"Fernando pode correr menos e jogar mais"
ANDRÉ VIANA
Fernando não precisava de um golo para confirmar que, ao longo dos últimos meses, tem sido um dos melhores jogadores do FC Porto e do campeonato português. O seu tímido festejo, de punhos cerrados, denuncia essa mesma convicção, mas também não esconde o alívio de quem anda há anos a tentar dar uma dimensão mais ofensiva ao seu jogo. O criador do Polvo, Jesualdo Ferreira, concorda que Fernando não é um produto acabado, mas ao invés de lhe cobrar mais, o professor surpreende ao aconselhá-lo a ser capaz de menos! Confuso?
"Tacticamente, é um jogador feito e acho normal que tantos clubes o queiram. Com sinceridade, não vejo muitos no seu patamar a nível internacional", começa por dizer, concretizando a tal aparente contradição. "Evoluir é tornar-se mais racional no que faz, ele joga tanto que nem precisa de se cansar. Pode parecer estranho, mas parece-me que o Fernando pode correr menos e ser mais jogador. Se gerir melhor o que faz, vai conseguir fazer mais coisas de forma natural", sintetiza, identificando no golo ao V. Setúbal um exemplo feliz: "O Fernando é aquilo. É tão simples e tão eficaz ao mesmo tempo."
Antes de se esticar nas palavras sobre o brasileiro, Jesualdo Ferreira abre um parêntesis para desmentir uma ideia feita. "É falso que eu lhe limitasse o espaço, mas para mim o Fernando não é um médio de transição, mas de recuperação e equilíbrios", defende, logo reagindo à face visível que são os golos: "O Makelele, sendo um dos melhores médios do mundo, precisou que lhe deixassem bater um penálti para se estrear a marcar pelo Chelsea. E mesmo assim falhou-o, só marcou na recarga."
Factos que as características de Fernando só reforçam. "Os terrenos que ele pisa dependem mais da equipa do que dele. Se as linhas defensivas subirem, ele sobe. Quanto aos golos, lembrem-se de uma coisa: ele remata mal de fora da área", reforça, para recuar àquilo que mais lhe interessa e mais lhe enche as medidas no Polvo. "O futebol está hoje formatado para o duplo pivô. A maior parte das equipas joga assim, mas o Fernando vale por dois. Não sei como se adaptaria se tivesse alguém ao lado. O que sei é que, jogando sozinho, é brilhante", atira, sem poupar na adjectivação.
Depois de um final de época tremido e de um arranque adiado - "não sei o que se passou, nem me interessa", reage Jesualdo - Fernando tem sido uma das marcas mais positivas do FC Porto de Vítor Pereira. É natural, portanto, que o brasileiro possa também ser notícia, até final da época, fora dos relvados. Com um contrato que expira em 2014 e tendo já manifestado interesse em renovar, o médio de 24 anos pode começar a cumprir o desejo vincado em recente entrevista a O JOGO: "Por mim ficava mais 10 anos."
JOGO