Post do blog Do Porto com Amor aquando das anteriores eleições em 2016. Incrível como os problemas continuam os mesmos!
"Sem mais atenuantes à vista (e havendo, agradeço que faça o caro leitor a justiça de as apontar), consideremos ainda as agravantes extra-resultados:
1) A trajectória desportiva
A travessia de deserto iniciada com Paulo Fonseca não se começou a desenhar nesse momento. É indesmentível que foi a má opção de o contratar que mais determinou o seu próprio insucesso, mas convém não esquecer que o plantel que teve à disposição terá sido dos mais fracos deste século.
Mas recuemos ao pós-Dublin, para não ir mais longe - se quiséssemos, era fácil recuar ainda mais, até ao triénio sem campeonatos precisamente no virar do século, por obra e graça do insonso engenheiro do penta (secundado pelo agora tão exigente Rodolfo Reis) e do paupérrimo Octávio Machado. Surgiu Mourinho, um conjunto extraordinário de jogadores e as duas conquistas internacionais que ainda hoje de tanto orgulho nos enchem. E depois disso? Sete títulos de campeão nacional em onze possíveis. E pelo meio, nova conquista europeia com AVB. Excelente, dirá qualquer um. E, de facto, é muito bom.
O problema é o que com a saída de AVB terá emergido uma nova tendência (ou simplesmente retomada, segundo os mais pessimistas) que sugere a decadência da gestão desportiva: plantéis sucessivamente mais fracos, más escolhas de treinadores e apostas insustentáveis de "fuga para a frente", como aconteceu na época anterior a esta. Algo que nem a tão desejada conquista deste campeonato poderá voltar a tapar.
2) A incapacidade de combater o #colinho
Na verdade, não sei se se trata de incapacidade, falta de vontade ou impossibilidade de o fazer. Mas sinceramente não me interessa. Interessa-me, sim, o que ressalta à vista de todos: o actual e quase absoluto domínio do Benfica das instâncias desportivas, desde a arbitragem à justiça desportiva. Se o presidente está de alguma forma condicionado pelas investigações a que foi sujeito no Apito Limitado, pois então deveria ter encontrado alguém que o pudesse fazer por ele. E se não está, bom, então será mesmo incapacidade. E avisos não faltaram.
3) A evolução da situação económico-financeira
O admirável mundo (de novo-riquismo) que se abriu após a conquista da Champions em 2004 levou a que se apostasse em definitivo num modelo de gestão altamente alavancado e portanto, de alto risco, em que todos os exercícios se baseiam em receitas "extraordinárias" para que acabem equilibrados. Passou a ser essencial uma boa prestação europeia que permita valorizar os activos (jogadores) ao ponto de possibilitara encaixar mais-valias sucessivas com os melhores de cada plantel.
Mas até este modelo foi sofrendo alterações significativas, com a compra de jogadores cada vez mais caros, oferecendo-lhes salários cada vez mais elevados e, mais recentemente, reduzindo as participações do clube nos direitos económicos dos jogadores. Tudo no sentido de aumento do risco. Ao ponto de a situação presente ser perto de explosiva, como tão bem o Tribunal do Dragão explicou neste artigo. É demasiado risco para tão pouco proveito. Gestão imprudente, no mínimo.
4) O clientelismo e a falta de transparência
Este ponto é uma lástima, dá-me voltas ao estômago ter que o reconhecer. Mas é preciso fazê-lo. É por demais evidente e está plasmado nos sucessivos R&Cs, para quem os quiser aprofundar.
Vou-me focar apenas em Alexandre Pinto da Costa, que não sendo o único, será o mais paradigmático. Não sei nem quero saber se tem outras fontes de rendimentos, mas o que é factual é que só aquilo que o clube lhe tem dado a ganhar permite a qualquer pessoa viver muitíssimo bem. Como é evidente, não é o facto de ser filho do presidente que está em causa (embora apenas essa condição os obrigasse a serem absolutamente transparentes em todos os negócios, para que não suscitassem dúvidas a ninguém). O que está em causa é o valor que a pessoa acrescentou em todos esses negócios pelos quais recebeu comissões do clube. De novo, cinjo-me ao exemplo mais emblemático: 500.000 foi quanto terá recebido pelo regresso de Quaresma ao clube. Sendo o jogador livre naquela altura, o que poderá Alexandre ter feito para justificar tão avultado pagamento?
Dentro e fora do clube, criaram-se muitos vícios ao longo dos anos e a sensação que hoje tenho é a de que muita gente lá dentro se julga inimputável ou, pelo menos, acima de qualquer escrutínio ou auditoria independente. E isso não é aceitável.
5) O crescente distanciamento dos adeptos
É raro o associado portista que não se queixe. Desde os mais fiéis, que vão ao estádio jogo sim, jogo sim, aos que apenas visitam o Dragão quando podem. O clube que outrora os cativou e os fez parte da família através daqueles valores que julgávamos garantidos, hoje trata-os como meros clientes, espartilha-os pela justa medida das suas bolsas e recusa-se a tratá-los como aquilo que são: os verdadeiros donos do clube.
Não será um fenómeno exclusivo do Porto nem tão pouco fácil de deslindar. Houve a obrigatória modernização, a consequente empresarialização do clube e contratação de profissionais. Tudo factores que sugerem distanciamento e perda de identidade. No entanto, um clube nunca poderá ser igual a uma qualquer empresa, porque há um lado emocional, afectivo que se sobreporá sempre à gestão impessoal; no mínimo, terão de coabitar pacificamente.
E nestas coisas o exemplo vem sempre de cima. Se o pessoal que atende os telefones é pouco simpático, se quem nos atende cara-a-cara é pouco compreensivo, se quem nos tenta vender uma camisola (ou nem isso) pouco percebe sobre o emblema que leva agarrado, não é apenas por deficiente formação ou má política de recrutamento. É porque esses tais valores portistas não são os 10 mandamentos com que todo e qualquer funcionário se depara desde o seu primeiro dia de trabalho, porque se não os souber ou simplesmente os ignorar, não há outros que o chamem à atenção e o ensinem a bem ou a mal. Falta sim, cultura de tratar os portistas como aquilo que realmente são: uma segunda família. Mas como, se no topo o que é mais visível é a própria família de quem comanda?
Com tudo isto somado e avaliado, a minha posição é simples. O clube precisa urgentemente de novo(s) projecto(s) de liderança. E por urgência refiro-me a estas próximas eleições. Não sei se os apoiarei ou não, caso apareçam, tudo dependerá do que trouxerem para cima da mesa. Mas o que não deixarei de fazer é de as estudar e comparar, dando eco posterior da minha análise. E mesmo que não me identifique com elas, alguns méritos ninguém lhes poderá retirar: o de suscitar o debate, o de demonstrar que há outras vias e o de por em sentido a actual direcção."
https://doportocomamor.blogspot.com/2016/03/eleicoes-no-fc-porto.html