Não acho que o apagamento do eu face ao nós seja bonito. Poético, talvez, Camões ilustra bem isso, mas bonito não.O apagamento do "eu" em nome do "nós" é algo bonito e poético.
O problema é que o comunismo enquanto ideologia não permite divergências, a partir do momento em que uma parte da população sai do "nós" de volta para o "eu", o sistema entra em falência, a prática falha e o modelo colapsa.
Dizia-se que quando Estaline discursava ninguém queria ser o primeiro a parar de bater palmas, porque nessa noite era bem capaz de ter uma visita da NKVD. Não sei se é verdade ou não. Também não há nenhuma relação entre este parágrafo e os anteriores mas acho sempre uma história com potencial engraçado, ainda deve haver muita gente por esses teatros ideológicos fora a bater palmas até hoje.
A diferença é um dos valores mais importantes na minha opinião e, nesse sentido, o direito à diferença é não só uma necessidade intrínseca do Homem, mas também um requisito do regime democrático. Hoje em dia, a doutrina admite que não existem direitos mais importantes que outros, estão todos na mesma posição e só no caso concreto se pode verificar qual cede. Contudo, não é erróneo dizer que só pode haver democracia estando tutelado o direito à democracia, e assim sendo podemos considerar que é dos mais importantes.
O comunismo é altamente contraditório face à diferença, uma vez que preconiza uma igualdade material extrema, reconhecendo a necessidade de tratamento díspar face às idiossincrasias de cada um, e, pari passu, promove a instrumentalização do homem e a eliminação de outro tipo de diferenças (culturais, socioeconómicas, étnicas, historicamente sexuais, individuais) em virtude dos princípios, valores e fins do comunismo.
Com efeito, o comunismo só reconhece - correção, atribui, não reconhece - direitos fundamentais na medida em que não sejam contra a sociedade (na prática, o Estado) e as suas linhas programáticas.
Marx era um excelente crítico do capitalismo e foi uma figura extremamente relevante e necessária no seu tempo. No entanto, como teorizador, era mau, muito mau. Lenin foi um psicopata que pegou em algo que já era mau e levou para outro nível.
Felizmente, certos autores, como Lassalle e Bernstein, atentos às críticas contundentes de Marx e a algumas das suas ideias basilares, fizeram uma revisão do marxismo e construíram a sua própria doutrina, doutrina essa que foi sendo atualizada conforme o tempo e que superou algumas contradições essenciais do marxismo. Falo, como é óbvio, da social-democracia.