica, uma nova força, um modelo de gestão mais rigoroso, que funcione para o clube. É tempo de mudança e do FC Porto entrar numa nova fase da sua vida”. Este é o momento, ninguém está aqui para trair ninguém ou para denegrir ninguém. O presidente é peça fundamental da sua história, é o presidente dos presidentes e assim será recordado para sempre. Queremos mostrar a nossa força, a nossa equipa e o nosso programa, para que os sócios decidam em conformidade. Ouviram as razões porque apresento esta candidatura. É tempo do FC Porto se preparar para uma nova fase da sua vida. Lamento que se tomem decisões que podem influenciar esse futuro. Sentiram aqui a força dos adeptos, o desejo de mudança. Não é por não estarmos gratos a Jorge Nuno Pinto da Costa, é porque o FC Porto está num momento diferente da sua vida e precisa de mudar”.