No meu entender, esta questão da Carta Aberta deve ser dividida em duas partes:
A primeira o seu conteúdo. Não é nada que já não se tenha lido um pouco por todo o lado em toda a Blogosfera Portista. A gestão do Clube nos últimos anos é algo que pode e deve ser questionado e escrutinado, até porque as evidências mostram que tem havido muitas falhas, algumas bem graves e com enorme prejuízo para o Clube. Este primeiro ponto parece-me inquestionável e não vejo nenhum mal, muito pelo contrário, que haja sócios a procurar abrir o debate em relação ao tema, criando alternativas e propondo soluções (neste caso a Carta Aberta apenas incide sobre a primeira situação mas já é qualquer coisa).
A segunda parte está relacionada com o timing, forma e objectivo da Carta Aberta. Começando pelo objectivo: pede-se a demissão da actual SAD. Para mim começa logo por aí o primeiro erro de abordagem. Parece-me óbvio que esse é um cenário irreal, e quem quiser ser alternativa a Pinto da Costa tem que ser suficientemente inteligente para perceber isso: ele não se irá demitir, por uma questão histórica, por uma questão de orgulho e por uma questão de estabilidade. Logo, quem quiser ser uma alternativa tem que projectar a sua "campanha" para as próximas eleições. De facto, ainda falta algum tempo, mas isso até me parece que poderia funcionar a favor de quem se propõe como alternativa. Primeiro porque daria mais tempo para se dar a conhecer e explanar as suas ideias, e segundo porque pressionaria a actual Direcção, porque caso os resultados sejam negativos (quer desportivos, quer financeiros) maior projecção ganha essa tal alternativa.
Em relação ao timing e à forma, trata-se de outro erro estratégico. Por mais que se possa pensar que se trata de uma candidatura bem intencionada, o timing da mesma é um pouco incompreensível, até mesmo para seu próprio prejuízo. As atenções dos Portistas neste momento estão um pouco dispersas entre a Silly Season e o caso dos E-mails e o "ponto alto" sobre a questão do Fair-Play Financeiro foi já há umas semanas, pelo que não me parece que esta fosse a melhor altura para trazer à tona este debate. Já para não falar que esta Carta Aberta vem dar peso ao argumento que o clube do regime tem utilizado para se "justificar" em relação aos e-mails: estamos a tentar desviar o foco dos nossos problemas internos. Assim, é impossível não associarmos esta Carta Aberta a uma agenda do regime, embora tal possa não passar de uma infeliz coincidência.
Também a forma utilizada para divulgar esta Carta Aberta é algo que é-me difícil de entender. Mesmo considerando que a mesma foi igualmente enviada para outros jornais que optaram por não a publicar, nesta altura há tantas formas de se divulgar informação que nem seria preciso divulgá-la num jornal, muito menos no jornal em questão, que obviamente se aproveitou disso para ajudar no "lobby" do regime. Com as redes sociais, os fóruns, blogs, etc., não seria nada complicado divulgar amplamente esta Carta Aberta sem "ajuda" desse papel higiénico. E se realmente a insatisfação no seio Portista é assim tão grande ao ponto de se pedir a demissão da SAD, então a sua divulgação seria ainda maior se fosse oriunda do "seio Portista" e não do jornal em questão.
Em suma, se por um lado a aparição de uma alternativa é algo que vejo como positivo e até natural, por outro lado não me identifico nem um pouco com a abordagem escolhida, e acho que perde pontos logo à partida por isso. Que sirva ao menos para que outros potenciais candidatos comecem a ganhar coragem para se assumirem.