Bom não pelo Nobel que eu aplaudo o Saramago caro Kerouac (já agora gosto muito da Beat Generation!), aplaudo a pela sua obra. Uma obra original que não comete, como bem diz o Harold Bloom, o pecado de ter de matar o pai inspirador, ou seja sem sofrar da angústia da influência. É isso que define o Canon ocidental onde entram autores como Kafka, Musil, Shakspeare, Falkner ou Pessoa. Quanto à ideologia se vamos por aí vamos muito mal. A arte vale por ela. A partir do momento em que uma obra está concluida, já não é do autor, mas sim dos leitores, ou ouvintes, o espectatores, pois farão dela as suas particulares leituras. É por isso que Umberrto Eco fala da Obra Aberta, uma obra capaz de ser lida de muitas maneiras. Foi esse o sonho de Mallarmé, ser capaz de escrever uma obra passível de infinitas leituras. Borges também o tentou e Pessoa ou desdobra-se em muitos autores também o tentou. É evidente que Saramago não é comparável a Homero ou a Dante, mas eu pergunto e quem o é?Saramago é um autor português que espalhou a nossa língua pelo mundo, e deixou obras como o Memorial do Convento, ou o Ano da Morte de Ricardo Reis que podem rivalizar com qualquer grande obra do século XX. A questão da ideologia na arte foi um tema muito debatida e batido durante o século vinte desde os estudos de Luckacs até ao Goldmann. Hoje é um tema irrelevante na crítica literária, de arte ou músical. Senão teríamos o incómodo de ter o Picasso e o Miró comunistas, ou o Mayakovsky, ou o Chaplin...Teriamos a suprema maçada de levar com o Ezra Pound e o Marinetti fascistas ou o Celine, também fascista, o Carl Orff nazi ou o Herbert Von Karajan também nazi, o Pessoa monárquico ou o T.S.Eliott conservador católico ou o Kerouac budista, o Green católico, ou o Sartre ateu...Não é por aí que devemos ir. Há a obra e há o homem e as suas circunstâncias e é assim que devemos ver as coisas. Senão somos uns trauliteiros, ou uns Talibans destruidores dos grandes Budas só por que o pobre do Buda nunca ouviu falar de Maomet...Aliás Ratzinger esse ieólogo insuspeito é maior respeitador das obras de arte, e não tem os problemas teológicos/ideológicos de muitos talibans da nossa praça e até do nosso espaço de reflexão tão saudavelmente portista. Bem hajam a todos, pensem coomo pensarem.