Uma discussão muito interessante em que estamos em desacordo.
O conceito tradicional de assistência confunde-se com "passes intencionais para golo". Grosso modo o conceito usado na fantasy league que se joga aqui.
Esse conceito traz dois problemas. Um é o da subjetividade. Qualquer passe que resulte em golo conta como assistência ou só se originar diretamente o golo? Um passe para o lado a meio campo pode ser uma assistência se o jogador que recebe a bola fintar dois ou três e marcar num remate a 40 metros ou fizer uma jogada à Maradona e fintar toda a gente até à baliza? Onde está o limiar da assistência, do passe para golo? E como se distingue um remate de um passe intencional?
O outro problema é o da perda de informação. Qual a vantagem de desconsiderarmos ações que dão origem a golos apenas porque não encaixam no conceito tradicional e restrito de assistência? Estaremos a ganhar algo em termos de análise?
Exemplo: o nosso golo contra o regime. O Taremi remata e a bola sofre um ligeirissimo desvio não intencional no Marega. O golo é atribuído e bem ao Marega porque a bola entra por bater nele. Mas, como o Taremi rematou e não passou a bola, já não conta como assistência. O contributo absolutamente decisivo do Taremi nesse golo fica, assim, esquecido.
Eu prefiro o conceito alargado de assistência porque considero que me dá mais informação relevante e é mais objetivo. Para mim, todos os golos deveriam originar (ou ser originados por, para ser mais rigoroso) uma assistência, com a excepção dos golos após passe de um jogador da equipa que sofre.
No caso dos penaltis, que têm uma taxa média de concretização em torno dos 75%, salvo erro, acho muito bem que sejam considerados como assistências no caso de serem concretizados. Acho tenho melhor informação com as 13 assistências do que com 5 ou 6 e depois ter de procurar uma qualquer outra estatística oculta de penaltis sofridos concretizados. A única coisa que acho que seria de discutir era o caso do penalti ser concretizado por quem o sofre. Se se deve considerar apenas o golo, que é o que é feito ou se deveria contar um golo e uma assistência para o mesmo jogador.
Compreendo a argumentação, embora mantenha as reservas.
Imagine-se diferentes cenários:
a) um jogador efectua um passe de escassos centímetros para trás, a cinquenta metros da baliza a adversária, e o receptor do passe surpreende o guarda-redes adversário com uma chapelada olímpica;
b) um outro jogador é derrubado em falta dentro grande área, dando origem a uma grande penalidade convertida (imagine-se que chuta no interior da área e o adversário intercepta-a com a mão);
c) na marcação de um livre indirecto, um jogador pisa a bola, aplica-lhe um pequeno toque, e o colega acaba por obter um golo;
d) um jogador faz um passe rotineiro a um colega, que recebe a bola distante da baliza e tem um acesso de genialidade fulgurante, finta meia equipa adversária e marca golo;
e) um jogador isola o avançado, que introduz a bola na baliza (ou a golo surge de um cruzamento).
(Não me prendo na questão específica da grande penalidade, sublinhando no entanto que em todos os outros exemplos dois jogadores da mesma equipa interagem na mesma jogada, ao contrário do caso "asssistência por grande penalidade conquistada"; tratando-se, a meu ver, de uma situação em si distinta)
São acções substacial e qualitativamente diferentes, que reflectem capacidades individuais e contextos de jogo distintos, embora possam ser agrupadas sob o mesmo chapéu de "assistência". Mas fará isso sentido? Ou estaremos a uniformizar coisas de diferentes naturezas? O desporto, o futebol em particular, é um fenómeno complexo que não se presta a quantificações imediatas. A complexidade própria do jogo deve ter expressão na sua tradução estatística; e essa tradução, se se pretende fiel, deve ir além de uma objectividade cega. Qualquer pessoa consegue observar que um cruzamento não é o mesmo que uma grande penalidade sofrida. Ao atribuirmos o mesmo algarismo aos dois factos, ganhamos mais dados mas não necessariamente mais e melhor informação. Pelo contrário, distorcemos informação, misturamos informação relevante com outra de pouco interesse.
No caso concreto da grande penalidade conquistada, a ser contemplada como assistência, deveria então cair numa esfera mais abrangente, de contributos necessários/últimos para golo ("assistências" + "grandes penalidades conquistadas") ou algo que o valha.
Eventualmente será muito mais fácil não introduzir critérios qualitativos nem detalhar a estatística de forma a reflectir as várias realidades; aceitando-se essa opção se a finalidade tem que ver com uma fantasy league. No entanto, para um profissional do meio, um analista, um "scouter" ou simplesmente alguém que pretende compreender o contributo dos jogadores em campo, as suas características futebolísticas, etc. etc. etc., importará ter acesso a melhor informação.