Primeiro contacto que tive com os seus livros foi o Memorial do Convento: Tentei 1, 2 e 3 vezes e desisti. Não consegui. Maçudo.
Passado uns meses e livre do preconceito mudei para a Jangada de Pedra. Devorei-o em 2 dias.
A minha rendição ao Saramago, definitiva, veio com o Ensaio sobre a Cegueira. Um dos melhores livros que li na minha vida. Ainda hoje me lembro onde estava a ler quando o semaforo apagou.
Li mais uns 4 livros dele e rendi-me à sua genialidade.
Era um homem capaz de partir de premissas absurdas (tudo cego, ninguem morre, iberia separada do mundo) e dar coerência à historia.
Eu acredito que se todos ficassemos cegos aconteceria grande parte do que ele escreveu. Era um génio visionário.
Achava um bocadinha exagerada aquela defesa da Iberia primeiro e da quase anexação de Portugal pela Espanha.
Hoje, depois de receber um SMS com a triste noticia, dei uma vista de olhos à net. Publico, Estadao e El País.
Depois passei por aqui, Os comentários no Publico, no Estadao e aqui no forum definem muito daquilo que somos. Brasileiros e portugueses.
No El País tinha o triplo dos comentários do Publico e do Estadão juntos. Um enorme respeito pelo homem e uma profunda admiração pelo escritor.
Ali, ao contrario do que aqui se lê e do que ali se via não havia lugar para o ressabiamento, para o desrespeito e para a pequenez de quem se põe em bicos de pés neste hora que devia ser de respeito.
Não defendo a tese de que quem morre deve ser endeusado e que tudo o que fez era bom. Mas não me imagino a celebrar ou a vomitar ódio por ninguém que acabe de morrer. Chame-se ele Farinha, Cartaxana, Pinochet ou Saramago. Por uma questão de decência.
Aqui, no Publico e no Estadão interessa tudo menos o que ele escreve.
Comunista, Anti-Semita, Ateu, Patriotismo, Sexualidade, Fuga aos Impostos, Habilitações Académicas bla bla bla.
Mais de metade não leu um livro dele sequer.
Só hoje é que o percebi. Nem ibérico desejei ser. Quis mesmo ser espanhol. E compreendo o amor que ele tem por Espanha.
Amar quem nos respeita. Fugir da pequenez.
Lembrei-me duma frase do PdC:
\"O FC Porto está a mais no país que temos, mas é necessário para o país que queremos.\"