Pode gostar-se ou não do modo de entrevistar, que não é diferente do que muitos outros jornalistas fazem. Agora, o foco na figura de José Rodrigues dos Santos é que é curioso, no mínimo...
Aquilo que JRS fez ao PCP é o que os jornalistas fazem sucessivamente ao Chega. E bem, a meu ver. O "tema internacional" seria o tema mais importante caso não existissem legislativas. É o tema que define o nosso futuro. É a origem da crítica aos jogos táticos de PSD e PS. É também o tema que levou o PCP quase ao patamar da irrelevância.
A insistência nesse tema deve-se às incongruências e falta de explicações do próprio PCP. Paulo Raimundo fugia e fugia das perguntas de JRS vezes sem conta; o que este fez foi tão só insistir. A duração da entrevista, decerto não determinada por JRS (10 minutos), também não contribuiu para a exploração de outros temas.
Mais uma vez, o que foi feito com o PCP é o que fazem com o Chega: João Póvoa Marinheiro, Nelma Serpa Pinto, Clara de Sousa, Rosa Pinto, João Adelino Faria, Teresa Dimas, Miguel Ribeiro, Fernanda Oliveira Ribeiro, Ana Patrícia Carvalho...Sandra Felgueiras com todos os partidos.
Portanto, critique-se o estilo - e é uma crítica válida. Individualizar a questão na pessoa do JRS é que se me afigura errado.
Não afirmei que não gosto de José Rodrigues dos Santos. Afirmo algo mais grave: que prestou um mau serviço ao jornalismo com o trabalho que fez. Nenhum professor de comunicação social apresentará aquela entrevista como um exemplo de boa prática jornalística. Pelo contrário, será um exemplo do que não fazer. Insistir numa questão polémica é legítimo. Insistir durante toda a entrevista... enfim. Uma insistência da qual nada se extraiu, além da posição já articulada pelo entrevistado, e pelo seu partido, quer na própria entrevista quer em ocasiões passadas. Em nenhuma circunstância deve o jornalista chamar a si o foco das atenções ou colocar-se no mesmo plano do entrevistado. Ao invés de se envolver num jogo de ténis, José Rodrigues dos Santos devia, a certo ponto, compreendendo que não retirava qualquer valor do tema, ter passado para uma outra questão.
O tema está longe de ser o mais importante para os eleitores portugueses... mesmo que, de um certo ponto de vista, possa ser enormemente relevante.
Muitos jornalistas cometeram erros aparentados ao entrevistar André Ventura, transformando entrevistas em debates.
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