A noite dos alquimistas
Há um poeta que diz que os sonhadores moram no fundo da paz da terra, de onde saem em noites de Lua cheia para inundar os povos de magia. São alquimistas. Gente que transforma a vida em
Ouro, que sonha impossíveis e vive para eles. Génios e artistas, tudo e ninguém, explica o poeta,
para lembrar que a ambição é limitada por cada um. No FC Porto de José Mourinho simplesmente não houve limites. Houve força, coragem, talento, trabalho e vontade de acreditar, até ao fim, que era possível. Houvesse o que houvesse. Em Old Trafford, morava um impossível. O campeão português acreditou-o ao alcance-sempre essa loucura de acreditar
-, ainda que, a dois minutos do fim, a realidade o desmentisse e um coro ensurdecedor de 67 mil adeptos lho recordasse. De repente, um livre, uma súbita inspiração de Costinha e o Manchester United caiu. O céu da Liga dos Campeões perdia a maior das estrelas, eliminada por poeira de sonho azul e branca, que já se mostrara fatal no Dragão. É magia, sim senhor. O futebol é só um pretexto. O que eles quiseram foi fazer-nos sonhar. OBRIGADO!
Nos momentos que antecederam a marcação do livre, vi o medo estampado na cara dos adeptos do Manchester e algo me disse que iríamos marcar. Depois, bem... foi o fim do mundo. Por tudo o que antecedeu este jogo (as declarações do Ferguson antes da 1ª mão e antes deste jogo, que íamos ao super-mercado comprar os títulos, as entrevistas dos jogadores ingleses acusando os nossos jogadores de meninas), por ter a consciência da importância da vitória nesta eliminatória e por saber da azia que ia provocar este feito nos nossos inimigos.
O que foi dito no dia seguinte:
MAN.UNITED 1 FCPORTO 1 ( 2ª Mão oitavos-de-Final da Liga dos Campeões)
O FC Porto não é bombom
A eliminação do Manchester em Old Trafford aos pés do FC Porto mereceu várias análises nos principais sites internacionais de Desporto. A surpresa deu lugar a cautelas porque não foi por acaso que Mourinho levou a melhor sobre Ferguson.
BBCi
Uma fotografia de um Alex Ferguson incrédulo foi o suporte que o site da BBC encontrou para o
texto sobre o jogo. Um título sem trocadilhos Manchester United eliminado encabeçou uma peça
que destaca o golo nos descontos de Costinha, alcançado , escrevem na sequencia de um erro do
guarda-redes Tim Howard.
SKY SPORTS
O site do canal desportivo codificado refere, a meio da análise, que o Manchester United deixou-se submeter à pressão do FC Porto nos últimos 25 minutos de jogo. E acrescenta que isso foi meio caminho andado para o golo tardio de Costinha diante de uma equipa que iniciou o jogo com apenas um avançado.
UEFA.COM
Uma defesa incompleta de Tim Howard na sequência do livre directo marcado por McCarthy, foi aproveitada por Costinha para o golo que anulou a vantagem que o Manchester obtivera com o golo de Scholes, escrevem. Também o site da UEFA fala de um Manchester encostado pelo FC Porto.
as.com O diário desportivo espanhol aproveitou a designação Teatro dos Sonhosdada a Old Trafford para falar num golo de Costinha que desfez os
sonhos do Manchester United. E realça que a era de José Mourinho no banco do FC Porto está a ser memorável, avisando que não será correcto pensar no FC Porto como o bombom dos quartos-de-final. Perguntem a Ferguson.
Marca.com
Ritmo frenético na parte final, o Manchester a aguentar as constantes investidas do FC Porto e um golo nos descontos que tornou dramática a noite de Old Trafford e alterou radicalmente o argumento do embate luso-britânico. O jornal espanhol coloca o nome de Costinha no título.
FC PORTO e SISTEMA
Renderam-se. Própria de quem ainda não percebeu já ter perdido há muito o Império, a soberba inglesa sofreu ontem um revés. Em Old Trafford os dragões escreveram mais uma página brilhante da sua história e do próprio futebol português. A chico-espertice dos ricalhaços do Manchester saiu-lhes cara. Bronco, apesar de Sir, Alex Ferguson arranjou um conjunto de desculpas esfarrapadas para o banho de bola sofrido há quinze dias no Estádio do Dragão e, como um capataz de muitos mérito mas sem acompanhar os tempos, adoptou a pior estratégia possível na preparação do jogo de ontem: lançou farpas, incluindo as palermices insinuantes sobre o árbitro, e ninguém o avisou de que assim só encorpava o espírito de grupo de um adversário batalhador, tanto mais guerreiro quanto acossado. Resultado: o Manchester foi sensacionalmente eliminado por um FC Porto personalizado, no qual do treinador a cada um dos jogadores ficou patente uma certeza: não encarnam o espírito da plebe que se verga reverentemente. O Império Britânico já faz parte do passado
e até o machismo serôdio ficou enterrado. À falta de bom gosto, Gary Neville assemelhou os jogadores da equipa portuguesa a um grupo de raparigas. Ai sim? O sentido estético do jogo portista deu-lhes água pela barba e mandou-os borda fora da Liga dos Campeões. Ao apurar-se para os quartos-de-final a matemática não mente: o FC Porto está já no naipe das oito melhores equipas do velho continente, confirmando a assinatura de qualidade na sua matriz de rendimento, mesmo psicológico, superiormente comandada por José Mourinho. Com uma particularidade: só neste Portugal repleto de incompetentes e invejosos ainda há quem lance a suspeita sobre o potencial portista, tentando justificá-lo com alegadas manobras de bastidores. Pode, eventualmente, especular-se sobre o rombo sofrido pelos cofres da UEFA com a eliminação do Manchester United; há, porém, uma certeza: quando se é mesmo melhor o sistema fica aturdido
É anulado.
Fernando Santos O Jogo