Não concordo nada quando se diz que não se deve criticar o treinador pelo que se passou ontem. A análise tem que ser feita em todas as dimensões e tempo de jogo.
Já elogiei e continuarei a elogiar ao FCPorto que ontem entrou em campo frente ao Benfica, o que o FCPorto fez foi muito bem feito, foi a melhor exibição que vi uma equipa fazer em Portugal esta temporada. Futebol dinâmico, repleto de intensidade, mobilidade, criatividade, velocidade no último terço, circulação a toda a largura, exploração do jogo interior, pressão alta sufocante sobre o adversário, se o Benfica foi a pobreza que foi, foi graças ao que o FCPorto fez, aqui, enorme elogio ao treinador e à prestação dos jogadores. O problema foi após o golo.
- O FCPorto marca através de Diogo Jota e após esse momento, faz mais meia dúzia de minutos muito bons, a equipa estava muito bem, não estava a ressentir-se fisicamente e não se entende porque é que o treinador faz uma substituição aos 67 minutos (Corona por Ruben Neves) defensiva e que passou claramente à equipa um sinal negativo.
- A partir da substituição de Ruben Neves, o FCPorto perde um jogador de dinâmica ofensiva como Corona e ganha mais um trinco de construção e circulação. O problema aqui é que o FCPorto recuou, baixou todas as linhas e entregou a iniciativa ao adversário. Ficando o jogo nesta situação, a entrada de Rúben Neves não fez qualquer sentido. O FCPorto com Ruben Neves ganharia um elemento positivo se a estratégia passasse por ter bola e fazer circulá-la a toda a amplitude.
- Aos 76 entra Miguel Layun para o lugar de Oliver Torres. Se se entende a entrada de Layun, não se entende a saída do elemento que estava a ser o melhor do FCPorto em campo e não apresentava quaisquer sinais de quebra. E continuo a achar que foi mais uma substituição prematura por parte do treinador do FCPorto.
- Cada substituição de Nuno dava sinais claros à equipa de defender cada vez mais, recuar cada vez mais e abdicar de atacar.
- Aos 87 entra mais um centrocampista para o lugar de Diogo Jota, desta vez Herrera. Quando o FCPorto necessitava de colocar gelo no jogo, ter alguém capaz de segurar a bola, entrou um jogador que era precisamente o oposto. Nem vou falar no erro que cometeu e que resultou no 1-1.
- Todas as alterações promovidas pelo Nuno após o golo foram contra-natura e aproximaram cada vez mais o Benfica da baliza do FCPorto sem sequer fazer nada que o justificasse.
- Claro que sem o erro de Herrera o Benfica não teria chegado ao empate, no entanto, foram essas alterações na equipa que possibilitaram isso, que aumentaram as probabilidades do Benfica marcar mesmo num lance fortuito.
Conclusão:
Nuno esteve exemplar na preparação e operacionalização da equipa para o jogo, provavelmente terá até surpreendido todos os portistas e a forma como o FCPorto jogou durante 60 minutos é um sinal claro de que há qualidade e capacidade para fazer muito mais, quer da parte da equipa, quer da parte do Nuno.
O resto do jogo demonstrou o que está mal, mais uma vez, e o que está mal, é a mentalidade do treinador. Não sei se irá mudá-la ou não, provavelmente não, mas se não mudar, o Nuno nunca terá sucesso no FCPorto.
O FCPorto neste último jogo estava a dominar por completo as operações, a equipa do Benfica estava animicamente completamente de rastos, o FCPorto estava a jogar em casa com um grande apoio do publico, a equipa estava bem e após o golo não aparentava sinais de quebra quer física, quer emocional, quer táctica e técnica. O problema esteve na mentalidade do treinador e na forma como ficou com medo quando Rui Vitória mexeu na equipa. Nuno nunca deveria ter mexido em função das alterações do Benfica, mas sim em função do que a sua equipa estava a produzir em campo.
Tacticamente a equipa do FCPorto estava muito bem, exemplar, as alterações alteraram por completo o contexto, quando o que Nuno deveria ter feito eram alterações de jogadores posição por posição para refrescar a equipa numa fase mais adiantada do jogo quando este o justificasse.
O pecado capital de ontem é o pecado capital de Nuno ao longo da época, a mentalidade da equipa em vantagem no marcador.
Se podem existir momentos em que se justifica recuar linhas, como por exemplo, jogando contra adversários mais fortes, jogando em terrenos complicados fora de casa, ou quando as coisas não estão a correr bem a nível exibicional e há insegurança nos jogadores, pode perfeitamente justificar-se que se recuem linhas e se defenda com tudo.
Agora, numa equipa grande, numa equipa como o FCPorto, quando é claramente superior ao adversário, quando a equipa está completamente por cima, quando joga em casa o FCPorto não pode adoptar essa atitude, é contraproducente e aproxima o adversário do golo.
Com tudo isto, há que dizer, o Nuno se quiser, pode fazer um excelente trabalho no FCPorto, para isso tem de mudar esta mentalidade. Não mudando, nunca resultará porque vai contra a própria natureza do jogo.