Vai por aqui muita confusão, o capitalismo é apenas um sistema económico baseado na propriedade privada dos meios de produção, já o comunismo é uma variante de socialismo que é uma filosofia moral que pretende ser entre outras coisas um sistema politico e um sistema económico, sendo o comunismo a variante mais radical que pretende (entre outras coisas) a propriedade colectiva dos meios de produção.
Nesse sentido obviamente que representam visões opostas de sistemas económicos, no entanto o capitalismo não é um sistema politico e muito menos uma filosofia moral, o capitalismo pode ser habitado por todo o tipo de sistemas politicos (e foi ao longo da história), até é inclusive hoje habitado (em parte) por paises que se dizem comunistas mas que (de forma passageira ou talvez não, o futuro dirá) abdicaram daquilo que eram muitas das ideias clássicas associadas ao que seria um sistema económico fruto dessa ideologia.
Mas voltando ao capitalismo, e porque aqui se discute aquilo que ele possibilita ou não ao nível da exploração humana, eu volto a repetir que o capitalismo é apenas um sistema económico e não sendo uma filosofia moral a sua única preocupação é naturalmente a optimização da economia, portanto obviamente que se tiver sobre si um sistema politico que não tenha problemas com a exploração humana nunca será o capitalismo que oferecerá grande resistência a isso, porque essa mesma exploração pode ser (e certamente terá sido ao longo da história em muitos momentos) a forma mais eficiente de optimizar a economia.
Mas isso também acaba por ser uma falsa discussão, porque quando eu discuto a minha oposição ao comunismo é baseado antes mesmo da discussão sobre o sistema económico, na discussão sobre o sistema politico e na filosofia moral que sustenta ambos, e nesse sentido a minha filosofia moral é o liberalismo, o sistema politico que defendo é consequentemente o liberalismo clássico, e só depois e como resultado disso o meu sistema económico de escolha é então o capitalismo por respeitar os direitos de propriedade privada e de escolhas individuais.
Mas isso não significa que eu não seja capaz de diferenciar entre o capitalismo praticado por sociedades não democráticas, ou mesmo algumas que se diziam liberais mas que não estendiam esses mesmos direitos a toda a sua população (por exemplo os EUA antes da guerra civil) daquele que é praticado hoje em dia na maior parte dos países ocidentais, obviamente que a diferença está na forma mais intelectualmente honesta como as pretensões do liberalismo são praticadas hoje em dia da forma como eram praticadas então (de forma selectiva).
Ou seja, sendo apenas um sistema económico o capitalismo estará sempre depende da forma como casa sociedade vê o seu sistema económico e aquilo que entende ser o mais importante a retirar do mesmo, se dar maior enfâse a crescimento económico ou à redistribuição social, isto para não falar de todo outro tipo de interesses que normalmente também orientam essa discussão.
No entanto nunca houve uma democracia liberal sem capitalismo, nem poder haver, se a base da democracia liberal são as escolhas e direitos individuais o único sistema económico compatível é mesmo o capitalismo porque as permite, podendo depois o espectro desse dueto ir dos estados providência dos países escandinavos aos países anglo saxónicos como os EUA dentro de uma visão mais minimalista do estado, porque mesmo dentro da democracia liberal existem várias visões sobre aquilo que deve ou não ser permitido ao capitalismo mesmo que este seja o seu sistema económico de escolha.
Isto tudo para comentar a relação que aqui se comentou entre escravatura e capitalismo, convém explicar que a escravatura existe desde sempre na sociedade humana, e todas as sociedades a praticavam (e algumas ainda a praticam) sendo que ironicamente a primeira a abandonar e a eventualmente a convencer outras a fazer o mesma, acaba por ser a que hoje em dia é acusada de ter ganho mais com isso.
Quando os países europeus começaram a sair do seu continente na procura de novos mercados e de extensões territoriais aquilo que fizeram foi expandir estruturas que já existiam nesses mesmos locais, e aliás em alguns casos até copiaram ideias que outros tiveram como no caso do comércio transatlântico de escravos para as américas ter sido copiado da sua versão árabe que tinha lugar no Indico, tudo isto com a conivência dos impérios africanos que eram quem comprava e vendia esses mesmos escravos, esse é aliás um problema que ainda existe nesse continente onde ainda existem actualmente mais escravos negros que em qualquer momento da história no continente americano.
Mas obviamente que quando os países europeus viram uma oportunidade para ganhar dinheiro e rentabilizar as suas colónias com a escravatura, foi isso que fizeram à luz da moral de então (ou da falta dela neste caso), e o capitalismo sendo apenas um sistema económico cumpriu o seu papel e facilitou a optimização, sendo que no entanto e ironicamente foi o mesmo capitalismo que depois levou a que a escravatura deixasse de ser economicamente viável quando criou a industrialização.
Já em relação ao comunismo e apesar de ideologicamente se apresentar como o oposto de um sistema que envolve o trabalho forçado, a realidade é que as únicas vezes na história em que fora as concessões que fez ao capitalismo como acontece na China actual, em que conseguiu crescer a sua economia de forma razoável, foi num contexto que envolveu trabalho forçado e desrespeito pelos direitos dos trabalhadores tal como logo após a 2ª Guerra Mundial na industrialização promovida pelo Estaline, e mesmo assim e como se veio depois a verificar, foi algo que não foi sustentável durante muito tempo.