Actualidade Nacional

Edgar Siska

Presidente da Associação Ódio Eterno ao Panelas
9 Julho 2016
80,796
141,166
Conquistas
8
Ao pé da praia
  • Alfredo Quintana
  • Maio/21
  • Junho/22
  • Agosto/22
Sendo institucionalista e tendencialmente formalista, o anarquismo é algo que me repugna particularmente.

Mesmo um Reino do Pineal não é anárquico. É impossível a mais pequena das comunidades subsistir durante muito tempo desse modo.

Os anarquistas vão beber à teoria do direito natural, que a propósito não rejeito. No entanto, o direito natural tal como eles o concebem não é suficiente para regular o quotidiano. Os romanos perceberam isso há muito, mas os anarquistas ainda estão nos tempos da Mesopotâmia...
Como eu disse, até no Reino do Pineal eventualmente existiria um conflito que levaria ao estabelecimento de uma ordem.
Colocando aqui eu o ênfase em "conflito" que é o que surge normalmente da tentativa de aplicação dessas teorias utópicas bonitas no papel.
 
  • Like
Reações: bluemonday

bluemonday

Tribuna
4 Maio 2024
3,333
4,504
Conquistas
2
  • Reinaldo Teles
  • José Maria Pedroto
Como eu disse, até no Reino do Pineal eventualmente existiria um conflito que levaria ao estabelecimento de uma ordem.
A questão jurídica é mesmo, a meu ver, a maior fraqueza do anarquismo.

Se olharmos a ordem jurídica internacional, vemos que a sua eficácia é diminuta, precisamente por não existir um aparelho coativo que possa reprimir os infractores. E é uma ordem jurídica positiva, com algum grau de vinculatividade, imagine-se o anarquismo.

Além disso, desejo boa sorte aos anarquistas para conseguirem prevenir aquilo que consideramos como crimes. Se acham que vão lá através de conversa e mediação...enfim.

De todo o modo, acho uma ideia mais bela no papel do que o comunismo. Pena que não tenha qualquer efectividade.
 

bluemonday

Tribuna
4 Maio 2024
3,333
4,504
Conquistas
2
  • Reinaldo Teles
  • José Maria Pedroto
Se fosse um líder de um partido comunista, seria um Ventura de esquerda. Levaria um PCP desta vida aos 15% com muita facilidade.

É tão fácil tornar apelativo um discurso populista de esquerda, a questão é que os políticos dessa área estão muito fracos.
 

Dagerman

Tribuna Presidencial
1 Abril 2015
5,382
5,504
Sendo institucionalista e tendencialmente formalista, o anarquismo é algo que me repugna particularmente.

Mesmo um Reino do Pineal não é anárquico. É impossível a mais pequena das comunidades subsistir durante muito tempo desse modo.

Os anarquistas vão beber à teoria do direito natural, que a propósito não rejeito. No entanto, o direito natural tal como eles o concebem não é suficiente para regular o quotidiano. Os romanos perceberam isso há muito, mas os anarquistas ainda estão nos tempos da Mesopotâmia...
O direito natural é suficiente para regular o quotidiano, mas só em comunidades primitivas, nunca numa sociedade complexa (que a Mesopotâmia já era) e muito menos numa sociedade industrial.
Mas em teoria, e também na prática, é possível criar bolsas de comunidades anarquistas no seio duma sociedade complexa. Não costumam é durar muito tempo, e normalmente sucumbem a pressões internas, mais até do que externas. As únicas comunidades intencionais que conseguem subsistir como bolha dentro duma soceidade maior são comunidades unidas pela cola religiosa, como os amish ou os menonitas.
 

Edgar Siska

Presidente da Associação Ódio Eterno ao Panelas
9 Julho 2016
80,796
141,166
Conquistas
8
Ao pé da praia
  • Alfredo Quintana
  • Maio/21
  • Junho/22
  • Agosto/22
Foi o que pode arranjar na altura, mas é óbvio que a partir do momento em que a Inglaterra e a França optaram pela neutralidade, a república espanhola estava condenada.
O pessoal estava muito queimado da 1ª guerra, ainda estava no appeasement ao Hitler nessa fase. Se bem que a Alemenha e a URSS também assinaram a neutralidade e foram para lá fazer umas observações no campo, bombardear uns civis e tal.
A França até assinar ainda mandou uns aviões.
 
  • Like
Reações: Dagerman

Dagerman

Tribuna Presidencial
1 Abril 2015
5,382
5,504
O pessoal estava muito queimado da 1ª guerra, ainda estava no appeasement ao Hitler nessa fase. Se bem que a Alemenha e a URSS também assinaram a neutralidade e foram para lá fazer umas observações no campo, bombardear uns civis e tal.
A França até assinar ainda mandou uns aviões.
A Inglaterra sempre foi muito partidária da ordem, e portanto não admira que preferisse o Franco a um governo republicano com ministros anarquistas (e isto de anarquistas terem sido ministros é uma ironia histórica deliciosa), mas que a França, na altura governada por um frente popular de esquerda, não tenha mandado ao menos cinco caixas de granadas, é difícil de engolir.
 
  • Like
Reações: Edgar Siska

Edgar Siska

Presidente da Associação Ódio Eterno ao Panelas
9 Julho 2016
80,796
141,166
Conquistas
8
Ao pé da praia
  • Alfredo Quintana
  • Maio/21
  • Junho/22
  • Agosto/22
A Inglaterra sempre foi muito partidária da ordem, e portanto não admira que preferisse o Franco a um governo republicano com ministros anarquistas (e isto de anarquistas terem sido ministros é uma ironia histórica deliciosa), mas que a França, na altura governada por um frente popular de esquerda, não tenha mandado ao menos cinco caixas de granadas, é difícil de engolir.
Mandou uns caixões com asas (Potez54) e foi um pau.
 
  • Like
Reações: Dagerman

Moradona

Superior
18 Maio 2025
61
165
Não sou especial adepto do anarquismo, é inorgânico à natureza humana. A autogestão não passa de um sonho lindo, idealista, contemporâneo e parvo mas completamente impossível em cenários macro.
Bons para gerir o Reino do Pineal no máximo...e e e...há de alguém acabar por estabelecer uma ordem para os males dos sonhos utópicos Proudhonianos.
Isso de ser inorgânico ou não à natureza humana é perfeitamente irrelevante e o pior argumento possível. A violência é algo que faz parte da natureza humana, matar faz parte da natureza humana, violar faz parte da natureza humana, escravizar outros seres humanos faz parte da natureza humana, são todos comportamentos perfeitamente humanos, no entanto, desenvolvemos mecanismos para reprimir e punir este tipo de comportamentos de forma a vivermos em sociedade. O que não falta nas nossas sociedades são instrumentos de repressão da natureza humana. Também não faz parte da natureza humana viver ao ritmo do desenvolvimento tecnológico dos nossos tempos e no entanto vivemos. Portanto, é um argumento falacioso e facilmente refutado.

Mas acima de tudo isto dizer que o anarquismo é inorgânico à natureza humana é que é o principal erro. A nossa espécie tem sensivelmente 300 000 anos e as civilizações e sociedades com elevado grau de estratificação e estruturas de poder centralizadas começaram há cerca 10 000 anos. Durante o resto do tempo os seres humanos viveram em sociedades com modos descentralizados, igualitários e fortemente baseados na cooperação. Portanto, novamente o argumento da natureza humana, que é bastante raso, cai completamente por terra.

Um outro problema é o desconhecimento do que é realmente o anarquismo. Não tem rigorosamente nada a ver com o Reino do Pineal, ou com o Wild Wild Country. De forma bastante resumida, não é a negação de toda autoridade ou abolição completa do estado, mas sim o questionamento de toda a autoridade que não possa ser justificada. Além disso, dentro do próprio anarquismo existem diversas propostas e formas possíveis de organização social, todas baseadas na autonomia, na cooperação e na horizontalidade das relações.

Eu não sou a favor de mudanças revolucionárias e totalmente diruptivas como a abolição do capitalismo, mas da adaptação de determinados princípios do anarquismo.
 
  • Like
Reações: Dagerman

Moradona

Superior
18 Maio 2025
61
165
A questão jurídica é mesmo, a meu ver, a maior fraqueza do anarquismo.

Se olharmos a ordem jurídica internacional, vemos que a sua eficácia é diminuta, precisamente por não existir um aparelho coativo que possa reprimir os infractores. E é uma ordem jurídica positiva, com algum grau de vinculatividade, imagine-se o anarquismo.

Além disso, desejo boa sorte aos anarquistas para conseguirem prevenir aquilo que consideramos como crimes. Se acham que vão lá através de conversa e mediação...enfim.

De todo o modo, acho uma ideia mais bela no papel do que o comunismo. Pena que não tenha qualquer efectividade.
Mais uma vez, um argumento que nem sequer se aplica ao anarquismo, que volto a repetir, não é a ausência de ordem, nem de aparelhos e sistemas de punição para quem pratica crimes. Serem descentralizados não implica que não existam. Isso nem sequer faz qualquer
 

Vlk

Tribuna Presidencial
3 Junho 2014
17,110
7,406
46
Lisboa
A questão jurídica é mesmo, a meu ver, a maior fraqueza do anarquismo.

Se olharmos a ordem jurídica internacional, vemos que a sua eficácia é diminuta, precisamente por não existir um aparelho coativo que possa reprimir os infractores. E é uma ordem jurídica positiva, com algum grau de vinculatividade, imagine-se o anarquismo.

Além disso, desejo boa sorte aos anarquistas para conseguirem prevenir aquilo que consideramos como crimes. Se acham que vão lá através de conversa e mediação...enfim.

De todo o modo, acho uma ideia mais bela no papel do que o comunismo. Pena que não tenha qualquer efectividade.
Não que ache relevante no plano real, mas em teoria o estado final do comunismo Marxista é a abolição do Estado, logo a própria Anarquia. Só diferem na forma de lá chegar.
 

Moradona

Superior
18 Maio 2025
61
165
E só para que fique claro e não ser mal interpretado, até porque tivemos uma discussão interessante. Eu não sou a favor de criar uma revolução em Portugal ou qualquer outro país e aplicar uma sociedade de acordo a teoria política, social e económica anarquista, diminuir profundamente o estado ou tão pouco abolir o capitalismo, até porque isto acarretaria obrigatoriamente consequências catastróficas. Mas sou a favor de reformas, mudanças profundas, nestas sociedades cada vez mais desiguais, superficiais, vazias e materialistas que estamos a construir, especialmente no ocidente.

Também não gosto dos argumentos de que um determinado sistema político ou económico não poder ser aplicado por ser utópico. Será que isto tem assim tanto sentido? Nem o capitalismo nem as democracias são aplicadas, ponto por ponto, na forma como foram idealizadas. Tudo é adaptável e moldável às circunstâncias. O mesmo princípio da utopia poderia ser aplicado ao capitalismo, até porque não existem mercados livres e existem distorções e deturpações da própria teoria por fenómenos externos ao mercados. Tudo deve ser moldável e adaptável à realidade.

Mas esta sociedade em que vivemos, para mim pouco mais é que um jogo viciado, uma espécie de esquema Ponzi, e desde cedo somos condicionados e formatados para o jogar de forma obrigatória.
 
Última edição:
  • Like
Reações: Dagerman

Mike_Walsh

Tribuna
4 Janeiro 2024
3,567
8,099
O problema maior nem é o tempo lectivo, é o facto de os manuais de história serem muito mais ideológicos do que se pensa. A história está muito longe de ser uma ciência, e muitas vezes não é mais do que a interpretação dos acontecimentos proposta pelos vencedores. Por exemplo, a versão das causas da Primeira Guerra mundial que nos é dada na escola é completamente infantil. Um gajo saía do 9º ano acreditar que metade da Europa mergulhou num conflito ruinoso e que ceifou milhões de vidas só porque um príncipe qualquer foi assassinado na Sérvia. Ridículo. Entretanto, o papel dos banqueiros ou da monarquia britânica na instigação do conflito fica no segredo dos deuses, ou só é acessível a quem decidiu aprofundar conhecimentos lendo obras mais especializadas sobre o tema.
Tens razão, mas no 9. ano eles têm 15 anos e a maior parte deles nunca mais vai ter História na vida. Em qualquer disciplina, até ao 9. ano fala-se do básico.
Quem segue História no Secundário poderá ter oportunidade de aprofundar. Na Universidade não, porque nem se entra no séc. XX (pelo menos comigo foi assim).
 
  • Like
Reações: Dagerman

wolfheart

Tribuna Presidencial
30 Novembro 2015
6,323
7,687
Bragança
Há que ter cuidado com esse pessoal do interior. É com eles e com os indianos.
O interior todo elege que ? 20 e poucos deputados ? Em 200 e tal ? Parafraseando alguém aqui no fórum, são eles os responsáveis da ascensão do chega. Vão chegar possivelmente aos 60 deputados... Mas são os que elegem 20, maioria da AD os culpados.
 

Vlk

Tribuna Presidencial
3 Junho 2014
17,110
7,406
46
Lisboa
Mas isso não tem nada a ver com ideologias. Os meus pais eram PSD e eu sou de Esquerda e eles eram muito melhores do que eu.
Já que trazes a Igreja Católica à conversa, os princípios básicos da ideologia socialista e do cristianismo não são muito diferentes.
São ambas ideologias do bem. A Igreja Católica é do bem, mas olhas para o passado e vês a Inquisição e tudo o resto. O socialismo e comunismo é o que sabemos.
Até o papa Francisco disse: "Eles é que nós copiaram".
Fun fact: sou de esquerda porque fui educado segundo a doutrina cristã e os seus valores de "amor ao próximo" e de "solidadriedade com os mais desfavorecidos", blah, blah....

Faz-me muita confusão, durante a maior parte da História a igreja ter estado ligada às monarquias medieveias, aos absolutismos, aos impérios, ao colonialismo (nem toda a igreja mas a instituição), e ainda hoje em vários setores da igreja alguém ser cristão, olhar para estes valores e votar à direita e na extrema direita.

Na cena dos costumes entendo a divergência, na construção social é absolutamente contraditório esse posicionamento político.
 
  • Like
Reações: Mike_Walsh
Moradona

Moradona

Superior
18 Maio 2025
61
165
Fun fact: sou de esquerda porque fui educado segundo a doutrina cristã e os seus valores de "amor ao próximo" e de "solidadriedade com os mais desfavorecidos", blah, blah....

Faz-me muita confusão, durante a maior parte da História a igreja ter estado ligada às monarquias medieveias, aos absolutismos, aos impérios, ao colonialismo (nem toda a igreja mas a instituição), e ainda hoje em vários setores da igreja alguém ser cristão, olhar para estes valores e votar à direita e na extrema direita.

Na cena dos costumes entendo a divergência, na construção social é absolutamente contraditório esse posicionamento político.
Isso remete-me a Dostoiévski e ao romance "Os Irmãos Karamazov". Há um capítulo incrível em que um dos irmãos conta ao outro uma história em forma de poema sobre o regresso de Jesus Cristo à terra.

Muito sucintamente, a história passa-se numa Sevilha do tempo da Grande Inquisição e Jesus Cristo regressa à terra e começa a realizar uma série de milagres. No entanto, Jesus Cristo acaba por ser preso pela igreja por representar uma ameaça à ordem estabelecida. É levado para uma cela e interrogado por um cardeal que lhe diz que a igreja corrigiu o erro que ele próprio cometeu, dar demasiada liberdade aos homens, mas estes como são fracos e medrosos, não sabem o que fazer com ela. Jesus mantém-se sempre em silêncio e no final apenas beija a testa do cardeal.

É das críticas mais brilhantes à igreja como estrutura de poder e com uma profundidade extraordinária.
 
  • Like
Reações: Dagerman e Vlk