DIZ-ME COMO COMES, DIR-TE-EI COMO JOGAS
?O nutricionista Vítor Hugo Teixeira e o chefe Manuel Vaz são peças fundamentais na preparação dos Dragões
Vítor Hugo Teixeira e Manuel Vaz integram a comitiva do FC Porto que parte esta quinta-feira para a Alemanha, para o segundo estágio da equipa, mas a sua importância para o rendimento dos atletas não se resume à pré-temporada. O primeiro, de 40 anos, é nutricionista e desenha as ementas dos jogadores, procurando o seu máximo rendimento; o segundo, de 46, é o chefe que acompanha os Dragões em todas as deslocações, incluindo os estágios, claro. A actividade de ambos funciona em estreita colaboração: afinal de contas, de que vale um plano nutricional ideal se os olhos não comerem?
O nutricionista é um elemento de interface entre o preparador físico, o médico e o cozinheiro. Movo-me entre estes grandes artistas. Podemos fazer um plano perfeito, mas, se os jogadores não gostarem do aspecto das coisas, ele não funciona. Trabalhamos com nutrimentos, uma mistura de nutrientes e sentimentos, e procuramos que eles nos façam sentir que, apesar de estarmos noutro país, somos uma família, explica Vítor Hugo Teixeira ao
www.fcporto.pt. No caso dos estágios, as ementas são preparadas com muita antecedência, bem como é envidado para hotel um conjunto de regras muito grande, reunido num documento que ultrapassa as 20 páginas.
No hotel onde a equipa estagia, o chefe Manuel Vaz, do Hotel Solverde, comanda a cozinha e assegura-se de que tudo é feito ao gosto português. A equipa tem várias nacionalidades e temos de nos adaptar ao costume deles. Visto que vivem cá, seguimos os condimentos portugueses e baseamos tudo no alho, cebola, tomate
Na cozinha do hotel, eu digo o que quero, coordeno e eles tentam ajudar, revela. Nem tudo é igual para todos os jogadores e há que ter em conta alergias, intolerâncias e até questões religiosas. Não se pode correr o risco de um intoxicação alimentar e há muitas variáveis para controlar.
Vítor Hugo sublinha que, numa pré-temporada, os atletas não se apresentam nas mesmas condições. O objectivo é que, no arranque , todos tenham uma composição corporal óptima, com uma massa gorda baixa e uma massa muscular adaptada ao esforço que têm de realizar. Para além disso, há que ter em conta que cada treino é uma agressão para o organismo e que é desejável optimizar a adaptação e minimizar o risco de lesões.
Todos os cuidados desembocam no rendimento em campo e nos momentos de grande intensidade. Os últimos 20 minutos, em particular, são muito menos intensos, a não ser que haja substituições. As causas dessa fadiga têm a ver com a diminuição das reservas de glicogénio muscular, hipoglicemias e desidratação. Isso é nutrição pura. Se conseguirmos aumentar as reservas desta energia rápida, vamos ter um desempenho intenso durante 90 minutos, detalha o professor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, doutorado em Nutrição Humana.
No final, tudo se resume a uma alimentação mais saudável: Às vezes esquecemo-nos disso e alguém dizia recentemente que os suplementos estão para alimentação como o perfume está para o banho, compara Vítor Hugo. Os hidratos de carbono e as proteínas não podem faltar e as massas e arrozes, nas suas versões integrais, são um clássico, mesmo que diversificadas com condimentos e sabores diferentes. Porém, há surpresas que não são bem-vindas: Na Venezuela, em 2013, tinha pedido linguado para uma refeição, só que quando cheguei à cozinha tinha um panelão de línguas de vaca a estufar. Fizeram mal a tradução e em vez de peixe estava isso tudo ao lume. Tive de improvisar, recorda Manuel Vaz, com um sorriso.