E essa presença tendeu a se reduzir, e ver os preços aumentados, após a privatização. Daí a nacionalização da TAP ser positivo para a coesão territorial e para restabelecer a importância do restante território português fora da capital.
Acho sempre curioso que, quando se falam de apoios estatais a privados, a argumentação da direita perde o pio naquilo que são os malefícios das privatizações e no capital que lhes é injetado. É isso e o mito que os bons gestores só existem no privado e que não é possivel ter bons gestores no público.
O Estado assumiu os ativos tóxicos do BES e deu de mão beijada os ativos viáveis a privados, e desde aí já vamos em mais de 5 mil milhões injetados no Novo Banco. A direita assobia para o ar, quando o que devia ter acontecido era a nacionalização do BES que já nos teria poupado milhares de milhões.
Privatizou-se a TAP por 10 milhões e agora, no mínimo custará 1200 milhões de euros para a reaver, mais o que não custará a sua restruturação. Fico pasmado, como agora vi na TVI24, o comentador referir que algum capital deveria necessariamente ter de ficar no privado para a TAP ter a possibilidade de ter uma gestão eficaz.
Os preços da TAP já eram elevados e um luxo para os portugueses antes da privatização. Não é uma questão de esquerda e direita, por muito que as pessoas continuem a levar tudo para esse lado, infelizmente, levando a que as discussões sejam estéreis. O que importa é perceber que efeito terá a nacionalização da TAP no bolso dos portugueses e das gerações futuras, e é por isso que muita gente, mesmo de esquerda e do PS se têm mostrado contra a nacionalização da TAP. Isto não é uma guerra Público x Privado, esse tipo de argumentação não levam a lugar nenhum e é tudo o que não precisamos. Se de facto a TAP tivesse problemas, mas fosse uma empresa viável, a nacionalização faria todo o sentido, o problema não está na nacionalização, está naquilo que representará para os portugueses e para as gerações futuras.
É tudo muito bonito, mas qual é o plano do governo e do ministro Pedro Nuno Santos para a reestruturação da TAP? Quanto vai custar ao Estado? Quantos trabalhadores vão ser despedidos? A Lufthansa vai despedir 40% dos seus trabalhadores, quantos trabalhadores terá que despedir a TAP dos seus 10.000? A TAP deu prejuízo de 400M€ no primeiro trimestre sem a pandemia, quanto de prejuízo é que vai dar no pós-covid? No Porto, apenas 19% do total de passageiros provêm de voos da TAP, no Algarve anda perto dos 3%, na Madeira não chega aos 20% e nos Açores não chega aos 15%. Qual coesão territorial? Isso é sequer argumento?
O Pedro Nuno Santos diz que se a TAP acabar os será impossível substituir os voos da companhia por outros voos a curto prazo. Sabes o que aconteceu no Porto quando a TAP decidiu acabar com várias rotas para Londres, Alemanha, etc? No dia seguinte já haviam companhias aéreas a substituir os voos da TAP, como a British Airways e a Lufthansa, repito, no dia seguinte. Portanto, é mais um argumento que não faz qualquer sentido.
Outra coisa que não faz sentido nenhum são as comparações com os empréstimos a outras companhias aéreas, a Lufthansa que é de quem se fala mais, vai receber um empréstimo do estado alemão que significa o dobro das suas receitas operacionais me 2019. Os 1200 milhões de € que se fala para a TAP, representam 130 vezes os proveitos operacionais da TAP em 2018. Mas alguém no seu perfeito juízo acha que o Estado vai conseguir reaver o dinheiro que vai investir na TAP? É utópico.
Temos também ter em consideração o que significarão os próximos 2 anos na aviação mundial. Se a TAP no período em que o turismo atingiu o seu ponto máximo em Portugal, teve um prejuízo descomunal, o que é que vai acontecer daqui para a frente? Para que é que vai servir a TAP?
O que eu vejo é que quem defende a nacionalização da TAP o faz puramente por uma questão ideológica ou sentimental.
Eu acho que é bom para o país ter uma companhia aérea portuguesa, por diferentes questões que já foram apontadas e são válidas, mas a TAP será apenas mais um buraco negro que vai absorver milhares de milhões de € aos contribuintes portugueses e futuras gerações. O mais sensato seria deixar cair a TAP e criar uma nova companhia aérea de raiz, absorvendo parte da mão-de-obra da TAP, criando uma empresa mais pequena, limpa e com capacidade para atrair investidores privados incluindo portugueses para fazerem parte do capital da companhia aérea juntamente com o estado, que é algo que é completamente impossível com a TAP, pois ninguém no seu perfeito juízo vai querer investir numa companhia aérea sem qualquer tipo de futuro e que está condenada à falência. A falência controlada da TAP e criação de uma companhia aérea de raiz, mais pequena e eficiente, teria muito menos custos para os contribuintes e seria muito mais benéfico para o país.
O grande problema é que continuamos com as guerras ideológicas, principalmente na pessoa do ministro Pedro Nuno Santos, que em cada intervenção que faz aproveita sempre para atacar de forma brejeira e corriqueira os privados e os liberais. Ele próprio um neo-marxista assumido, que ameaçou a Alemanha dizendo que Portugal se quisesse nem sequer pagava a sua dívida, e só o facto de neo-marxista e estar no PS e não no Bloco de Esquerda, diz muito do carácter e da moral deste tipo de pessoas que vão para a política unicamente à procura de tacho. Para o país, é terrível um governo ter ministros com este tipo de fanatismo ideológico e inflexibilidade política.