Acordei ressabiado. Não por perder, mas pelo modo como perdemos.
Forest x FC Porto mexe mais na cabeça do que na tabela: dois penáltis sofridos, erros que não podem acontecer e a sensação de que a equipa ficou a meio caminho daquilo que pode ser.
O que me trava não é o marcador, é a ideia.
As escolhas feitas, a ausência de ligação entre setores, o último passe que falha quando o jogo pede critério…
E é sobre isso que vais ler neste artigo: o que falhou no pensamento, o que falta na execução e o que espero ver na reação.
Se Nottingham serviu para alguma coisa, foi para nos obrigar a olhar de frente o que andávamos a empurrar com vitórias. Agora, interessa-me a resposta.
O problema de Forest x FC Portocomeçou antes do apito inicial.
Quando vi o onze, percebi logo que íamos jogar contra nós próprios.
Mais uma vez, Farioli quis dar músculo ao meio-campo, e acabou por lhe tirar cérebro. Acredito que a ideia era equilibrar, mas o efeito foi o contrário: perdemos ligação, perdemos critério, perdemos o jogo na cabeça antes de o perder no relvado.
Esta versão do Porto ainda procura equilíbrio, mas há experiências que já provaram o seu limite. Sem Veiga, Mora ou alguém a pensar o jogo, o meio-campo torna-se um ginásio tático: muito suor, pouca circulação. A linha da frente é obrigada a baixar para ter bola, e cada metro que se recua é terreno oferecido ao adversário, e a equipa parte-se em dois.
O
Forest percebeu cedo onde mora um dos nossos problemas recorrentes, e foi direto a ele: o lado esquerdo. Continuamos frágeis e sem uma solução à altura. Cada incursão inglesa vinha com a confiança de quem sabe que pode sempre ganhar mais um metro… ou mais uma falta. Jogaram com isso. Sabiam que por ali havia um jogador impetuoso, com tendência para reagir mais com o corpo do que com a cabeça. Procuraram-no, provocaram-no, e obrigaram o treinador a mexer antes do tempo. E é aí que se nota quem estuda o adversário, e quem ainda se está a estudar a si próprio.
Mas isto não é sobre nomes. Seria fácil colar rótulos, injusto, até. Uma equipa mede-se pelo seu elo mais fraco, e o que me interessa aqui não é o erro individual, é a ideia geral.
Há um padrão que começa a preocupar: parece haver um jogador-fetiche que tem que entrar sempre, mesmo fora da sua posição, estou a falar do
Rosário. E o problema não é o jogador em si. É o que a insistência revela.
Ao forçá-lo a atuar onde aparentemente não tem rotinas, o treinador acaba por o expor e, ao mesmo tempo, por desalinhar toda a estrutura. O Porto perde fluidez, o jogador perde confiança, e o jogo passa a girar em torno de uma ideia que não o favorece.
É teimosia travestida de convicção, e já começa a custar-nos pontos.
Contra o Benfica, já tínhamos visto esta abordagem, a dada altura, em vez de tentarmos vencer, apostamos num meio-campo reforçado fisicamente, mas com pouca gente capaz de pensar o jogo.
Na altura, até se compreendia a opção. Era um clássico tenso, o Sporting já tinha empatado horas antes, o contexto pedia cabeça fria. Farioli sabia que uma vitória do Benfica daria a Mourinho o balão de oxigénio que a imprensa estava ansiosa por soprar. Nessas condições, colocar musculo no meio campo, parecia mais prudente do que o perder na ânsia de o ganhar, e acima de tudo, o treinador tinha margem para isso.
Mas repetir a mesma receita no Forest x FC Porto foi um erro.
O contexto era outro, o adversário também, e o jogo pedia ambição, não contenção. Afinal, tínhamos uma boa oportunidade de deixar para trás a malapata de nunca termos vencido em Inglaterra. Era um jogo “sem pressão” e foi precisamente por isso que custou tanto vê-lo jogar com medo.
Ao insistir na fórmula do “músculo antes da ligação”, Farioli acabou por amputar a equipa daquilo que ela tem de melhor: a capacidade de jogar com critério, de circular, de acelerar por dentro.
O resultado foi previsível: um Porto desligado, partido, com os avançados a vir buscar bola a trinta metros da baliza e o meio-campo a correr atrás da própria sombra.
É o tipo de padrão que precisa de ser quebrado, antes que se torne identidade.
A forma como insistimos em repetir o mesmo padrão e esperar resultados diferentes, precisa ser estancado. Precisamos perceber que o Porto não se constrói à base de teimosia nem de fetiches de um ou de outro jogador. A força pode ganhar duelos, mas é o pensamento que ganha jogos.
Se o treinador acha que Rosario é capaz nessa posição, ok! É legitimo, mas que treine durante a semana e só o coloque a jogar quando estiver pronto.