Faltou-me dizer isso John.
A esquerda hoje preocupa-se mais com questões identitarias e de género, do que com as questões sociais e económicas.
Por exemplo ontem vi uma das Mortágua toda indignada no Twitter, porque a fnac tem uma seleção de livros para homem e para mulher... Tipo como sugestão para oferecer no natal.
Estamos no meio de uma pandemia, virá a maior crise económica e social da história das democracias liberais, já existe uma crise brutal em surdina e um alto dirigente do bloco está preocupado com as escolhas duma empresa privada.
Depois acordam no dia a seguir às eleições petrificados, indignados, a insultar o povo e a perguntarem-se o que é lhes aconteceu.
Um bolsonaro chegou ao poder, não foi por causa de questões morais nem de género, foi pela pobreza e pela criminalidade.
Houveram ditaduras nos anos 30, não foi pela corrupção nem por questões de género, foi pela fome e por uma ausência de esperança no futuro.
A morte da esquerda radical vai ser esta e eles ainda não se aperceberam.
Falam em códigos uns para os outros. Formam uma elite, que eles tanto odiavam, que se agradam uns aos outros.
Chamam deploráveis e facistas e quem se atreve a questionar seja o que for.
Deixaram de lutar pelo povo e passaram a lutar pelas suas causas pessoais e pelos seus ideais.
O PC fazia isso, conheço tanta gente, mas tanta, que votou PC toda a sua vida ( mesmo não sendo comunista ) que vão votar no chega.
Votavam porque sentem que os comunistas os defendiam e falavam para eles, e deixaram de votar porque eles entraram na negociata da geringonça.
O chega bem substituir o PC em termos de votantes, que com muita pena minha vai acabar por definhar.
Sim, também muito por aí.
Parte da esquerda ocupou-se de causas pós-modernistas sem qualquer valor real ou validade científica. O feminismo já deixou de ser uma causa justa, agora ou és feminista radical ou então fazes parte do patriarcado opressor. Tens obrigatoriamente que recusar a biologia e o dimorfismo sexual, já não chega lutar para que homens e mulheres tenham os mesmos direitos e sejam tratados da mesma forma, agora tens que dizer que o homem e a mulher são iguais e que a biologia e os determinismos genéticos não são reais e que as diferenças entre sexos devem-se somente à cultura e à socialização, apesar de existirem uma miríade de estudos que demonstram claramente que as crianças com menos de 2 anos, preferem determinado tipos de brinquedos de acordo com o sexo. A maioria das crianças do sexo masculino, mesmo antes de qualquer tipo de socialização, prefere brincar com bolas, a maioria das crianças do sexo feminino prefere brincar com bonecas. Mas há quem ache que isto é problemático e que as crianças devem ser educadas de forma neutra e devem ser eles a decidir qual o seu sexo e género.
Há também o construtivismo social, um ideia peregrina, há muito tempo refutada pela ciência e que voltou a ganhar novos adeptos nas ciências sociais e na sociedade.
E as políticas identitárias, a esquerda anti-racista, agora coloca rótulos em tudo e cria mais divisões que os próprios intolerantes. Já não chega seres o Joaquim, a Teresa, o Manuel. Agora és a Rita, transracial, não binária, cissexual às segundas-feiras, transsexual às terças, unicórnio às quartas-feiras, etc.
E aqui em Portugal isto ainda é bastante soft, nos EUA atingiu proporções assustadoras e continua a crescer.
Depois é pena que isto se confunda com causas justas e que valem a pena, como o feminismo verdadeiro, a luta contra o racismo, a luta pelos direitos dos LGBT, etc.
Sim, há mesmo muita gente que votava PCP e que está a escapar para o Chega, acho que se está a ver isso com maior evidência naquelas zonas do Alentejo onde o PC tinha imensos votos e onde o Chega está a crescer bastante.