Estórias da nossa história

H

hast

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Obrigado Jorgito pelas tuas palavras e pelo vídeo. É sempre bom rever e recordar as nossas grandes figuras.


Aquando da entrega da Taça, com todo aquele espectáculo degradante, lembro-me de o nosso Presidente ter dito mais ou menos o seguinte: \"Que lindo, a capital do império em todo o seu esplendor\".

Quanto ao resto, as mesmas moscas de sempre: paulo catarro, asqueroso como nunca e Sousa Cintra digno de um circo.
 
N

Nuno_SD

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> Jorgito Comentou:


Também não me esqueço do João Pinto, no meio das garrafas e das pedras a agarrar a camisola do FCP e quase que a pedir para mandarem mais umas pedras... :)

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Um momento inesquecível do nosso capitão. Vitórias com esse ambiente têm outro gosto, e muitos de nós estivemos lá e vimos o anti-porto existente naquele estádio.
 

fcporto56

Tribuna Presidencial
26 Julho 2006
7,173
0
Sacramento
> hast Comentou:

> Obrigado Jorgito pelas tuas palavras e pelo vídeo. É sempre bom rever e recordar as nossas grandes figuras.


Aquando da entrega da Taça, com todo aquele espectáculo degradante, lembro-me de o nosso Presidente ter dito mais ou menos o seguinte: \"Que lindo, a capital do império em todo o seu esplendor\".

Quanto ao resto, as mesmas moscas de sempre: paulo catarro, asqueroso como nunca e Sousa Cintra digno de um circo.
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Lembro-me bem disso.Na altura estava a haver uma aproximacao entre FCPorto e Sporting mas aquele episodio estragou tudo.
 
M

Mokiev

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A entrega da taça foi realmente surreal, digna dos filmes portugueses dos anos 50 ou 60 , em que o João Pinto joga praticamente ténis com a taça...
 
T

Tripeirofcp

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> hast Comentou:

> DOS (JOGOS) FRACOS NÃO REZA A HISTÓRIA
(Parte II)

Campeonato Nacional 1996-1997
Vitória SC 0-4 FC Porto
A jornada tinha o número 31. Nela o FC Porto jogava para um feito nunca dantes alcançado pelo clube – a conquista do tricampeonato.
A época brilhante com vitórias em Alvalade (1-0), Luz (2-1) e Milão (Liga dos Campeões) 3-2, uma equipa em grande forma e um super-goleador (Mário Jardel) eram indícios de que a tarde de 17 de Maio de 1997 poderia ficar na «memória colectiva» do Dragão como o fim de todo o sofrimento, de todos os «ses» e os «mas». Bastava ganhar. Bastava não custa muito a escrever, mas custa, muito, por vezes, a concretizar.
Bastava ganhar. Era isso. Fazendo-o, as três últimas jornadas com o Benfica e Gil Vicente (casa) e Sporting de Braga (fora) seriam de descompressão total. De festa permanente. De bandeiras desfraldadas ao vento. O jogo era no estádio com o nome do conquistador – D. Afonso Henriques – casa do Vitória de Guimarães, equipa difícil de bater, mas o FC Porto sabia que mesmo à chuva havia serenatas preparadas junto da «menina nua» e à volta de «D. Pedro», porque toda a cidade estava vestida de Azul e Branco para festejar. O sonho de tanta gente estava a noventa minutos e não poderia escorregar na chuva mansa.
E não escorregou! A exibição do FC Porto foi sublime. De Silvino a Drulovic, passando por João Pinto, Jorge Costa, Aloísio, Rui Jorge, Barroso, Paulinho Santos, Sérgio Conceição, Jardel e Zahovic, não houve um só dos eleitos para o jogo pelo treinador António Oliveira que tivesse ficado à margem do grande «show» dado no relvado vimaranense. Rui Barros, Artur e Domingos também ajudaram à festa. Mais que isso, ao festival Azul e Branco. Festival de imaginação. De fantasia. De golos.
Em nove minutos (entre os 60 e 69) saltam por três vezes as rolhas do champanhe e a festa começou. Até então vivia-se amarrado ao golo que Zahovic, de cabeça, marcara logo aos 25 minutos. Depois Jardel bisou (60 e 65) e Zahovic (69) fechou a vitória a sete chaves. Foi, provavelmente, a maior festa a que a Baixa assistiu desde a conquista da Taça dos Campeões Europeus dez anos atrás.
Fora 4-0 como poderia ter sido 5-0 (se aos 13 minutos Vítor Pereira não tivesse invalidado um golo imaculado a Jardel) ou 6-0, se no tempo de compensação o poste não travasse o remate de Domingos.
Uma noite perfeita com uma recepção apoteótica aos vencedores já a uma da madrugada ia longe!
Uma festa até à tantas que se prolongaria pelas jornadas finais. O FC Porto não tirou o pé do acelerador e despachou o Benfica por 3-1 e o Gil Vicente por 3-0, baqueando apenas em Braga, na penúltima jornada quando ficou a conversar com o travesseiro e foi derrotado por 2-1.

Luís César
in «Revistas dos Dragões» Junho de 2010

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Das primeiras recordações que tenho :)
 
H

hast

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Recordando José Maria Pedroto

A evocação de José Maria Pedroto, por ocasião do 25º aniversário da sua morte, resultou num momento de grande simbolismo Azul e branco. Muitas foram as vozes que se juntaram à homenagem colectiva do FC Porto e que destacaram as principais características do “Mestre”.
A familiares e amigos, todavia, pertenceram as palavras mais justas e acertadas. A “Dragões” recorda agora os textos sentidos escritos por quem privou de perto com o antigo treinador e os melhores momentos desse dia inesquecível. Um documento para a eternidade.

A Família
Passados 25 anos sobre o teu desaparecimento, a tua presença é hoje e sempre uma constante das nossas vidas.
Recordamos-te com vivida emoção na brandura do gesto, na cordura da palavra, na atitude sempre atenta e vigilante, no espírito de união e de família, na intimidade da partilha e dos afectos, veros guias inspiradores da tua forma de estar entre nós.
Recordamos-te ainda pelo teu exemplo de coragem e abnegação, pela constância e inquebrantável firmeza das tuas convicções, pelo sentido de honra e da dignidade, pela elevação e grandeza largos, pela inteireza enfim do teu carácter de ter sido todo em cada coisa.
Vela por nós, no jubiloso reino onde estiveres.
Viverás para sempre nos nossos corações.

General Ramalho Eanes
Tive a oportunidade – a grata oportunidade – de contactar, pessoalmente, José Maria Pedroto, na sua residência do Porto. Encontrava-se, ele, já então muito doente. Sabia, pela preparação que fiz para a visita a José Maria Pedroto, quem era ele no mundo do desporto. Fora um atleta reconhecidamente excelente; fora um treinador de vastos conhecimentos (o primeiro treinador português com um curso superior), sempre preocupado em bem ensinar e bem aprender (frequentava, com brilhantes classificações, um curso de treinador em França). Era um líder de exemplar exigência e carácter. Qualidades, estas, que, lhe acarretaram, por vezes, dissabores, lhe proporcionaram repetidos sucessos profissionais.
Aliás, a ele e a Pinto da Costa, que José Maria Pedroto fez regressar à liderança da equipa das Antas, se deve, mesmo, a construção de sólidos alicerces que sustentariam a ascensão fulgurante do Futebol Clube do Porto no contexto futebolístico nacional e europeu.
Na minha conversa com José Maria Pedroto ocasião tive de constatar como ele era culto, ousado e humilde, como narrava – com orgulho, é certo, mas sem qualquer vaidade – o seu percurso, os seus poucos insucessos e as suas muitas vitórias, uns e outros demonstrativos do seu forte carácter, como lia a realidade a «realidade» do nosso futebol, como esperança depositava no futuro do já então ambicioso Futebol Clube do Porto de Pinto da Costa.
Doente já, muito doente, a doença ocultava, respondendo espirituosamente às repetidas «provocações» do inalterado provocador que era o saudoso Coronel Aventino Teixeira, que, na sua visita a José Maria Pedroto, me acompanhava. José Maria Pedroto foi, para além de um cidadão exemplar, um excelente exemplo do que deve ser um atleta e um líder treinador, que ensina e dá o exemplo de dedicação e auto-exigência, e que, depois, com ética, exige, pune ou premeia, abrindo assim caminho para o sucesso confiante e sustentado.
Homenageá-lo é, em minha opinião, um acto de devida, de merecida justiça.

Jorge Nuno Pinto da Costa
Amigo José Maria Pedroto: Solicitaram-me umas linhas a propósito do dia 7 de Janeiro de 1985, que foi aquele em que você, fisicamente, nos deixou.
Pensei que estar a falar de si, por causa de se completarem 25 anos, desse, para nós, triste dia, podia levar-me a querer escrever algo de belo, que não me saísse do coração. Foi por isso que resolvi escrever-lhe, a si, para lhe dizer, que passados vinte e cinco anos, eu, a sua querida Cecília, os seus filhos, os seus amigos, temos muitas saudades suas.
Não seria preciso, porque você onde está, sabe-o bem, mas apetece-me dizer-lhe.
Lembra-se quando ia para o Apolo vê-lo jogar dominó, e ouvi-lo falar de futebol? E a epopeia da sua vinda gloriosa para o nosso Porto! Que bonita foi a conquista dos títulos e o tornarmos forte e respeitado o nosso Clube! Sempre tivemos uma amizade tão linda, que ao recordá-la me emociono!
Nunca tivemos segredos, sempre fomos leais e sinceros, exceptuando uma vez, que lhe vou recordar:
- Você ia para Londres, fazer exames, pela doença que o atacou. Eu sabia, você não.
Jogávamos em Penafiel, na véspera da sua partida para Inglaterra. O jogo permanecia empatado sem golos, quando, perto do fim, o Bobó, que você lançara pouco antes para ponta de lança, fez o golo da vitória. Abracei-o com lágrimas nos olhos, pois queria muito que tivéssemos mais uma vitória nesse jogo!
Lembra-se que me disse: - «Ó Jorge Nuno, parece que fomos campeões?!». E eu, na única vez que não lhe fui franco, respondi que estava eufórico por não gostar do Penafiel, para que não desconfiasse do que se estava a passar!
Ó Pedroto, recorda-se, quando já no mês de Dezembro de 84, me disse que havia vários jornalistas amigos que queriam escrever a sua vida, e me pediu opinião? Lembra-se do que me disse, quando o aconselhei a decidir o que pensasse querer?
Eu recordo-lhe - «Ó Jorge Nuno, o único que podia escrever a minha vida, era você, mas se escrevesse a verdade ninguém acreditava!».
Mas a sua vida foi tão bonita, tão vitoriosa, tão nobre, que se você estiver de acordo, um dia escreverei as nossas histórias!
Um abraço muito forte, do seu amigo,
Jorge Nuno Pinto da Costa

Alberto Teixeira
José Maria Pedroto, o mestre que para a tribo do futebol ficou ternamente conhecido como «Zé do Boné».
Mostrou ao longo da sua vida ser um fora de série, como praticante e como técnico, aproveitando ao máximo o seu capital de inteligência e saber, astúcia, combatividade, perícia técnica, percepção táctica, capacidade de chefia, sentido de humor e cultivo de amizade convivial.
Para além de tudo foi um homem com rara visão, o que lhe permitiu antecipar o rumo dos novos tempos político-sociais da democracia portuguesa iniciada em 1974, permitindo-lhe disputar em nome do FC Porto o poder bicéfalo lisboeta, a hegemonia do futebol português.
Mas mais que tudo foi um verdadeiro amigo, que muito me ajudou na minha juventude a encontrar com realismo os principais valores que têm norteado a minha vida.
Obrigado, senhor Pedroto.

António Oliveira
Para mim é um grande privilégio participar nesta merecida e louvável iniciativa do FC Porto, sobre a evocação da figura de José Maria Pedroto.
Homem de forte personalidade e carácter vincadíssimo era, à época, um estudioso do futebol profissional. Considero-o, inegavelmente, uma entidade muito à frente do seu tempo. Inspirador duma gestão desportiva moderna, fez da disciplina espartana uma das bases fundamentais do nosso grupo de trabalho.
Era um homem culto, sagaz e entusiasta, cujas polémicas ficaram memoráveis em toda a comunicação social. Num ambiente sociopolítico revolucionário, esteve sempre contra tudo e todos na defesa intransigente dos interesses do FC Porto. Tendo características de líder e sendo uma figura carismática nacional, conseguiu o respeito do país pelo FC Porto, Portistas e Portuenses. Estava criada a cultura e a mística para o sucesso que tem acompanhado o nosso clube.
A sua ambição, emoção, coragem e sonho serão sempre, para mim, uma grande referência.
Obrigado, José Maria Pedroto.

António Tavares Teles
Reza a tradição que o notável portuense António Aires de Gouveia (1828-1916), que prosseguiu com êxito uma carreira de eclesiástico, de docente e de político, disse um dia (vaidoso) de si próprio: «Estudante, fui lente; deputado, fui ministro; padre, fui arcebispo; e não fui general porque nunca fui soldado». José Maria Pedroto, que não era vaidoso, jamais diria a seu respeito uma coisa idêntica. Contudo, se tivesse seguido qualquer uma dessas carreiras, em cada uma delas teria seguramente chegado ao topo, porque era sem dúvida um estudioso extremamente inteligente, um mestre, e um líder natural como não conheci nenhum outro.
De resto, no seu domínio, não fez mais senão prová-lo.

Artur Jorge
Ainda penso que o futebol português vai avançando, vai ficando cada vez mais forte, os seus jogadores melhoram, os clubes tornam-se mais importantes, cada vez mais jogadores portugueses vão jogando bem, pelo Mundo inteiro. Muitos!
Tudo isto tem a ver com tantas coisas, muitas delas boas, com clubes, jogadores, treinadores que deram, durante toda a sua vida, um enormíssimo contributo para a importância do Nosso Futebol.
José Maria Pedroto, uma das pessoas mais fortes que conheci até hoje, melhor do que os outros, a surpresa de ser meu amigo, meu explicador, meu treinador, até colega.
As saudades que tenho dele.

Ferreirinha
A memória de José Maria Pedroto representa muito. Fomos sempre amigos de forma desinteressada. Ainda fui colega dele no FC Porto durante uma época e mantivemos uma boa relação ao longo dos anos. Como treinador profissional acho que atingiu o máximo. Estava bastante adiantado para a época. Mas também é bom não esquecer que foi um excelente jogador. Enfim, só posso dizer bem dele e lamentar que nos tenha deixado tão cedo, pois ainda tinha muito para dar à família e ao futebol.

Fernando Gomes
Conheci o Sr. Pedroto tinha eu 16 anos, ainda júnior, na Selecção Nacional. Mas foi no nosso FC Porto que atingimos os maiores êxitos. Guardo dele a imagem de um homem amigo, solidário e exemplar. Mas, também de um verdadeiro líder, com substância, em saber, em determinação e em segurança, que ficará para sempre no meu coração.

Fernando Moreira de Sá
Nascemos no mesmo ano, 1928. Conhecemo-nos no início dos anos cinquenta quando ambos éramos profissionais no FC Porto, ele no futebol e eu no ciclismo.
O Zé Maria Pedroto via muito para além dos outros e, na minha opinião, foi o maior treinador português de todos os tempos.

João Alves
Pedroto foi o meu “Pai Desportivo”, indo buscar-me ao Montijo directamente para o seu “Boavistão”, equipa fantástica talvez a obra-prima que qualquer treinador desejará formar a todos os níveis. Passados meses, lançou-me na Selecção Nacional para uma carreira internacional de longos anos.
A sua inigualável liderança, a sua personalidade, marcavam obrigatoriamente quem com ele convivia. È o meu grande guia e minha referência na carreira pela qual vim a optar mais tarde.
Obrigado por tudo grande mestre.

João Mota
Pedroto.
Conheci e tornei-me grande amigo de Pedroto na minha adolescência… Um privilégio.
Homem arguto, culto, rigoroso, de rara inteligência. Com uma visão que ia muito além da sua época. Mas, muito mais do que tudo isto: o Amigo, de um humanismo desconcertante. Viveu para a família e para aqueles que considerava e com quem trabalhava. Sem dúvida, o maior vulto do futebol da segunda metade do século XX.
Um Homem de bem!

José A. Da Silva Peneda
Tive o privilégio de conviver com José Maria Pedroto em tertúlias de amigos comuns, de que também faziam parte, entre outros, grandes figuras do FC Porto, Hernâni, Carlos Duarte e Ivo de Araíjo.
Pedroto era coerente nas suas convicções, implacável na forma como explicava as teses em que acreditava e excepcional como líder.

José Luís
Quando cheguei ao FC Porto, 1954/55, o senhor Pedroto era um dos jogadores de topo do futebol português. Tive, portanto, a honra de conviver com ele e com referências de uma geração como Virgílio e Hernâni.
Mais tarde, num período em que estive alocado à equipa de ciclismo, foi o treinador José Maria Pedroto que me trouxe de vez para o futebol., precisamente numa altura em que o FC Porto começou novamente a crescer. Foram anos fantásticos.
Recordarei para sempre um homem firme, um treinador que vivia para o futebol e um líder que tratava bem toda a gente que colaborava com o FC Porto. É, sem dúvida alguma, uma grande memória e um dos nomes mais importantes da história do nosso clube.

José Neto
È daqueles sentimentos que muito nos honram quando nos referimos a figuras tão ilustres que passam na nossa vida e nos legaram uma herança notável, quer ao nível da civilidade do Homem, quer ao nível da competência do Treinador.
Senhor Pedroto – um TREINADOR tão adiantado no tempo!... A sua máxima era: olha para o jogo e ele te dirá como deves treinar. Foi assim que nasceu uma avaliação credível e tratada ao nível das razões para uma aquisição de competências para a conquista do êxito.
Dessa dupla, com Jorge Nuno Pinto da Costa (Presidente Campeão dos Campeões), sobraram as razões que forjaram os alicerces de um FC Porto que continua a crescer continuadamente em direcção ao Céu… Quantas saudades!

Luís César
Pedroto foi único porque era diferente. Não sei se foi o maior e o melhor. Se ser maior e o melhor é sinónimo de ser único, então ele foi o maior e o melhor porque era diferente.
Nessa diferença foi único porque foi o melhor de todos. Por essa diferença foi temido e respeitado Exactamente. Por ser temido foi respeitado.
Temido pela visão estratégica, pela frontalidade, pela astúcia, pelo rigor e exigência, pela motivação. Pela competência. Respeitado porque respeitava. Sempre. Respeitava a profissão, o homem, o jogador, o jogo. No diálogo. No conflito. No trabalho. Por essa diferença foi amado e odiado. Porque o seu sucesso era inimigo do próprio sucesso. Gerava paixões e ódios.
Pedroto foi único porque era diferente. E porque era único e diferente, porque era temido e respeitado estará sempre entre os Grandes Mestres que, por serem diferentes, são únicos. E por isso vencem e convencem.
Como José Maria Pedroto. Como Mister Pedroto.

Manuel Sérgio
Só sabe de futebol quem sabe mais do que futebol. José Maria Pedroto sabia mais do que futebol, porque sabia que o Desporto Rei não é apenas uma técnica ou uma táctica, é também um estado de espírito, uma atitude perante a vida, a possibilidade de realização integral, na pessoa humana, dos seus mais autênticos valores.
Para José Maria Pedroto, também no futebol o homem é a medida de todas as coisas.

Mário Mano
Homem inteligente, frontal, correcto, defensor dos mais necessitados, capaz de uma guerra em defesa das suas ideias, grande protector da sua família, grande amigo que me deixou muita saudade.

FC Porto homenageia Mestre nos 25 anos da sua morte num dia/tributo com mais de 400 convidados entre família e amigos

O HOME QUE SABIA MAIS
José Maria Pedroto, o homem que revolucionou o futebol português, teria gostado de estar presente na sua própria festa de homenagem. E para todos – mais de quatrocentos convidados – os que marcaram presença na cerimónia do FC Porto a propósito dos 25 anos da morte do eterno Mestre, ele esteve mesmo ali. Pelo menos espiritualmente, tal a energia que brotou das palavras, das memórias, das imagens. Jorge Nuno Pinto da Costa, inseparável companheiro do «Zé do Boné», comoveu-se por diversas ocasiões na hora de revisitar o passado e teve, assumidamente, uma das intervenções mais sentidas da sua vida. Porque se falava de um amigo especial e de um profissional ímpar, para mais em redor do emblema Azul e Branco. Nunca uma personalidade da cena futebolística nacional foi tão decisiva, avançada, consensual. A actualidade do seu pensamento e da sua acção chega a provocar arrepios. «Este ano queremos dedicar-lhe a vitória no campeonato. Você vai ser campeão», prometeu o dirigente máximo do Dragão, olhando de frente para uma fotografia, em grande plano, do saudoso profissional. E como Pedroto rima com Portismo, deu nome ao auditório do Estádio numa celebração global com direito a missa, jantar e música clássica.
O revolucionário consensual…
No dia 7 de Janeiro evocaram-se os 25 anos do desaparecimento de José Maria Pedroto, inquestionavelmente o melhor treinador português de sempre. Para assinalar a efeméride, O FC Porto organizou um evento de tributo que juntou no Estádio do Dragão um verdadeiro mar de gente conhecida. Do círculo familiar e de amigos, mas também do futebol, afinal de contas o autêntico mundo de Pedroto, um homem que respirava desporto-rei quer como jogador, quer como técnico. Por entre a saudade e a alegria de recordar o Mestre, mais de quatrocentas pessoas fizeram questão de se associar ao convívio, partilhando factos e histórias deliciosas centralizadas na figura mítica. A viúva, Cecília, os filhos (Isabel e Rui) e os netos disseram «sim» à chamada clubística, auxiliando na perpetuação de alguém que até poderia ser encarado como mito, mas que se deu a conhecer como pragmático, justo e visionário. A veneração e o reconhecimento vieram de todos os quadrantes, mesmo dos «inimigos».
As sua máximas célebres, as suas análises conjunturais, os seus gritos desportivos, tudo foi revisitado e escrutinado perante uma audiência que nunca deixou de validar a genuidade da filosofia do Zé do Boné. O longo dia de reflexão e comemoração começou com uma missa rezada, pelas 18 horas, na Igreja das Antas. De seguida teve lugar a homenagem propriamente dita, onde se inclui o descerrar da placa – coberta por um boné gigante, numa piscadela de olho ao acessório indissociável do Mestre – que marcava o baptismo do auditório do Media Center com o nome de José Maria Pedroto. Posteriormente, realizou-se no camarote presidencial e o encerramento fez-se ao som de música clássica, na Tribuna VIP, com prestigiado violinista inglês Daniel Rowland a interpretar Vivaldi e Piazzola. O artista, que já actuou no Garnegie Hall (Nova York) ou no Royal Albert Hall (Londres), foi devidamente acompanhado por um ilustre ensamble de cordas e cravo.
Nos convidados destaque para a equipa técnica actual – Jesualdo Ferreira, Rui Barros, João Pinto e Wil Coort -, a que se juntaram os quatro capitães, Nuno, Bruno Alves, Raul Meireles, Mariano; da cúpula, seja da direcção do clube ou da administração da SAD, todos os dirigentes estiveram presentes. Artur Jorge, Carlos Queirós, Gilberto Madaíl, Valentim Loureiro, Joaquim Oliveira, Fernando Gomes, Rodolfo Reis, António Oliveira, Jaime Magalhães, Augusto Inácio, João Mota, José Neto, António Simões, Manuel António, Vítor Manuel, Neca, José Pereira foram uma amostra dos nomes sonantes, a que se juntaram ouras personalidades que privaram com o familiar, treinador e amigo. E do planeta do entretenimento, uma surpresa: Herman José, o criador do famoso «Estebes», que viajou propositadamente do Algarve ao Porto, para recordar um «adiantado mental, um homem que viveu à frente do seu tempo», confessando-se seu profundo admirador.
…a segunda pele
«Zé, vamos ser campeões». Esta foi uma das frases emblemáticas na intervenção sublime do timoneiro do FC Porto, que não se cansou de enaltecer a modernidade do falecido treinador, dentro e fora do relvado. E inspirado por antigas palavras de Pedroto, que sempre incentivaram a uma luta contra o poder central – e não falava somente de desporto -, Jorge Nuno Pinto da Costa afirmou claramente: Esta noite começa uma nova etapa, vamos ter em conta os ensinamentos que nos deixou e não nos vamos deixar intimidar. Hoje não são roubos de igreja, são roubos de catedral; vamos continuar a lutar contra o Pravda e o humor fedorento». E acrescentou: «Quero aqui dizer-lhe que os nossos adversários estão mais interessados em pôr dirigentes na Liga do que em vencer campeonatos», repetiu. Uma cumplicidade assumida, com o presidente do glorioso a recordar o Mestre como «um homem de grande paixão pela família, pelo FC Porto, pelo Norte e pró Portugal»,
Outra memória, que Jorge Nuno Pinto da Costa junta a tantas outras com a promessa de, um dia, colocar em livro: «Uma vez, um presidente do Benfica convidou-o para ir para a Luz. Pedroto estava no Guimarães e disse que só saía de lá para o FC Porto. Estou com saudades de Pedroto, mas também feliz. Foi o maior treinador português, e ainda é, mas foi sobretudo um grande homem e um cidadão exemplar. Não esqueço que nos tempos do Gonçalvismo foi candidato pelo PPD às legislativas e hoje parece que se esqueceram de si». O mais importante, para o líder Azul e Branco, «é que estamos aqui porque gostamos de si, tivemos o cuidado de trazer todos aqueles que queria que aqui estivessem. Passados 25 anos continuamos a tê-lo no coração. Queremo-lo aqui sempre». E até o Herman José veio, «que você tanto admirava. Um homem que cheira bem e não é fedorento. Tem um humor inteligente, porque, agora, o humor cheira mal. O Herman está aqui porque o estima».
A petição da moda também não saiu incólume no discurso, para mais quando fala um combatente e se homenageia um revolucionário: «Façam as guerras que fizerem, nós vamos lutar pela verdade desportiva, não é como aquela vergonha que aconteceu no fim-de-semana e, depois, vão à Assembleia da República por causa da dita verdade desportiva. É uma palhaçada». No hall da entrada do antigo departamento de futebol do Estádio das Antas pairava uma placa que dizia algo como: «as pessoas passam, o clube fica». As palavras eram de Pedroto, mas o Mestre não levará a mal se lhe dissermos que há excepções… Na linha das palavras de Jorge Nuno Pinto da Costa, o filho, Rui Pedroto, descreve-o como «um homem sem medo, justo, um líder exímio e um português de gema». Realçou a «atitude irreverente, o espírito aberto e curioso» e a «inteligência fina e a confrontação leal», para sublinhar, sem dúvidas, que «o FC Porto foi uma segunda pele para o meu pai».
Opiniões
«Pedroto era uma referência como treinador, com modelos de trabalho avançados. Ainda novo, vi muitos treinos dele no Estádio Nacional. Como homem brilhante que era, hoje em dia estaria perfeitamente actual. Estaria no topo dos treinadores»
Carlos Queirós
«Não era uma pessoa que gostasse muito de palestras. Preferia a acção. Recordo-me de quando cheguei ao clube e de ele perguntar ao plantel que tinha sido campeão. Só eu, mas no Benfica. Mas disse que vinha para ser no FC Porto»
João Fonseca
«José Maria Pedroto foi um pensador do futebol. Ele aliou o conhecimento à intuição. Hoje estaria actualíssimo. Para os grandes jogadores e para os grandes treinadores não existe distinção temporal, são sempre bons»
António Simões

Herman José e o FC PORTO
Revejo-me no estilo e na resiliência do combate
Não é associado nem presença assídua nas do Estádio do Dragão, mas diz-se intimamente ligado ao FC Porto. E percebe-se porquê. Especialmente depois de uma conversa descomprometida ou de uma troca de emails para estabilizar perguntas e respostas. Emblema e humorista partilham princípios e identidade e registam algumas páginas em comum. Alguém esquece as entrevistas de José Esteves a Jorge Nuno Pinto da Costa e José Maria Pedroto? A Dragões desafiou Herman José para uma troca de impressões forçosamente Azul e Branca. E esteve quase a «transformá-lo» em adepto fervoroso.

D - Esteve recentemente na homenagem a José Maria Pedroto e teceu palavras elogiosas acerca do FC Porto e do «mestre». Que significado teve para si a participação neste evento?
HJ – Foi um «3 em 1». Pude retribuir ainda que simbolicamente, a inteligência e a generosidade de um homem que foi decisivo na minha carreira humorística, abraçar o presidente Pinto da Costa por quem tenho um carinho especial, e ficar a conhecer um dos estádios mais bonitos do mundo.
D – Apesar de ter assumido que não morria de amores pelo futebol, costuma acompanhar o fenómeno? De que forma?
HJ – O futebol como actividade em si não me move, não imagina como lamento. Mas tudo o que ele movimenta, e o que ele representa nas sociedades é de tal maneira importante, que só um inconsciente é que se pode dar ao luxo de o ignorar. Faço um esforço cada vez maior, para estar a par dos seus problemas, das suas vicissitudes, das suas glórias. Foi em homenagem a esse mundo, que criamos – eu, o António Tavares Telles, e o Tozé Brito – a personagem do José Esteves, que o saudoso Pedroto sancionou com o seu sagaz bom humor
D - Sente que a figura de «José Esteves» o aproxima dos portuenses e dos adeptos do FC Porto?
HJ – Tudo me aproxima do Porto. Foi onde ganhei o meu primeiro dinheiro numa fase em que Portugal não funcionava de Rio Maior para baixo. Onde descobri as primeiras paixões. Onde saboreei as primeiras salas cheias de público vibrante e apaixonado. O Porto faz parte da minha alma. É natural que o clube que lhe tem servido de emblema em todo o mundo me arrebate por arrasto.
D – Jorge Nuno Pinto da Costa e José Maria Pedroto foram dois dos entrevistados pelo «Esteves». O que guarda desses momentos? Foi a partir daí que começou a simpatizar com o clube?
HJ – Eu nessa altura ainda não tinha atingido grande profundidade… Era muito novo, e tinha tanto em que pensar, que não me lembro de ter chegado a dar o devido valor è generosidade de tão emblemáticos cidadãos. Mas nunca é tarde para mostrar alguma gratidão! Foi muito emocionante ouvir palavras tão elogiosas da viúva de José Maria Pedroto, que não faz mais do que dar razão aos que aventam que «atrás de um grande homem, está sempre uma grande mulher…».
D – Sente que o sucesso que o FC Porto alcançou nos últimos 25 anos e as invejas que desencadeou tem a ver consigo, no sentido em que também foi, algumas vezes, vítima de sintomas de pequenez semelhantes?
HJ – Não me atrevo a compara os meus «pequeninos dramas» com as imensas dificuldades que um clube como o FC Porto teve de vencer, remando contra uma maré de vícios centralistas. Revejo-me no estilo e na resiliência do combate, mas não comparemos formigas com camiões TIR! (risos)
D – É abusivo considerar que, por tudo o que se aborda nas questões anteriores, sempre esteve «inclinado» para ser Portista?
HJ – Quando o presidente Pinto da Costa me mostrou o Estádio do Dragão a partir do camarote presidencial, senti um embate tão especial, que me atrevo a dizer que se gostasse de futebol, era bem capaz de andar de cachecol azul e Branco à volta do pescoço:
D – O Herman SIC com Jorge Nuno Pinto da Costa registou alguns dos momentos mais interessantes da série. O programa teve um remate de ouro com a declamação do presidente. São instantes que recorda com assiduidade?
HJ – Ainda no outro dia, em reunião com amigos da TVI, me recordavam as «dores de cabeça» que essa emissão lhes deu. Tivemos audiências avassaladoras, mas o que mais me encantou, foi a confiança que o presidente depositou em mim. Lembro que o programa foi em directo, durou mais de duas horas, e a única garantia dada, teve o valor simbólico de um aperto de mão. É tão bom quando duas pessoas de palavra se encontram. É que somos cada vez menos…
D – Se lhe pedissem para definir o FC Porto em tons de humor e me tons sérios, como o faria?
HJ – Em tom sério, o FC Porto é um símbolo, um orgulho, uma grande instituição… Em tom de brincadeira, poderia recitar uma quadra do Esteves:
Ó meu FCP valente,
Uma mensagem te trago…
Querem-te mostrar o dente?
A resposta é: «sempre em frente!»
Até os comemos «carago!»

in «Revistas dos Dragões» Junho de 2010
 
M

Mokiev

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O ISMAI costuma fazer um coloquio anual sobre futebol sob direcção do Prof. José Neto que realmente vale a pena, eu já fui a vários e um deles era mesmo dedicado a Pedroto e tive a oportunidade de ouvir histórias do mais incrivel sobre o Mestre Pedroto, os convidados são sempre do melhor, o Manuel Sergio costuma ser um dos convidados.
 
D

Dragão do Sul

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> DOS (JOGOS) FRACOS NÃO REZA A HISTÓRIA
(Parte II)

Campeonato Nacional 1996-1997
Vitória SC 0-4 FC Porto
A jornada tinha o número 31. Nela o FC Porto jogava para um feito nunca dantes alcançado pelo clube – a conquista do tricampeonato.
A época brilhante com vitórias em Alvalade (1-0), Luz (2-1) e Milão (Liga dos Campeões) 3-2, uma equipa em grande forma e um super-goleador (Mário Jardel) eram indícios de que a tarde de 17 de Maio de 1997 poderia ficar na «memória colectiva» do Dragão como o fim de todo o sofrimento, de todos os «ses» e os «mas». Bastava ganhar. Bastava não custa muito a escrever, mas custa, muito, por vezes, a concretizar.
Bastava ganhar. Era isso. Fazendo-o, as três últimas jornadas com o Benfica e Gil Vicente (casa) e Sporting de Braga (fora) seriam de descompressão total. De festa permanente. De bandeiras desfraldadas ao vento. O jogo era no estádio com o nome do conquistador – D. Afonso Henriques – casa do Vitória de Guimarães, equipa difícil de bater, mas o FC Porto sabia que mesmo à chuva havia serenatas preparadas junto da «menina nua» e à volta de «D. Pedro», porque toda a cidade estava vestida de Azul e Branco para festejar. O sonho de tanta gente estava a noventa minutos e não poderia escorregar na chuva mansa.
E não escorregou! A exibição do FC Porto foi sublime. De Silvino a Drulovic, passando por João Pinto, Jorge Costa, Aloísio, Rui Jorge, Barroso, Paulinho Santos, Sérgio Conceição, Jardel e Zahovic, não houve um só dos eleitos para o jogo pelo treinador António Oliveira que tivesse ficado à margem do grande «show» dado no relvado vimaranense. Rui Barros, Artur e Domingos também ajudaram à festa. Mais que isso, ao festival Azul e Branco. Festival de imaginação. De fantasia. De golos.
Em nove minutos (entre os 60 e 69) saltam por três vezes as rolhas do champanhe e a festa começou. Até então vivia-se amarrado ao golo que Zahovic, de cabeça, marcara logo aos 25 minutos. Depois Jardel bisou (60 e 65) e Zahovic (69) fechou a vitória a sete chaves. Foi, provavelmente, a maior festa a que a Baixa assistiu desde a conquista da Taça dos Campeões Europeus dez anos atrás.
Fora 4-0 como poderia ter sido 5-0 (se aos 13 minutos Vítor Pereira não tivesse invalidado um golo imaculado a Jardel) ou 6-0, se no tempo de compensação o poste não travasse o remate de Domingos.
Uma noite perfeita com uma recepção apoteótica aos vencedores já a uma da madrugada ia longe!
Uma festa até à tantas que se prolongaria pelas jornadas finais. O FC Porto não tirou o pé do acelerador e despachou o Benfica por 3-1 e o Gil Vicente por 3-0, baqueando apenas em Braga, na penúltima jornada quando ficou a conversar com o travesseiro e foi derrotado por 2-1.

Luís César
in «Revistas dos Dragões» Junho de 2010

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Das primeiras recordações que tenho :)

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Foi memorável!
 

ssm

Bancada central
6 Maio 2007
2,088
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deve ter sido bem emotiva e sentida a homenagem feita a Mestre Pedroto.

da entevista ao Herman José destaque o seguinte:

«Tudo me aproxima do Porto. Foi onde ganhei o meu primeiro dinheiro numa fase em que Portugal não funcionava de Rio Maior para baixo. Onde descobri as primeiras paixões. Onde saboreei as primeiras salas cheias de público vibrante e apaixonado. O Porto faz parte da minha alma. É natural que o clube que lhe tem servido de emblema em todo o mundo me arrebate por arrasto».

um enorme aplauso para o Estebes.
 
H

hast

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O brincalhão do MADJER e a grande «mentirola» sobre o Toyota de Tóquio

Como está na moda dizer (por tudo e por nada), então é assim – enquanto arrumávamos ideias e alinhavávamos, no bestunto, o guião desta peça, fomos desfolhando um «pequeno catarpácio» (passe o paradoxo) da autoria de Firmino Pereira, editado em 1914 e referente ao nosso Porto - Cidade.
Intitulado «O Porto doutros tempos – notas históricas, memórias e recordações», pensávamos nós que, ao longo das suas 314 páginas, pudesse, quem sabia lá, ter qualquer nota histórica relativa ao nosso Porto - Clube.
Intenções goradas. Sobre o clube nada de interessante nem de desinteressante. Simplesmente nada!
Sobre o Porto – Cidade é que não ficamos de mãos a abanar. Ficamos a saber que o Guichard «era o botequim onde se reuniam habitualmente os literatos, os poetas, os românticos» … «e que entre um cálice de licor e uma fumaça de charuto ali se decidiam os destinos da arte e da política». «De resto no Guichard (onde o italiano Trucco iniciara o tripeiro nas delicias do sorvete) muitas vezes sucediam casos trágicos de murros vingadores. Os poetas suspiravam mas também batiam… e levavam. E era sempre no botequim que essas batalhas de amor se feriam, aquecidas ordinariamente a cognac ou a licor de rosa que era o néctar predilecto dos moços apaixonados. Nesses tempos de balada e murro o botequim era o centro de toda a vida portuense. À volta de uma mesa compunham-se odes, combinavam-se raptos e planeavam-se conjuras.»
Ficámos a saber que havia, também, o botequim das Hortas (nele se reuniam «os homens de negócio, os mercadores, os contratadores de gado, Falava-se em comércio, em transacções, em coisas positivas e à noite jogava-se o quino) e que no botequim da Rua de Santo António pontualmente compareciam os actores do «Teatro Circo» e do «Baquet».
Nas páginas já amarelecidas desse «Porto d’outros tempos» conta-se, também, que o Porto teve «a sua época doirada de janotice, de literatura e de arte, nos tempos festivos do Brown, do Moré, do Guichard, dos botequins das Hortas e da Graciosa, dos Crateus e dos Calendres, do Águia de Oiro, das ruidosas ceias na Ponte da Pedra com cantoras e bailarinas.»
Águia de Oiro que era «o café das mais nobres tradições» da nossa cidade, visita obrigatória para todo o portuense com um nome na politica, no jornalismo e na arte. Foi nele que se «agitaram entre um cálice de cognac e um roque de voltarete (que era, acrescentamos nós, um jogo de três parceiros em que se distribuíam nove cartas a cada qual) as mais graves e complicadas questões que nesses tempos de acrisolado amor cívico mais preocupavam a alma nacional.»
Era o café de Guilherme Braga (sempre escrevendo versos com cognac por companhia), de Urbano Loureiro (bebendo copo de água atrás de copo de água ali redigia ao seus artigos para o “Tam-Tam”), da Tertúlia de Borges d’Avelar (dissertando sobre teatro entre dois goles de café), de Sá de Noronha (um ferrenho do dominó) e de tantos outros que surgiam apressados, tomavam o seu café e «logo sumiam como uma sombra».
Desculpem-nos os leitores por esta minha incursão pelo nosso «Porto – Cidade», desculpem-nos os historiadores da nossa cidade por ter metido o nariz onde não era chamado.
Mas sou um amante da história da nossa cidade e gosto de partilhá-la com quem faz o favor de me ler. «Porto – Clube» e «Porto – Cidade» caminham de mãos dadas e a história do nosso clube não se pode dissociar da história da nossa cidade.
Uma nota final sobre este «Porto d’outros tempos» para dizer que nesse Porto o Reimão (onde se ia comer as tripas e o caldo verde) foi o restaurante mais afamado que então a cidade teve. Foi fundado pelo francês Mr. Raimon que primeiramente se estabelecera com uma padaria dando a conhecer o pain mollet que o povo transformou em molete, esse mesmo povo que também «transformou» em Reimão o nome do afortunado industrial hoteleiro francês Mr. Raimon.
Fechado o «dossier – cidade» passamos ao «dossier – clube».

Madjer e o Toyota da Intercontinental de Tóquio
Lemos, há tempos, uma entrevista do nosso Madjer ao Jornal «i» que a certo passo nos deixou de boca aberta. Vinha na edição de 8 de Setembro, na página 44 e, conduzida por Rui Miguel Tovar, pretendeu marcar as bodas de prata da chegada ao Porto (8 de Setembro de 1985) de um dos mais notáveis jogadores da história di clube.
De evocação em evocação falou-se da chegada ao Porto pela mão de Lucídio Ribeiro, das «quezílias» com Artur Jorge, da família que era a equipa do Futebol Clube do Porto, das boas almoçaradas patrocinadas pelo André, dos golos mais bonitos que marcou (elegeu o melhor um de calcanhar ao Belenenses, na 1ª jornada do Campeonato de 1986/87 a cruzamento de Jaime Magalhães – recebeu a bola com o pé esquerdo e deu com o calcanhar direito), da vitória em Tóquio e… do Toyota!
E aqui chegados é que arregalámos os olhos e abrimos a boca de espanto. A propósito da próxima vinda do Madjer de férias e dos tais almoços organizados pelo «mestre» André, sempre na Póvoa de Varzim. Lê-se este certíssimo diálogo:
«Jornalista – Só na Póvoa de Varzim
Madjer – Pois é – Olha daqui a um mês lá estarei. Ao volante do meu Toyota.
Jornalista – Qual? Aquele que ganhou em Tóquio?
Madjer – Esse mesmo. Na final da Intercontinental – 1987, fui eleito o melhor em campo e ganhei o carro. Levei-o do Japão para Portugal e, desde então, nunca mais me desfiz dele. Está lá, guardado na garagem da minha casa em Vila nova de Gaia. Tenho o mesmo carro há 23 anos e está como novo. Nunca me deu problemas. Nem um!...»
Não acreditem, caríssimos amigos. O Madjer é um brincalhão e esta história uma «mentirola» pegada de todo o tamanho, que só tem de verdade o facto de Madjer ter sido, nessa final, eleito o melhor em campo e de o prémio ter sido um Toyota.
Tudo o resto é fantasia pura. Nem Madjer o trouxe do Japão (foi entregue pela Salvador Caetano ao FC Porto num evento especial do qual há uma profusão de fotos), nem o Madjer jamais se podia desfazer dele pela simples razão… de que não é dele, nem tão pouco está guardado na garagem da sua casa porque a sua morada sempre foi. No Estádio das Antas até se transferir para as garagens do Dragão onde está tranquilo, sem dar problemas alguns, é um facto, mas pela simples razão de que tem o estatuto de relíquia e não aos trancos e solavancos pelos buracos da cidade.
Foi ganho pelo Madjer (individualmente) com a ajuda (colectiva) de toda a equipa. E, em nome da verdade, convirá dizer que o nosso homem nunca quis o carro para si. Desde a primeira hora que, em cima da mesa, apenas havia duas possibilidades. Ou o carro era vendido e a verba distribuída por toda a equipa ou ficava na posse do FC Porto, para figurar no futuro museu como símbolo dessa grande conquista intercontinental. Com o acordo de todos prevaleceu a segunda hipótese – o carro é património do clube, permanece nas garagens do clube, e não tardará (julgámos) a ocupar o lugar que o clube sempre lhe destinou e que será o novo museu. A estória é rigorosamente esta sem mais ponto nem vírgula. A esta entrevista do Madjer haveremos de voltar numa próxima oportunidade, aproveitando as suas férias na cidade que o adoptou como um dos seus grandes ídolos. Até porque não nos parece que, como diz o artigo do Jornal «i», Madjer tenha vindo do «Tours, da 2ª divisão francesa.
Se o nosso «software» ainda está actualizado e dentro do prazo de validade, veio, sim, do MatraRacing, de Paris, clube que Artur Jorge viria mais tarde a treinar. Mas isso são contas de outro rosário, que nada melhor do que ser o próprio a esclarecer.
Hoje o importante era, face à citada entrevista, sossegar todos aqueles que contribuíram para que a organização da final de Tóquio premiasse um atleta de camisola Azul e Branca vestida e, consequentemente, viajasse para Portugal o Toyota que premiava o melhor em campo
O carro está onde sempre esteve, salvo uma ou outra saída para a necessária manutenção – nas garagens do FC Porto. Primeiro nas Antas, agora no Dragão. Bem conservado e bem tratado.

Homenagens e Inaugurações
Na sequência da nossa última crónica, e para finalizar, a divulgação da presença da nossa equipa nas mais diversas manifestações desportivas, para que era solicitado, vamos vasculhar os nossos arquivos e rever uma mão cheia de homenagens e inaugurações que tiveram o FC Porto como cabeça de cartaz.
Relembramos ao correr da memória, a homenagem ao leixonense Esteves (9 Novembro de 1974, no Estádio do Mar, com Aimoré Moreira a dirigir a equipa que derrotou o Leixões por 3-0, uma equipa Azul e Branca que integrava o defesa Nino, os já falecidos Ailton e Laurindo, o «cósmico» Seninho e o brasileiro Marco Aurélio), a homenagem a Moura do Boavista, que também já vestira de Azul e Branco (7 Junho de 1975, no Bessa, com uma gorda vitória por 5-1 com golos de Júlio (2), Gomes, Cubillas (2) integrantes de um onze que tinha na baliza o Quim, na defesa o Rolando, no meio campo o Rodolfo e no ataque o Flávio, cotado internacional brasileiro), a homenagem a Soares do Beira Mar (6 Junho de 1976 com Armando Paraty no manejo do apito, 3-1 a favor do FC Porto, e Mr. Stankovic na supervisão de uma equipa de luxo constituída por Tibi, Murça, Adelino Teixeira, Ronaldo, Gabriel, Octávio, Ailton, Oliveira, Cubillas e Dinis, o angolano que fora ídolo no Sporting), a homenagem a Artur do Vitória de Guimarães (4 Dezembro de 1976 no Municipal de Guimarães, com Mr. Pedroto a ver a equipa a triunfar por 2-1, com golos de Seninho e Duda), a homenagem a Celso, carismático massagista do Salgueiros (31 Dezembro de 1977, em Vidal Pinheiro, com Oliveira, Ademir, Seninho e Gomes a apontarem os quatro golos sem resposta – dois em cada parte – com que o FC Porto venceu o «Salgueiral amigo»), a homenagem ao ciclista Fernando Mendes, levada a cabo pelo Feirense (22 Agosto de 1978, no Estádio Marcolino de Castro – empate a um golo – com Vital a fazer gosto ao pé, número 9 de uma equipa que subiu ao relvado com Simões e Lima Pereira, Adelino Teixeira e Óscar, o paraguaio Gonzalez e os brasileiros Serginho, Marco Aurélio e Jairo), a homenagem a Domingos Nocas, do Infesta (10 Abril de 1982, em São Mamede Infesta, com a dupla Prof. Hernâni Gonçalves/António Feliciano no banco, a orientar um misto de juniores e seniores com Semedo, Ali Queita, Madureira, Gabriel, Bessa e Bobó (marcador do golo do empate 1-1) a figurarem na ficha do jogo), a homenagem a Óscar Marques, histórico treinador da miudagem do Leixões (15 Agosto de 19982, em Matosinhos, no Estádio do Mar, com Rodolfo a capitanear uma equipa de luxo com Tibi, João Pinto, Eurico, Jaime Pacheco, Frasco, Walsh, Sousa, Costa, Eduardo Luís e Romeu que triunfou por 2-0), a homenagem a Paulo Futre (10 Agosto de 1986, no Campo Luís Fidalgo, no Montijo, com Futre a fazer parte do onze que derrotou o Montijo por 6-1, com golos de Jaime Magalhães, Eloy, André, Quim (penalidade) e Madjer (2)já na era de Artura Jorge como treinador), a homenagem ao maritimista Noémio (19 Setembro de 1987, no Funchal, em jogo arbitrado pelo madeirense Teixeira Dória que na segunda parte assinalou duas grandes penalidades a favor do Marítimo – ambas falhadas – e apitou para o final com os Dragões a vencerem por 3-1, com golos de Frasco, Juary e Jorge Plácido, aplaudidos pelo técnico Tomislav Ivic) e, entre muitas outras mais, a homenagem a póstuma ao Comendador Gonçalves Gomes (5 Setembro de 1988, com o FC Porto a vencer, no Campo Manuel de Lima, o CD Monção por 4-2 e a desforrar-se daquela indigesta derrota de 1984 por 1-0. O técnico Fernando Santos escalou um bom onze com Costinha, Nélson, Fernando Mendes, Peixe, Mielcarsky, Folha, Artur, Jardel, Cjainho, João Manuel pinto e Carlos Manuel que venceu por 4-2, com os golos a serem apontados por Folha, Carlos Manuel, e os «miúdos» suplentes brasileiros, Da Silva e George (irmão de Jardel).

Faltam-nos as inaugurações que tiveram a chancela do Dragão. Foram tanta, tantas, sabemos lá quantas!
Quais recordámos? Primeiro, desculpem-nos, a inauguração da bancada do Campo Almeida Sobrinho, na minha (ainda) aldeia Santa Cruz da Trapa, na maior festa desportiva que esta agora vila algum dia conheceu (8 Outubro de 1978, vitória retundíssima, por 10-0, frente ao CD Santacruzense, com Óscar, Duda (2), Gonzalez (3), Jairo (2) e Metralha (2) a deitarem os foguetes que ainda hoje as velhas tertúlias continuam a ouvir estrelejar. Obrigado, amigos!), a inauguração do Estádio da Cerdeirinha em Cabeceiras de Basto (18 Setembro de 1982 frente ao Atlético Cabeceirense, aconteceu mais um daqueles resultados próprios de tomba gigantes, sem se saber muito bem como. O FC Porto recheado de vedetas – Tibi, Teixeirinha, Lima Pereira, Freitas, Jaime Pacheco, Rodolfo, Semedo, Vermelhinho, Júlio e Penteado (autor do golo) perdeu por 2-1 perante o olhar incrédulo do Prof. João Mota, impotente no banco para mudar o rumo dos acontecimentos), a inauguração da bancada do Campo da Avenida, em Espinho, (19 Agosto de 1984, vitória por 2-0 frente ao Sp. Espinho, com golos de Quinito e Vermelhinho), a inauguração do fecho do 3º anel do Estádio da Luz (22 Setembro de 1985, um jogo sem golos que marcou a estreia de Madjer como jogador e de Walsh como capitão da equipa de um onze com algumas que mal conheciam ainda os cantos à casa como Vitoriano, Celestino, Paquito, Zé albano e Paulo Ricardo, um jogo apitado por Vítor Correia), a inauguração do Estádio Prof. Vieira de Carvalho, na Maia (12 Outubro de 1988, com 0-0 no tempo regulamentar e o Boavista a ser derrotado apenas na marcação das grandes penalidades (2-3) com Domingos, Jaime Pacheco e Everton a acertarem na mouche e Branco e Semedo a falharem o alvo), a inauguração do Centro de Estágio de Melgaço (7 Outubro de 2001, jogo com o Sp. Braga, noventa minutos sem golos, e mais uma vitória conquistada na lotaria das grandes penalidades (4-3) com Bruno Alves, Hugo Luz (hoje a jogar na Roménia), Joca e o brasileiro Ferreira a marcarem e Pedro Nuno a errar a pontaria. Um jogo a que assistiu o então 1º Ministro Engº António Guterres e que teve Paulinho Santos como portador da braçadeira de capitão), a inauguração da iluminação do Estádio 25 de Abril, em Penafiel (2 Fevereiro de 1978, com vitória por 3-1 sobre o Penafiel), a inauguração da iluminação do Campo dos Olivais na Anadia (30 Setembro de 1978, com vitória por 3-1, com golos de Carvalho, Freitinhas e Vital, frente a um Anadia que jogou reforçado com Melo e Manaca do Vitória de Guimarães, Toni do Benfica, Eusébio e Simões), a também inauguração da iluminação do Estádio CD Aves (16 Fevereiro de 1991 com a equipa da casa a vencer por 1-0 um FC Porto que tinha o agora treinador Toni a lateral direito, como centrais Aloísio e Tavares, Kiki na linha média, como trio de ataque o brasileiro e atleta d Cristo Baltasar, o francês Paille e Jorge Plácido, cabendo a Abílio capitanear a equipa), a inauguração do relvado do Estádio Municipal de Famalicão (25 Agosto de 1977, em jogo com o Famalicão que terminou empatado (1-1)com central Teixeirinha a marcar), a inauguração do Complexo Desportivo dos Remédios, em Lamego (11 Dezembro de 1982, com o SC Lamego a ser derrotado por 5-0 e os golos distribuídos por Gomes (2), Sousa, Romeu e Júlio a serem conferidos pelo árbitro viseense Mário da Fonseca), a inauguração do relvado do Estádio Abel Alves de Figueiredo, em Santo Tirso, (12 Agosto de 1986, com o FC Porto a conquistar a Taça Cidade de Santo Tirso, mercê do sofrido triunfo (2-1) frente ao Tirsense com par de golos a cargo de Futre e Gomes e o golo a ser sofrido por Zé Beto, que ao intervalo substituiu Mlynarczyk), a inauguração do relvado do Estádio Vale do Romeiro, em Castelo Branco (12 Novembro de 1989, frente ao Benfica e castelo Branco, o FC Porto venceu por 4-1 com golos de Aloísio, o brasileiro Branco, Nascimento e Tulipa, então ainda júnior, integrantes de uma equipa que apresentou Barrigana, Miguel Bruno, Toni (um júnior que viria a sagra-se campeão do Mundo) e os brasileiros Paulo Pereira, Zé Carlos e Pingo) e, como último apontamento de uma listagem muito mais longa, a inauguração do relvado do Estádio Engº Carlos Salema (8 Setembro de 1991, num jogo em que o FC Porto derrotou o Oriental por 3-0, com golos de Neves, Ricardo e Tozé, teve arbitragem a três com Vítor Correia, António Silva e Pinto Correia, por esta ordem, a apitarem 30 minutos cada qual, foi o primeiro de Valente, guarda-redes, pelo FC Porto (hoje adjunto de Paulo Duarte na selecção do Burkina Faso), viu o jogo o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa Dr. João Soares dar o pontapé de saída e valeu ao nosso clube a conquista do Troféu Câmara Municial de Lisboa).

E pronto, por aqui me fico que o espaço não estica.
Deixo-vos naquele abraço e com um até à próxima me despeço, fazendo nossa (para tanto não teríamos engenho nem arte) esta máxima «versejada» do grande Garcia de Resende:

«O caminho fica aberto/ a quem mais quiser dizer/ tudo o que escrevi é certo/ não pude mais escrever/ por não mais ter descoberto.»

Luís César
in «Revistas dos Dragões» Setembro/Outubro de 2010
 
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Mokiev

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O Madjer Sr. Luís César veio sim do Racing de Paris, que na altura ainda não era Matra, só depois foi Matra alguns anos mais tarde, pode parecer a mesma coisa mas não é :)
 
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hast

Guest
A «Secret Story» do Ricardo

Já todos sabem que não gostamos de navegar à vista. Gostamos de ter, sempre, uma linha de rumo orientadora que funcione como fio condutor das nossas nótulas históricas e nos desobrigue de mudar tudo, a torto e a direito, em cima da hora.
Nem sempre, porém, isso se torna possível. Não porque não haja boa matéria-prima, não porque as evocações não sejam interessantes, mas, simplesmente porque valores mais se levantam. É o caso do apontamento desta edição, que nada tem a ver com o nosso planeamento inicial.
E porquê? Porque, com muita felicidade e muita emoção, recebemos um convite da administração do nosso FC PORTO para integrar a caravana da saudade e viajar até Viena para reviver «in loco» a conquista, há 23 anos, da Taça dos Clubes Campeões Europeus, quando o nosso clube era, ainda, um pigmeu entre gigantes. Se esse momento, em 1987, marcou uma viragem na história, este convite, em 2010, marcou um virar de agulha nos nossos planos. Não pelo reencontro com quase todos os que tornaram o sonho possível, mas pelo reencontro … com o Ricardo.
Não vale a pena fazerem um apelo à vossa memória, porque este Ricardo não faz parte do vosso imaginário, nem das vossas recordações. Não foi jogador, treinador ou dirigente, mas guarda o FC PORTO no coração e no coração guardou, também, todos aqueles que esta viagem a Viena lhe permitiu rever e abraçar.
Como cada um de nós, o Ricardo tem a sua «secret story» que começou a ser escrita nesse longínquo ano de 1987. E essa a nossa história de hoje.
Tudo começou em Lisboa, na Estação de Santa Apolónia, numa altura em que as viagens eram, a vida, feitas de comboio. À chegada entre muitos adeptos anónimos esperava-nos… o Ricardo. Ninguém o conhecia mas ele apresentou-se. Sem cartão-de-visita mas com muito sangue Azul e Branco.
Revelou-se Portista ferrenho, disse ser madeirense, não ter qualquer laço afectivo, viver na Casa Pia e ter um sonho – trabalhar no nosso clube. A revelação da sua história, sofrida, a todos contagiou. Os jogadores, sempre solidários, não deixaram que os bolsos do casapiano Ricardo continuassem vazios e os dirigentes deixaram-lhe a promessa que o seu sonho viria a tornar-se realidade.
Dito e feito. Cumpridos os trâmites mínimos, o Ricardo trocou o vazio de Lisboa e o seu vaguear errante pelas ruas e ruelas da capital por um emprego no seu clube do coração comoajudante do Sr. Nunes, à época o responsável pela manutenção do relvado das Antas.
Nada faltou ao Ricardo. Teve um contrato, um vencimento, descontos em ordem, alojamento, alimentação e amizade.
Durante muito tempo o Ricardo portou-se direitinho. Um dia, num acumular de muitos dias em que se portou mal foi impossível continuar o seu sonho e o FC PORTO «teve» que o devolver ao seu outro mundo. Com pena e sem outra saída possível.
Talvez por vergonha, o Ricardo nunca mais deu notícias. Dele se recordavam só já uma meia dúzia de quantos com ele priváramos naquela altura, desconhecendo por completo o seu paradeiro.
Pois…o Ricardo reapareceu. Reapareceu, vejam bem, em Viena. Confesso que ao primeiro relance não o reconhecemos. Cumprimentou muitos dos jogadores que há vinte e três anos lhe deram a mão. Abraçou-nos. «Senhor Luís César» disse ele. «Eu sou o Ricardo da Casa Pia».
Estava ali para matar saudades, agradecer o que todos fizéramos por ele, pedir um bilhete para o jogo com o Rapid. Dizer que os primeiros descontos da sua vida foram feitos pelo FC PORTO e que, embora continuasse sem conhecer a sua família verdadeira… já tinha constituído família.
Casou em Baião, trabalhou doze anos na construção civil na Alemanha, tem uma filha a estudar no ISMAI e há alguns anos que trabalha na Áustria, na sua arte. Faz contratos por cinco meses com cama, mesa e roupa lavada e ainda consegue mensalmente amealhar uns bons euros.
Estava feliz por nos rever e a todos queria dizer obrigado «muito obrigado».
Esteve connosco nas bancadas do Prater naquela tarde-noite gélida a saborear a vitória do FC PORTO.
Gostámos de o reencontrar e o Ricardo gostou de nos reencontrar.
É feliz agora.
Vinte anos passados voltou-se a fazer história e a história é feita, também, destas pequenas estórias como a do casapiano Ricardo.

Luís César
in «Revistas dos Dragões» Novembro de 2010
 
M

Mokiev

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Hast esse Ricardo seria o nosso 2º roupeiro anos mais tarde? Penso que se chamava Ricardo e nunca mais o vi, era um moço baixinho moreno, seria esse? Se não é o que foi feito dele?

Outro senhor que era uma imagem do nosso clube que ia buscar os nossos jogadores ao aeroporto, que os levava a todos os lados, figura dos anos 80/90 a quem os jogadores chamavam de pai, era um senhor para o calvo cabelo para o branco e que usava oculos, alguem sabe dele? Até ás concentrações das seleções era ele que levava os jogadores.
 
H

hast

Guest
Mokiev, esse Ricardo, 2º roupeiro, não tem nada a ver com \"este\" Ricardo. Deves estar referir-te ao Ricardo Brandão, que eu acho que é filho do antigo roupeiro Fernando Brandão, e que ainda está ao serviço do nosso clube.
 
M

Mokiev

Guest
O fernando esta ainda ao serviço é o senhor careca, o outroque era mais novo baixinho e moreno esse a mto não o vejo, deve ter pela minha idade eram dois roupeirosnos tempos das Antas agora só vejo o mais antigo....

E o outro senhor? Chamaria-se Domigos qualquer coisa? Nao me lembro! Terá falecido?
 
F

Francisco Oliveira

Guest
Curioso não ver aqui um tópico dedicado á primeira final das competições europeias. A final da Taça das Taças de 1984 com a Juventus em Basileia. Já sei que foi uma derrota mas na minha opinião foi o jogo e o ano da viragem do futebol em Portugal.
A minha \"estória\" é assim contada.
Nessa final perdemos com uma equipa que tinha \"apenas\" 6 jogadores campeões do mundo dois anos antes pela Itália. Mais Platini e Boniek que tinham lugar em qualquer equipa do mundo. Obviamente que os outros titulares tinham de ser também muito bons para poderem jogar ao lado dos já citados. Para além disso a Juventus teve um reforço alemão neste jogo que andava de apito na boca mas não interessa isso para esta estória.
Nesse mesmo ano e poucas semanas depois Portugal ia pela primeira vez a uma fase final de um campeonato da Europa. Com 4 treinadores no banco entre os quais António Morais. Portugal apresentou-se em França com 9 (em 20 jogadores) que disputaram a final de Basileia. Zé Beto não foi por ter sido
castigado pela UEFA no final do jogo de Basileia e Jaime Magalhães também não foi mas este ninguém deverá encontrar uma explicação racional. A minha é que o Porto não podia ter 50% da selecção. As raízes do regime ainda estavam muito fortes.
Neste campeonato da europa Portugal em pezinhos de lã foi indo, indo e chegou até ás meias-finais. Essa meia-final com a França estava já decidida para o mundo do futebol. A super poderosa selecção francesa a jogar em casa não ia dar hipóteses a Portugal. Nessa altura o meio campo francês era considerado o melhor do mundo: Fernandez, Giresse, Tigana e Platini. Mas do outro lado estava uma equipa do FCPORTO (tugal) que estava disposta a contrariar esse poder e vitória anunciados. Tinham começado 6 a titular e Gomes entrou durante a 2ªparte. O meio-campo constituido por Jaime Pacheco, Sousa e Frasco mostrou a quem quisesse ver que em nada eram inferiores aos considerados melhores.
E talvez a inexperiência portuguesa associada á ansiedade do final de jogo tirou a vitória que esteve quase acontecer com os galos na própria capoeira a serem depenados.
Mas na minha opinião foi a partir destas \"duas finais\" que finalmente podiamos pensar em ganhar uma competição europeia. O GRANDE PRESIDENTE PINTO DA COSTA percebeu bem essas derrotas e partiu para as conquistas que todos sabemos.

Por isso acho anormal não haver aqui um tópico dedicado a esta final de 84.
Se repararem bem a comunicação social nunca dá o destaque merecido a essa época. Nem á nossa equipa nem á propria selecção que ficou em 3º lugar no europeu. E percebe-se bem o porquê. Basta ver o destetaque que dão á campanha de 66 que teve também um 3º lugar no mundial. Mas como toda a gente sabe um mundial é quase um campeonato da europa + a Argentina e o Brasil.
 
T

Timofte 2-3

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> Mokiev Comentou:


E o outro senhor? Chamaria-se Domigos qualquer coisa? Nao me lembro! Terá falecido?



Sim, o Sr. Domingos, que aparece no vídeo do Madjer...penso que ainda \"cá\" está
 
F

Francisco Oliveira

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> Velasquez Comentou:

> Já se falou muito em Basileia, por acaso escrevi um post ao Mac que começava assim, Oliveira!! Gostei de ler.

Em relação a este topico, fica fora de tema.

Digo só isto: 84 só foi possível porque havia trabalho desde 1975/76.
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Concordo que o grande trabalho começou com o regresso do MESTRE PEDROTO á casa de onde nunca deveria ter saído e tinha ao seu lado no banco o chefe de departamento de futebol que se chamava JORGE NUNO LIMA PINTO DA COSTA. Mas após a frustrante perda do tri em 79-80 tentaram que tudo voltasse ao antes 25 de Abril. O chefe do departamento de futebol e o treinador foram chamados para que não podia continuar a falar contra Lisboa....e, o resto da história já sabemos. E a partir dos regressos de PEDROTO e de PINTO DA COSTA como presidente foi o arranque para o que se tem visto.
Mas quanto a mim foi na época da final de Basileia que se percebeu que se tinha condições para as conquistas que vieram acontecer.