Normalmente estou um pouco imune á cerimónia dos Óscares e premiação que normalmente segue uma lógica puramente política, ou de jogar pelo seguro. No entanto, este ano além de se ter feito história premiando como melhor filme, um filme estrangeiro não falado em inglês, foi feito a meu ver a mais elementar justiça porque foi consagrado o melhor filme do ano.
Parasite é um filme atemporal, que é ao mesmo tempo um fiel retrato dos nossos tempos, dado que retrata uma sociedade estratificada com a luta de classes, a fria falta de noção e arrogância dos de cima para os de baixo (os quais são tratados como meros serviçais), para a sua luta pela mera sobrevivência, ao mesmo tempo que foca atenção na forma como a base da pirâmide social usa esquemas para sobreviver e ter um travo da vida de quem lhes está acima.
Sempre achei que a melhor forma de passar uma mensagem, não fosse através de um discurso ou depoimento, mas sim através das metáforas com a arte, som e imagem ao seu serviço. O que foi feito em muitas cenas icónicas foi uma pintura indelével filmada com mestria e premiada com toda justiça, e a constatação final que o elevador social está quase sempre avariado.