Tu tanto dizes que queres que venham porque é preciso como agora dizes que não queres que venham.
Pode ter os instrumentos todos mas isso é irrelevante se não os aplica, como é que se pode ao mesmo tempo andar a falar de uma "crise" na habitação e deixar abrir dezenas de hoteis e deixar que esses hoteis importem mão de obra para pagar o ordenado mínimo que não tem como viver dignamente?
Os setores não ficavam impedidos de operar, haveria uma seleção e só alguns é que sobreviviam e não daria para continuar a crescer, há setores que não interessam. Não estou a ver milhares de pessoas chateadas porque não vão abrir mais hoteis restaurantes e estufas de abacates ao ponto de retirar votos.
E já nem se trata dos trabalhos que os portugueses não querem, a ganancia é tanta que os sul americanos tambem já não querem, foi preciso arranjar outros.
Mas a pergunta essencial é em que é que esta economia beneficia o grosso da população, e se achas que o SNS, Educação Habitação e segurança daqui a 5 anos vão estar melhor. E se vamos ter menos pobres do que agora.
Vou voltar a dizer, porque isto não é assim tão difícil de perceber: A decisão política tem de ser económica e não ideológica.
Os instrumentos são o que definem essa política. Se os planos regionais de ordenamento, se a Lei de Bases para o Turismo, se os PDM inclusive, permitem essa construção, tu não podes dizer "construam, mas depois iremos impedir-vos de terem recursos humanos para sustentar a atividade". O que propões é o caos.
E, portanto, tenho de voltar a referir: não se trata de ter vantagens ou não. O que disse é querer ver um político honesto a explicar como irá resolver o problema na sua base e não a lidar com efeitos secundários com decisões que iriam ter consequências desastrosas para a economia.
Os países nórdicos são exemplares na sua abordagem política, na capacidade de criar consensos e de serem civilizados na decisão.Então se tu referiste isso tudo, foi porque querias ser intelectualmente desonesto ao falar da Dinamarca?..
O ponto é esse é que a Dinamarca planeia as coisas em beneficio da população e aqui não, e o modelo deles não é igual ao da Suécia por exemplo.
De um lado a outro do espetro político, preocupam-se essencialmente em manter um nível elevado de bem-estar na sociedade. É esse o exemplo que eu gostaria de ver seguido em Portugal. Comparar as economias dos dois países no estado em que estão não tem qualquer cabimento.
Saíste de um regime ditatorial repressivo com 25%+ de analfabetismo, salários baixíssimos, sem serviços de saúde para a esmagadora maioria da população, numa economia agrária em isolamento internacional e com uma guerra colonial. Difícil seria fazer pior.Portugal tinha muito mais miséria nos anos 90 do que tinha nos anos 00 e na década 10 nem sequer se compara, Portugal melhorou, tirou muita gente da pobreza, o nível de educação subiu muito. Agora deu-se uma guinada e parece que o que é preciso é trazer novamente a miséria. Não é tudo a mesma coisa, houve uma opção tomada há 5-6 que levou Portugal para outra era.
A questão não é só ter economia de valor é não beneficiar e patrocinar a criação de economia sem valor, e não desvalorizar o trabalho inundado com oferta ao mesmo tempo que se inflaciona tudo e se destrói o estado social.
Destruiu-se Portugal para as novas gerações, porque há 10-15 anos grande parte conseguia fazer vida mesmo ganhando pouco agora não.
Agora, os números contradizem-te na "guinada". A pobreza continua a baixar, o nível de qualificação continua a subir, os salários continuam a aumentar, a mobilidade social é maior. Mas desde o COVID que houveram alterações significativas a nível de preços que a guerra piorou e que só agora começam a normalizar, que levaram à perda de poder de compra (e sem falar na crise da habitação).
Eu não sou favorável a ter uma economia de baixos rendimentos. Portanto, o meu problema não é com os custos, mas sim com os rendimentos. Portugal, pela sua posição geográfica, nunca terá uma economia com salários comparáveis ao centro da Europa, mas devia pelo menos tentar manter-se em linha com Espanha. As diferenças são notórias, desde logo na Alemanha compras um carro com 3 salários, que em Portugal custa 10 ou 15. Uma coisa tão básica como um telemóvel não é um investimento importante que acarreta poupança, crédito ou pagamento em prestações por estes lados. Tendo em conta a dependência portuguesa com importações, especialmente de artigos que são hoje em dia vistos como essenciais na "qualidade de vida", acabas por adiar por vários anos a independência financeira das famílias e a sua capacidade de investimento no seu futuro só para o básico do estilo de vida moderno que encontras facilmente noutros países.