Não necessariamente, tens alguns exemplos de sociedades que se organizaram 'bottom-up'. Talvez o caso mais famoso e paradigmático seja o da Catalunha durante a Guerra Civil, que levou George Orwell a escrever o livro "Homenagem à Catalunha". É um exemplo paradigmático porque as pessoas se organizaram e tomaram conta das suas vidas, viveram de forma próspera durante um bom tempo. Só a forma como organizaram a educação com ênfase na autonomia, na curiosidade intrínseca das crianças, pensamento crítica e coeducação deveria ser um exemplo para as nossas sociedades. As pessoas liam, participavam diretamente na vida política, iam ao teatro, eram atividades praticadas de forma generalizada pelas populações.Sociedades geradas de baixo para cima são uma aspiração nobre e justa, mas na práctica isso só existiu em comunidades primitivas de caçadores-recolectores ou em comunidades agrícolas isoladas do poder central, como Vilarinho das Furnas ou o Corvo no século XIX.
As sociedades complexas, desde a Mesopotâmia aos nossos dias, geram sempre estruturas de poder, e dificilmente podem existir sem hierarquias rígidas e sem serem organizadas de cima para baixo.
Concordo absolutamente que caminhamos para sociedades tecnocráticas muito mais autoritárias, seguindo o modelo chinês.
Pena ter sido naquele contexto de guerra, mas houve outros casos em Espanha durante o mesmo período. Acredito que o período o contexto impediram que se seguissem mais exemplos.
Aliás, eu gosto sempre de dar o exemplo do que acontece quando ocorrem grandes catástrofes naturais. Por exemplo, as cheias do ano passado em Valência, o que foi que aconteceu? As pessoas rapidamente se organizaram e deram conta do recado, muito antes de receberam ajuda das instituições governamentais. Igual durante as cheias no Rio Grande do Sul. As pessoas rapidamente se organizam e cooperam, mas depois cria-se a ideia de que o povo é burro e precisa de uma classe de 'inteligentes' que os governem. É uma ideia bastante conveniente, até porque a estupidificação das massas é sempre uma prioridade de quem tem o controlo do poder e é necessário fazer acreditar que o povinho é todo burro e que precisam de um grupo privilegiado de iluminados para os liderar.