Estamos completamente de acordo, isso aplica-se na perfeição ao André Ventura e ao Chega.
O meu único problema com o teu comentário é que isso não é apenas uma descrição da forma como os partidos extremistas de direita fazem política, é uma descrição de como se faz política em Portugal e no mundo de forma geral, obviamente tirando a parte do racismo e da xenofobia.
Dirigir a culpa dos problemas da sociedade a minorias? É bastante comum em política. Do lado da esquerda são os patrões, a iniciativa privada, os empresários, os mais ricos, mesmo que a muitos deles tenham trabalhado a vida toda para ter o que têm. Na direita, todos nos lembramos certamente da forma como Paulo Portas, quando era líder do CDS, usou as pessoas que recebiam rendimento mínimo como alvo da sua campanha. Usar uma minoria como alvo para ganhar apoios em determinado eleitorado é uma prática muito comum.
Actuar conforme as circunstâncias do momento e o que é mais popular? Isto então é o pão nosso de cada dia em qualquer parte do mundo. Ainda me lembro quando o Obama dizia publicamente e intransigentemente que era contra o casamento homossexual, numa altura em que ainda era um tópico que não gerava consenso na sociedade americana, mesmo que houvesse uma maioria favorável. A partir do momento em que passou a ser consensual, Obama passou a ser completamente a favor do casamento homossexual. O mesmo se aplica a Hillary Clinton. Há muitos outros exemplos, as políticas ambientais passaram a ser bandeira da esquerda quando passou a ser um assunto consensual, especialmente entre os jovens, e este é um assunto que me diz bastante e ao qual estou intrinsecamente ligado no meu dia-a-dia. As políticas ambientais em Portugal eram um desastre total e já se discutia bastante o ambiente ali nos finais dos anos 90 início dos anos 2000, não era de todo uma prioridade da esquerda. Agora que se tornou fulcral e até de certa forma moda defender o ambiente, mesmo que de forma inócua, passou a ser uma das bandeiras e um dos pilares da política da esquerda.
É assim que se faz política e é também que o populismo é uma parte intrínseca de qualquer político e qualquer partido. Os políticos estão sempre à procura dos assuntos que são mais populares no seu eleitorado e no seu potencial eleitorado.
As pessoas olham sempre muito mais para a forma do que para o conteúdo, e é também por isso que estes partidos novos e estas figuras de extrema-direita têm ganho um determinado eleitorado, as pessoas estão fartas de políticos com discursos muito polidos e politicamente correctos e quando aparece um tipo com um discurso corrosivo, por mais abjectas que as suas ideias sejam, terá sempre um determinado potencial de crescimento. E há outras pessoas que por mais aldrabão que um político possa ser, se tiver um discurso político polido e for simpático e popular, estilo Marcelo Rebelo de Sousa, vai sempre captar a sua atenção.