O PS não será mais a segunda força política em termos parlamentares. Para se reconstruir e em nome da democracia, precisará de ceder bastante ao governo da AD.Penso que a razão é bastante evidente.
Imagina o nível do discurso político daqui a uns anos, com a população cada vez mais descontente. Um governo da AD apoiado implicitamente pelo PS, com o Chega como única oposição visível, seria o cenário perfeito para o crescimento desse discurso populista. Seria como uma incubadora: o Chega nem teria de fazer grande coisa — bastava aproveitar a maré e dizer “foram estes senhores que levaram o país a este ponto; agora é a nossa vez”.
Uma coisa é fazer esse tipo de campanha como terceira força política, com 10% dos votos em relação aos outros. Outra, bem diferente, é fazê-lo já como segunda força nacional, com legitimidade popular crescente e espaço para disputar o poder real.
O que não significa que essas cedências constituam um bloco central. Marcelo e Guterres não formaram um bloco central. Até o Passos negociou com o governo do Sócrates.
O PS poderá e deverá fazer oposição, também tendo o governo da AD o dever de ceder em certas matérias. Agora, não pode acontecer como o ano passado: o PS não pode exigir nada, por exemplo, em matéria de IRS jovem, IRS e IRC, como fez o ano passado, especialmente se a diferença entre as duas propostas for de 1%.