Eu ia para o Marco Silva enquanto ainda podemos.
A Chave para se montar uma equipa compacta e consistente, para que produza nos jogos e alcance os resultados desejados é ORGANIZAÇÃO. Sem organização resta o que vemos no Porto de Nes, uma equipa que não sai em ataque organizado, sem estudo, que não se guia por nenhum plano de acção, por nenhum conceito de jogo gizado no treino, e que em todos os jogos perde o controlo emocional e desata a jogar em desespero no chuveirinho ou na bola bombeada, que afunila o jogo, que não tem linhas de passe, e que, inevitavelmente, desperdiça pontos sem fim.
Prefiro uma equipa mais modesta que jogue organizada do que um plantel com meia dúzia de vedetas a jogar ao deus dará, pois das duas, a que joga organizada dar-me-á muitas mais garantias de sucesso a longo alcance.
Passando à frente mas relacionado com este conceito FUNDAMENTAL da Organização de jogo, há treinadores que dominam este conceito e que saem vitoriosos com ele, e há outros que não. Nes não percebe patavina deste assunto. Não sabe, não nasceu para isto. É um treinador mediano, banal, jamais se destacará em nada porque não é um treinador táctico, não tem esse know how.
Mas um treinador que saiba montar uma equipa organizada, esse sim, é o treinador que temos que procurar.
Quando o Porto erradamente estendeu o prazo de validade a Jesualdo, quando já todos víamos que a fórmula estava esgotada, e ele fez uma última época pré-anunciadamente aquém, eu recordo-me que havia aqui neste espaço arautos da desgraça que diziam que seria um erro tremendo mudar, que Villas Boas ia ser uma catástrofe, e depois a História encarregou-se de nos contar a realidade.
Quando o Villas entrou, todos nós não sabíamos muito bem com o que contar. Era um puto novo, sabíamos que tinha escola com Mourinho, o que era um grande plus, mas temíamos que ainda fosse imaturo demais para um cargo deste calibre. E então nos primeiros jogos estávamos expectantes para saber o que ia sair dali. Logo de começo os sinais foram bons, aquela vitória frente ao benfica na supertaça deixou-nos logo agradados com ele, mas para mim o momento decisivo onde o Villas me demonstrou que sabia da poda e que estava em controle da situação foi a 21 de outubro desse ano, quando fomos jogar a casa do Besiktas para a Liga Europa.
Entrámos a ganhar nesse jogo com um golo do Falcao, mas ainda na primeira parte perdemos o Maicon, que levou um vermelho perto dos 40 minutos, e nos deixou a jogar com 10 ao longo da restante partida. E foi aí que eu vi o génio e a qualidade de Villas na sua ORGANIZAÇÃO de jogo. Mesmo com menos um elemento em campo, a equipa não se desfragmentou, não se acobardou, não perdeu o foco nem a confiança e manteve-se fiel ao plano de jogo, ao seu esqueleto organizacional. Com 10, e num campo difícil como o do Besiktas, marcámos o 2º e o 3º golo e aí eu vi de que casta era feito o André. Era um acima da média e tive a confiança que com ele seríamos muito felizes. E fomos.
Só um grande treinador, e numa situação adversa num jogo fora de casa, conseguiria com 10 jogadores fazer um resultado daqueles, porque a equipa estava com escola, tinha organização, que é a raiz de TUDO.
O Marco Silva tem um percurso bestial no Estoril, venceu um título num Sporting que passou a temporada a querer tirar-lhe o tapete debaixo dos pés e foi à Grécia ser campeão num percurso imaculado. No Hull, tem vencido etapas semana após semana, quando já não havia esperança para eles.
Este fim de semana (foi ontem), o Hull recebeu o Watford em casa e precisava da vitória como de pão para a boca, na fuga à despromoção. Viu um seu jogador a levar um vermelho directo aos 25 minutos com o resultado ainda a zero. A equipa jogou os restantes 65 minutos + descontos reduzida a 10 e acabou a partida com uma vitória por 2-0.
Eu já não tinha muitas dúvidas quanto ao Marco, mas ontem dissipei-as por completo. Organização.