As pessoas não morriam por volta dos 40 há cem anos. Isso é apenas a média, que é altamente distorcida pelo facto de a mortalidade infantil ser enorme comparada com hoje. E a mortalidade, infantil e não só, era altíssima sobretudo por causa de três factores:
1) carências alimentares, numa época em que a maior parte da população era pobre
2) más condições de higiene, quando nas cidades a água era de má qualidade e o saneamento era rudimentar (o que depois originava surtos de cólera, etc.)
3) más práticas médicas: conheces a história do Dr. Semmelweiss, certo? E sabes que há 150 anos os médicos achavam que o mercúrio era um remédio?
A verdade é que até quase o final do século XIX os médicos eram uns bárbaros totalmente ignorantes, sem qualquer noção de higiene, que usavam como terapia sangrar os doentes e que receitavam como "remédios" produtos como arsénico ou mercúrio, que hoje os levariam à cadeira por envenenamento.
Não é por acaso que ainda na década de 1920 muita gente desconfiava dos médicos, como conta George Orwell num dos seus ensaios. A convicção geral na época, pelo menos entre os pobres, era que mais facilmente te curavas em casa, deitadinho na cama, do que sendo tratado no hospital.
Verdadeiramente, a medicina só começou a ganhar credibilidade como produtora de cura após a invenção da penicilina, dos antibióticos e mais tarde dos transplantes e de toda a área da cirurgia.
Além desses factores, há o facto de há 100-150 anos os hospitais serem quase inexistentes fora das grandes cidades, o que significava que até de um "simples" tiro num pé a pessoa podia morrer. Com tudo isto, não admira que a mortalidade fosse alta.
Mas se a esperança de vida subiu exponencialmente nos últimos 150 anos, isso deve-se sobretudo ao facto de sermos muito mais ricos do que os nossos antepassados. Qualquer pobre hoje tem melhor alimentação e condições de higiene do que um burguês de 1850, e acesso a cuidados de saúde muito melhores do que o homem mais rico do mundo em 1850.
Em suma, se hoje vivemos mais, não é tanto por termos acesso a mais medicamentos, mas pela melhoria das condições de vida.
Depois há o facto curioso, que também devia ser discutido (mas eu não tenho tempo para isso) de o cancro e as doenças crónicas serem muitíssimo mais comuns hoje do que eram há 100-150 anos.