Tens várias fontes sobre a data da fundação. Não sei como é que ainda pode haver dúvidas!
Nicolau de Almeida e o Foot Ball
Não há margem para dúvidas: o Foot Ball Club do Porto foi fundado em 28 de Setembro de 1893. Por um negociante de vinhos, fascinado por modernidades
Nas páginas, já puídas pela usura dos anos, de uma das primeiras edições da revista «CAÇA & SPORT» pode ler-se, em entrevista de Amadeu Muaze a Eduardo Almeida Coquet: «Já em 1891 e 1892 um grupo de rapazes, entre os quais António Nicolau d´Almeida, Fernando Nicolau d´Almeida, Vieira da Cruz, Lacy Rumsey, Artur Rumsey e George Dagge, vinha trabalhando afincadamente a favor da velocipedia. No primeiro ano, sob o nome de Clube Excursionista, e, seguidamente, em 1892, sob nova designação de Clube de Velocipedistas do Porto, tentam levar a efeito passeios e excursões em bicicleta, algumas corridas, fazendo uma boa propaganda à custa do seu enorme entusiasmo. Àqueles vêm juntar-se outros. Eduardo Rumsey, António Leite de Faria, António Tasso de Sousa, Benedito Ferreirinha, Carlos Rothes, Guilherme Anderssen, Pedro Amorim Júnior, Caetano Marques Rodrigues, Carlos Chambers e Jorge Nunes de Matos, completam o grupo dos apaixonados do pedal. O entusiasmo cresce, e, finalmente, o Velo Clube, pela junção de 44 sócios, ao Clube de Velocipedistas do Porto, passa a usar a designação de Real Velo Clube do Porto, que tinha as suas instalações no Palácio de Cristal. Durante o segundo semestre de 1893 entram muitos sócios, entre os quais figura Sua Alteza o Senhor Infante D. Afonso e, em fins do mesmo ano, Sua Majestade El-Rei concede a quinta do seu palácio da Rua do Triunfo para construção do velódromo, mostrando bem assim o grande interesse que as coisas de sport lhe mereciam.»
António Nicolau de Almeida! Com seu pai era sócio de uma empresa exportadora de vinho do Porto. E assumido sports-man. Praticante do portuguesíssimo jogo do pau, do remo e da natação. Em 1893 tinha 20 anos. Pouco depois de se lançar na aventura da fundação do Real Velo Club partiu em viagem de negócios para Inglaterra. Por lá entreviu o fascínio do jogo da moda. O futebol. Consigo trouxe algumas bolas e o desejo de lançar no Porto (fora dos circuitos sempre fechados dos ingleses aí radicados) o jogo. Era aventura. Era chique. E assim, esfriando um pouco o ardor que pusera no Velo Clube, decidiu, com alguns dos seus amigos das corridas de bicicletas, fundar outro clube. O Foot Ball Club do Porto. Data escolhida: 28 de Setembro de 1893. Nesse dia (não por dispiciendo acaso) o Rei D. Carlos festejava o 30.º aniversário e a Rainha D. Amélia o 28.º
A notícia do evento foi publicada, em cima da hora, pelo «DIÁRIO ILLUSTRADO», periódico de Lisboa, nos seguintes termos: «Fundou-se, no Porto, um clube denominado Foot Ball Clube do Porto, o qual vem preencher a falta que havia no norte do país de uma associação para os jogadores daquela especialidade. No segundo domingo de Outubro inaugura-se o clube oficialmente, com um grande match entre os seus sócios, no hipódromo de Matosinhos. Ouvimos dizer que serão convidados alguns clubmen de Lisboa. Que o Foot Ball Club do Porto apure um grupo rijo de jogadores e que venha medir-se ao campo com os jogadores do Club Lisbonense, do Real Ginásio Club, do grupo de Carcavellos ou de Braço de Prata, para animar os desafios de football como já o são as corridas de cicles. Eis o que desejamos.»
E, de facto, no segundo domingo de Outubro realizou-se o «match». O «JORNAL DE NOTÍCIAS» do Porto, de 8 de Outubro, anunciava em notícia de primeira página: «Realiza-se hoje, às duas horas da tarde, no antigo hipódromo um \'match\' de football, promovido pelo Foot Ball Club do Porto, tomando parte nesta diversão vinte e dois sócios do referido clube. Os dois partidos são \'capitaneados\' pelos srs. Nugent e Mackenie, distintos jogadores e sócios do referido clube. Tomam parte os senhores Fernando e António Nicolau de Almeida, Arthur, Lacy e Roberto Rumsey, Alfredo e Eduardo Kendall, Guilherme Anderson, Wlater Mac Connan, Barbosa, António Maria Machado, José Vale, Artur Ramos de Magalhães, Eduardo Sprakey, A. Johnston, Hans Peters, Jorge Hardy, Joaquim Duarte, Henrique Cunha e A. Vieira da Cruz, etc. Vêm assistir a este torneio as senhoras da colónia balnear da Foz. Este interessantíssimo jogo é uma novidade no Porto e há grande entusiasmo, tendo-se feito já algumas apostas.»
Oito dias depois, o «JN» inseriu, na sua segunda página, notícia dos treinos do F. C. Porto, acrescentando que, entre a assistência, para além das senhoras da colónia balnear da Foz, estavam, também, as de Leça e Matosinhos. Outras notícias se lançaram de dois jogos, um a 8 e outro a 15 de Outubro, contra o Clube de Aveiro, capitaneado por Mário Duarte.
O entusiasmo cresceu. E a 25 de Outubro de 1893, António Nicolau de Almeida, na assumida qualidade de presidente do Foot Ball Club do Porto, enviou ao presidente do Football Club Lisbonense uma carta que era um repto, mas pouco: «Desejando solenizar a definitiva instalação do Foot Ball Club do Porto resolvemos organizar um match quarta-feira próxima, 2 de Novembro, no qual tomasse parte um eleven do team do clube a que V. Exa. tão dignamente preside. Não temos, é certo, em virtude da pouca prática e nenhum training dos nossos jogadores um eleven de primeira ordem, capaz de fazer frente ao do Club Lisbonense. Como, no entanto, o n/convite não representa um repto lançado pelos n/jogadores aos jogadores de Lisboa, mas tão-somente o vivo desejo de estreitar relações de franca camaradagem, esperamos que V. Exas. nos revelarão a n/justificada imperícia. Cumpro, pois, na qualidade de presidente do Foot Ball Club do Porto, o honroso dever de convidar por intermédio de V. Exas. os valentes e adestrados jogadores do Club Lisbonense a tomarem parte no referido match. Na esperança de sermos honrados com a anuência ao n/pedido, aguardamos o favor de uma resposta rápida p.ª n/governo. Deus guarde V. Exas. Illmo. Exmo. Sr. Presidente do Football Clube Lisbonense.»
Anúncio dessa mesma carta seria estampado na página 3 do «Diário Illustrado», no dia 29 de Outubro de 1893. Foram linhas escritas por um primo de Guilherme Pinto Basto, presidente do Lisbonense, que, de tão bem informado, acrescentaria que, para a data proposta, não seria possível «reunir, escolher o grupo e dispor a partida em tão curto espaço de tempo», mas garantido ficava que o convite fora aceite.