Por momentos, pensei que estava a ouvir o Passos Coelho a falar há uns 12 anos, a promover o corte das gorduras do Estado. Ou o Ventura a falar em subsídio-dependentes. Esta conversa meteria piada se não fosse altamente prejudicial, com dois problemas à cabeça:
1. Dá a entender que os portugueses são preguiçosos, que não querem fazer o trabalho de ralé
2. Defende os imigrantes mas, a par e passo, instrumentaliza-os, isto é, argumenta num sentido puramente económico, descurando que estamos a falar de vidas humanas, que têm dignidade.
Sobre o primeiro ponto: os portugueses não fazem esses trabalhos, uma vez que não lhes pagam o que merecem. Uma certa esquerda deixou simplesmente de defender os trabalhadores portugueses e fazer valer os seus direitos - deixaram de lutar pela subida de salários dos trabalhadores portugueses, para, por outro lado, colmatar o problema com uma imigração excessiva. Os empresários, que curiosamente defendem a imigração, preferem tratar os imigrantes como escravos, pois não conseguem fazer o mesmo com os portugueses.
O partido que governou o país nos últimos anos apostou na imigração desregulada, com dois objetivos em mente: vantagens económicas e vantagens eleitorais.
E aqui entra o segundo ponto: o argumento é quase sempre de base económica, esse mesmo a que tu recorreste. O que se espera, claro, de um neoliberal, mas é triste ver supostos progressistas, tipos de causas, a defender um modelo desses; um modelo em que dezenas de imigrantes vivem num espaço pequeno, não raro a passar fome, não raro a receber abaixo do salário mínimo legalmente imposto. E é triste ver muitos progressistas sem noção da realidade, da realidade árdua e infeliz: o Estado Social ocidental, conforme o conhecemos, está nas portas da morte. Nós começamos a não ter capacidade para prestar condições dignas mínimas aos que são de cá, quanto mais aos que vêm. Mas o cinismo e a cegueira ideológica tolda o raciocínio - ninguém decente criticaria um aumento de imigração anual na ordem dos 50 mil, no entanto assistimos a um aumento na casa dos 100, 150 mil. É incomportável. Fazemos mal a quem vem e fazemos mal a quem já está cá.
O MP e os OPC não devem obedecer a perceções, a armas de arremesso político. É uma zona perigosa, e por isso mesmo merece operações daquele tipo.
No mesmo dia, no Porto, aconteceu uma num célebre bairro. Ninguém comentou. Porquê? Os delinquentes eram brancos. Os únicos que associaram imigração a criminalidade foram a extrema-direita e a esquerda (sim, o PS inclusive).
Será que, caso volte atrás no fórum, verei o MiguelDeco indignado com uma rusga que aconteceu em fevereiro de 2024? Ou em 2023? E por aí adiante...
Voltamos à instrumentalização económica dos imigrantes. Enfim, é ver o que foi escrito acima. Organização de ideias: i) existem várias formas de resolver ou atenuar o problema da segurança social; ii) imigração em massa não é uma delas; iii) não faz sentido representar os imigrantes como um grupo único, afinal vêm de países diferentes, e contribuem assim de formas distintas - existem uns mais ricos, outros mais pobres...e alguns são beneficiários da SS; iv) um dia, os imigrantes serão cidadãos portugueses.
O Miguel Deco diz acima que "vêm para cá trabalhar vem porque nos seus países de origem vivem na pobreza". Ora, vêm sem posses. O elevador social é algo disfuncional, para todos os efeitos. Quando alguns imigrantes se tornarem portugueses, serão beneficiários da SS, precisamente por serem pobres e por fazerem "trabalhos que ninguém cá quer fazer", em rigor mal pagos... Acontece, porém, que o nosso Estado social não tem capacidade para um número tão grande...
Nao. Portugal só cumpre 4% das ordens de expulsão.